Dimitri estava encantado com Sorah. Só pela sua voz e calmaria ele tinha certeza que dormiria tranquilamente ouvindo ela ler um livro. Mas Sorah não era tão calma como ele pensava.
–Eu sou uma sereia aprisionada na vida humana por um ano, Dimitri.–Ela desabafa e o homem dá um salto para trás.–Não se preocupe. Poucas coisas me restaram, mas o meu canto do feitiço foi tirado. Não tem riscos pra você. Na verdade eu não faria nada com você.
–Mas... O quê? Eu nunca fiquei de frente com uma sereia. Como? Digo, por que você está aprisionada? Por que você não quer me fazer mal? Pelo que sei vocês não gostam dos piratas.
–Eu me apaixonei pelo noivo da minha irmã.–Alegou tristemente.–E, pra tê-lo, eu menti falando que ele tinha se declarado pra mim e um monte de mentiras a mais. Meu pai me castigou mandando-me para a superfície com uma missão: eu teria que ajudar um pirata, me aproximar dele e tal. Caminhando tristemente pela areia encontrei você. Senti seu cheiro de pirata e vim até aqui. Minha missão é ajudar quem meu povo mais odeia.
Dimitri olhou para a mulher e assentiu. Talvez ele se remidisse com as forças do universo se ajudasse Sorah. Dimitri sabia que a sua vingança era errada, mas não pararia. E talvez fazendo algo bom pra equilibrar essa balança ele se sentisse melhor.
–Vocês, piratas, cheiram a trapaça, picaretagem e ambição. Se quiser, pode me contar qual barco você quer roubar e quem sabe eu possa te ajudar.
–O barco é bem maior do que você pode imaginar.–O homem mexe na areia com o dedo.–Deixa eu te contar tudo.
...
É sábado e Arthur acaba de receber a primeira proposta de matrimônio com Rosalie. Enquanto ele lia a carta, um dos seus representantes entra na sua sala.
–O povo reagiu como esperado, Arthur. Já suspeitavam que estávamos sem ouro, agora eles tiveram certeza.
–Recebi a primeira proposta, Timoth.–O rei balança a carta.–Nosso vizinho, o país de Galik, se interessou por Rosalie. Oferecem apoio político, bom ouro, acesso pelas terras deles e uma união. Querem Lindúvia e Galik como um país só, porém com dois reinados.
–Estão sendo generosos até demais... –O homem coça a barba.–Essa parte da união tem dois lados. Faz muito tempo que somos um país fechado, talvez o povo não entenda com bons olhos. Mas também pode ser uma boa já que o custo para o reinado seria dividido em dois.
Arthur não estava nem ai para as vantagens ou desvantagens, ele só conseguia pensar que estavam começando a aparecer os candidatos a genro e isso lhe deixava estressado. Timoth avisou que viajaria por uma semana para espalhar melhor a notícia para os reinos distantes. Queria que o rei escolhesse muito bem com quem casaria Rosalie. Lindúvia estava em jogo e o melhor teria que ser escolhido.
Alguns sábados o rei dedica a família e hoje era o dia. Todos eles iriam fazer programas de família e isso serviria para injetar confiança nos súditos. Sempre saia nos jornais a vida tranquila e pacífica da família real. Esses eventos eram a maquiagem perfeita para enganar o povo.
Arthur guarda a carta dentro de um livro em cima da mesa e sai do escritório. Encontra todos à mesa aguardando-o. O programa em família sempre começa a partir do almoço.
–O que vamos fazer hoje, Tânia?–Arthur senta à mesa e se acomoda. Logo começa a ser servido juntamente com todos.
–O Henrique quer aprender a caçar. Que tal você ensiná-lo a caçar hoje? Não ficarei muito tempo por causa da minha alergia a insetos, mas quero que o ensine.
–E Rosalie? Não é comum ensinar mulheres a caçar e ela não pode ficar de fora do nosso programa em família, Tânia.–O rei encara sua filha que permanece quieta.
–Ensine-a também. Vai que ela leve jeito já que não consegue ser uma bela dama da realeza. Se nada der certo pode virar caçadora. Já não vira uma inútil real.–A rainha cai na gargalhada enquanto todos estão em silêncio.–Brincadeirinha. Eu amo meu senso de humor!
Rosalie continuou comendo e se recusou a deixar que seus olhos se enchessem. Nunca entendeu o porquê da sua mãe ser tão arisca e até cruel com ela. Rosalie só tem palavras de amor e obediência a oferecer e o que recebe são humilhações e pedradas. Encarou seu prato e soltou os talheres. Seu estômago embrulhou.
–Se importa de aprender a caçar com a gente, bonequinha?
A garota sorriu, olhou para o pai e negou. Ela gostava da atenção que recebia do pai. Ela sentia-se amada, cuidada, importante. Arthur sabia que um dia teria que tirar Tânia do caminho. Ela era uma bruxa, aos seus olhos. Nunca entendeu a sua má educação para com Rosalie.
–Você vai com a gente, Rô?–Henrique sorri animado enquanto a garota assente.–Vamos, quero que me ajude a vestir uma boa roupa para aprender a caçar. Vamos, Rô!
A garota levantou e foi com o irmão para o quarto ajudá-lo. Ao se ver sozinho com sua esposa, Arthur se vê livre para se expressar.
–Você não consegue ser amorosa com a própria filha? Qual seu problema, Tânia?
–O problema todo é você, Arthur.–Responde entre dentes.–Tudo começou por causa de você e do seu interesse doente na própria filha.
–Independente de qualquer coisa ela é sua filha. Se isso que você me acusa fosse verdade por que você a trata mal onde deveria amá-la ainda mais? Você sente inveja da beleza da Rosalie. Você sente ciúmes porque eu a amo muito mais do que um dia amei você. Você é podre, Tânia!
–Por isso que nos casamos, querido.–A mulher enxuga a boca, larga o guardanapo na mesa e levanta.–Quem mais suportaria toda sua podridão sendo leal e fiel como sou? Você acha que a Rosalie ficaria do seu lado quando souber o papai terrível que você é? Me poupe, Arthur. Fique longe da Rosalie ou será pior pra você. Estou avisando.
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