Dimitri falou sobre as falsas escolas que frequentou e inventou o nome de uma pequena província de onde afirmou ter vindo. Falou de suas fantasiosas experiências com dança e acabou caindo nas graças de Joane. A mesma nem acreditava que não precisaria mais entrevistar tantas pessoas. Tinha absoluta certeza de que ninguém em Lindúvia seria tão bem preparado quanto o homem à sua frente.
–Certo, Sr. Lorenzo. O senhor me parece muito capacitado para ministrar as aulas para a princesa. Escreva aqui seu endereço atual para podermos mandar o mensageiro avisar o início das aulas. A rainha tem pressa.
Dimitri escreveu o endereço da hospedaria e logo abaixo assinou seu nome fantasioso. Joane não escondia sua satisfação com o homem. Torcia pra que desse tudo certo. Dimitri se despediu com um beijo na mão de Joane, colocou seu chapéu e se retirou. Até arriscou assoviar quando já estava fora dos muros do Palácio. Estava tudo tão fácil...
...
Joane terminou de entrevistar o quinto candidato e teve a absoluta certeza de que "Lorenzo" seria o mais indicado para a vaga. Recolheu suas coisas e seguiu à procura de Rosalie. A mesma amanheceu gripada e por ordens da rainha não poderia sair do quarto. Bateu duas vezes na porta e entrou após ouvir a autorização da garota.
–Acho que já temos seu novo professor.–Declarou Joane.–Você vai gostar dele assim como gostava do falecido.
–Veremos...–Praticamente sussurra.–Não suporto ficar doente. Me sinto uma inválida.
–Não abra a boca pra falar besteiras, Rosalie!–Repreende a garota com a voz firme.–Você não tem ideia do que é ser inválida. Deixe de lamúria sem justificativa. Vamos, você precisa lavar o corpo.
Aos resmungos e com o corpo dolorido, Rosalie segue para o banho. Joane mais parecia a mãe de Rosalie do que a rainha. Talvez o salário de Joane fosse bom justamente por isso. Ela era uma mãe substituta. Rosalie enxergava bem isso.
–Como é o professor?–Rosalie penteava seus cabelos enquanto Joane escolhia uma roupa.
–Muito vistoso, físico forte, dentes alinhados... Parece ser muito bom no que faz.
–Você descreveu um cavalo puro sangue, Joane.–Gargalha sem nenhum pudor ganhando uma expressão amarga de Joane.
–Ele parece inteligente, Rosie. Pronto!
As duas se limitaram a tomar chá e conversar sobre coisas que os homens gostam de ouvir. Joane agora estava incubida de preparar Rosie para o casamento. Até ela achava essa missão enfadonha.
...
Dimitri, depois da entrevista, seguiu para se reunir com os poucos homens que tinham atracado em Lindúvia. Precisava direcioná-los melhor.
–Preciso que vocês deem prejuízo para Lindúvia. Quero alguns dentro do Palácio realizando pequenos furtos, preciso de uns dando golpe nos comerciantes e outros sendo apenas bons coletores de informações sigilosas. Acredito que exista algum movimento anti-monarquia por aqui. Quero gente nossa lá infiltrada. Precisamos de raízes fortes aqui.
–E você, capitão?–Um dos homens questiona a Dimitri.
–Terei carta aberta para entrar e sair do Palácio. Serei o novo professor da filhinha do Zanetti.–Todos riem.–Enquanto brinco de professor, coleto informações e me infiltro por lá. Nada melhor do que conhecer o inimigo estando debaixo do teto dele.
Algum tempo depois os homens se dispersaram prometendo mandar notícias como puderem. Dimitri e Túlio ficaram observando o mar revolto.
–Até o pouco que ele tem eu quero que lhe seja tirado.–Diz o capitão alisando sua barba.–Não tem vingança melhor do que ver a humilhação e a derrota de um homem. Eu sei bem disso. Não foi pelo ouro, Túlio, mas pelo que ele me fez passar. Só por isso.
Túlio assente e depois de um tempo os dois retornam para a hospedaria. Túlio, como prometido, estava dormindo com a dona do local. Mesmo casada, ela não rejeitava o homem forte e atrativo aos olhos. Esses encontros estavam rendendo aos dois uma diária no valor de duas moedas de prata. Estava perfeito!
...
Era noite e Rosalie já sentia-se melhor. Seu irmão estava chegando hoje do período de férias que a rainha tinha permitido. Um jantar quase que dos deuses estava preparado para o pequeno reizinho.
–Não entristeça seu irmão com essa sua cara azeda, Rosalie.–Tânia dá um peteleco na cabeça da sua filha.
–Certo, rainha.
Rosalie se afasta um pouco e vai observar o tempo lá fora. Amargou a indiferença que algumas vezes lhe incomodava. Era difícil não dar importância para todo sentimento negativo que recebia de sua mãe, que fazia questão de ser chamada de rainha.
–Ele chegou!–Tânia brada não escondendo sua felicidade.
O pequeno garoto, tendo seus recentes 12 anos, aparece saltitante acompanhado de suas duas babás. O menino salta para o colo da mãe abraçando-a forte. A rainha beija seu rostinho rechonchudo e faz um carinho nos seus cabelos. Rosalie não gostou da forma como doeu ver aqueles gestos amorosos que nunca lhe foram direcionados. Balançou a cabeça suavemente querendo espantar seus pensamentos autopiedosos.
–Rô!–O garoto sai dos carinhos da rainha e segue até sua irmã.–Você não sabe o quanto foi legal, Rô! Você precisava estar lá.
–Imagino!–A irmã beija a testa do garotinho.–A rainha pediu pra prepararem um jantar todo especial pra você. Não está com fome?
Ele assente e sai do chamego da sua irmã. Arthur apareceu depois, mas não estava com uma boa cara. Se limitou a beijar a testa dos seus filhos e a comer calado.
–Mãe, por que a Rô não pode comer pudim?–Inocente, Henrique tinha seus olhos fitos no prato de folhas da sua irmã.
–A Rosalie vai casar e está muito gorda, vidinha da mamãe. Só por isso. Mas você pode comer todo o pudim. É todo seu.
As lágrimas vieram aos olhos de Rosalie, mas ela disfarçou tomando um grande gole d'água. Henrique já estava começando a ficar acima do peso, mas isso não incomodava a rainha. Seu foco sempre era Rosalie e isso incomodava a garota. Ela desejava muito uma fatia do pudim, mas sabia que lhe seria negado. Continuou a comer suas folhas.
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