VIII

Rosalie tinha ouvido os burburinhos dos empregados, realmente todos já sabiam que ela se casaria. Ouviu de Joane que cartazes foram espalhados. Ela suspirou sentindo seu lábio inferior tremer. Para ela isso tudo era tão humilhante.

–Logo seu professor chegará. Vou deixar vocês à vontade na sala de dança. Sei que o primeiro contato é importante para um bom caminhar das aulas.

–Tudo bem. Vou aguardar na sala. Você o guie até lá, por favor.

Joane assente e observa Rosie caminhar pelo corredor até não mais ser vista. Sentiu dó da sua tristeza que estava se tornando corporal também. Ela respirava tristeza.

Alguns minutos depois, Dimitri surge no portão e é autorizado a entrar depois de apresentar a carta. Ele estava se contendo para não assobiar. Estava muito feliz. Seguiu para a salinha do dia da entrevista e aguardou alguém.

–Olá, Sr. Lorenzo. Boa tarde.–Joane surge com um sorriso amigável.–Pode me chamar de Joane a partir de hoje. Sou responsável por boa parte da educação de Rosalie, sua aluna e princesa de Lindúvia.

–Certo, Sra. Joane.

–Senhorita, por favor.–Sem graça, Joane o corrige.–Ela já o aguarda. Siga-me, por favor.

Dimitri se viu questionando se a serviçal estava lhe arrastando asas ou apenas não tinha costume de conversar sozinha com homens. Mulheres tendem a ser destrambelhadas quando estão perante os homens, pensou o pirata.

Ele, disfarçadamente, ia observando cada detalhe do lugar em que passava. Era realmente um lugar que de fato despertava o interesse dos olhos. Se viu sentindo ódio do quanto Arthur cresceu com o ouro que era dele também. Maldito!

–Bom, pode abrir aquela porta ali e se apresentar para sua aluna. Eu estarei voltando em uma hora. Vou deixá-los criar um laço inicial de aluno e professor. Eu sei que é importante para o desenrolar das aulas seguintes.–Sorriu.–Peço apenas que seja paciente com Rosalie. Ela anda triste ultimamente.

–Obrigada, Srta. Joane.–Faz uma reverência com a cabeça e depois observou a mulher se afastar.

Dimitri tinha visto o anúncio que a filha de Zanetti iria se casar. Na verdade mais parecia um leilão. O cartaz exaltava tanto a garota que Dimitri teve certeza que estão querendo usá-la para salvar momentaneamente os cofres de Lindúvia.

Girou a maçaneta abrindo a porta lentamente. Rosalie estava de costas, observando pela janela o tempo lá fora. O sol que entrava fazia com que seus cabelos reluzissem mais que ouro. Com um gesto preenchido de graça, Rosalie se vira e observa o homem que acabara de entrar.

Por um instante Rosalie esqueceu como que se respira. O homem à sua frente era extremamente másculo, mas com um toque de nobreza. Se não fosse seu professor, ela claramente lhe confundiria com um homem da realeza. Os traços bem marcados do rosto, o porte grande e o cheiro que tomou todo o ambiente a fizeram desviar o olhar para o chão. Ele é muito bonito, pensou ao encarar seus pés.

–Srta. Rosalie Zanetti?–Tenta ganhar sua atenção.–Sou Lorenzo Di Martel, seu professor de dança popular. Podemos conversar um pouco?

Ela assente e se senta em uma das poltronas dispostas ali. Dimitri senta na outra. O homem se viu analisando os traços da garota e afirmando intimamente que talvez ela tenha sido a melhor coisa que o podre do Zanetti poderia ter feito. Rosalie tinha traços tão sutis, seus lábios eram rosados e seus cabelos reluzentes. Ela era a personificação da palavra pureza.

–Pode me falar onde seu antigo professor parou? Gostaria de saber o que você já aprendeu, princesa Rosalie.

–Só Rosalie, por favor.–A voz da garota trouxe uma excitação esquisita em Dimitri. Ele nem sabia que queria tanto ouvi-la.–Antes dele adoecer estávamos falando sobre a valsa vienense. Ainda não aprendi a valsar, apenas a teoria.

–Ótimo, então pedirei para que a senhorita me diga a parte teórica da valsa vienense. É sua primeira lição do dia.

Rosalie assentiu e começou a falar o que aprendera sobre a dança. Ela realmente tinha se encantado com a valsa e tinha lido quase todos os livros que falavam dela. Só não sabia dançá-la.

Enquanto falava, Dimitri observava cautelosamente o movimento dos lábios da garota. Ele tinha absoluta certeza que se visse Rosalie navegando em algum barco por aí diria que era uma sereia em busca de algum pirata para enredá-lo. Para os piratas, algumas sereias se tornam humanas para encantar e matar piratas bobões e fanfarrões. Elas não gostam que façam do mar palco para roubos e mortes desnecessárias apenas por ambição.

–Acertei, professor Lorenzo?–Os olhos de Rosie estavam brilhosos e transbordavam empolgação. Nem parecia a jovem tristonha de minutos atrás.

–Sim, sim.–Dimitri levanta.–Vamos começar com a prática. Preciso que você levante, Rosie.–A garota assim o faz.–Muitos acreditam que para valsar é preciso flutuar.

–Isso não cabe a nós. Não há como humanos levitarem.–Responde o óbvio quase fazendo Dimitri revirar os olhos.

–Não no sentido literal, doce. Eu quero que sua alma flutue. Vou dizer como. Confia em mim?

Ela assente. Dimitri vai até a pequena vitrola e coloca um disco de música clássica. Rosie observa tudo atentamente. Ele volta a ficar próximo da jovem.

–Eu quero que deixes a música entrar em você.–Dimitri ajuda a garota a abrir os braços.–Sinta cada nota, cada vibração. Eu quero que você imagine que está levitando e se deixe levar. Acredito que fique melhor se fechar os olhos.

Rosalie fecha os olhos e se deixa curtir a música por algum tempo. Ela estava com um pouco de vergonha, mas sabia que teria que obedecer seu professor. Depois de algum tempo ela deu um passo pra frente e outro pra trás. Logo estava girando e andando pelo salão.

Dimitri poderia estar zombando da garota, mas ele só conseguia compará-la a um anjo. Rosalie era um anjo. Doido quem dissesse o contrário. Ele sentou e ficou observando ela ficar cada vez mais leve. Ele tinha certeza que perderia horas observando-a. Certeza.

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