VII

No outro dia, bem cedinho, Dimitri recebe uma carta através de um garotinho mensageiro. Dá-lhe uma moeda e agradece o favor. Sorrindo por já saber do que se trata, abriu e leu rapidamente. Iria começar amanhã à tarde. Dimitri veria a princesa três vezes por semana onde ministraria aulas com duração de duas horas. Saltou de alegria ao se dar conta do grande avanço.

Túlio tinha saído, sendo assim não veria seu show particular. Dimitri sapateou, rodopiou e fez danças esquisitas. Ele realmente estava feliz. Guardou a carta, pois lhe seria obrigatório apresentá-la no portão do Palácio, e foi tomar café.

–Bom dia, Sra. Julieta.–Assobia depois de cumprimentar a dona da hospedaria.

–Viu pássaro verde, Sr. Lorenzo?–Curiosa, tenta arrancar alguma informação do homem bem humorado.

–Talvez veja em breve. Até logo!

Dimitri seguiu até um modesto restaurante onde tomou café. Túlio estava praticamente sendo fornecedor fiel de cerveja velha para um comerciante. Ele o enganava falando que a cerveja é adormecida e inventava a origem dela. Mas na verdade a cerveja estava bem passada. Quem sabe ele vire um bom empreendedor por aqui. Ele conversa tão bem que até me faz querer provar a cerveja.

Dimitri passou a manhã e parte da tarde sondando pela cidade atrás de míseras informações ou fofocas que ainda não tiveram sua veracidade contestada. Descobriu uma pequena e em má condições biblioteca e resolveu entrar. Leu algumas coisas sobre dança, o teórico mesmo era apenas o que lhe faltava.

...

Rosalie abriu os olhos e deu de cara com seu pai que a observava dormindo. Depois do susto, ela sorriu pouco e deu bom dia. Arthur respondeu não gostando muito da falta de alegria da filha.

–Bonequinha, não fique assim...–Ele alisa seu rosto.–Soube que já tens um professor de dança popular e que sua aula começa amanhã. Não está feliz?

–Um pouco. É hoje que será anunciado meu casamento não é?–Tristonha, Rosie sai da cama e vai até o banheiro lavar o rosto.

–Prometo escolher bem com quem você vai se casar. Não se preocupe. Quando tudo se ajeitar você se separa e vem ficar com o papai pra sempre. O que acha?

–Não gostaria nem de estar casando, para começar.–Retorna para a cama.–Mas tudo bem. Que seja rápido, por favor.

Arthur beija a testa de Rosalie e sai indo em direção a sala de reuniões do Conselho. No caminho, ele foi parado por Tânia. Ela tinha o olhar ardiloso voltado para o marido. Arthur não gostava desse olhar.

–Não pense que não sei do seu interesse doente por Rosalie...–Ela ergue as sobrancelhas.–Cuidado como você me trata, Arthur, eu sou sua melhor amiga, mas posso ser a pior inimiga também.

–Você que é a doente aqui, Tânia. Saia da minha frente logo, mulher.

Arthur passa esbarrando o ombro na esposa que ri do nervosismo do marido. Ela sempre percebeu os olhares que Rosie recebia do seu pai. Imagina se ele soubesse que não é pai biológico de Rosalie? Tânia se viu temendo tal pensamento se concretizando. Ela poderia facilmente perder tudo que conquistou até agora. O jeito seria casar Rosalie o mais rápido possível.

Arthur se viu anotando mentalmente para se policiar quando estiver com Tânia e Rosie no mesmo ambiente. Ele nunca entendeu o sentimento que tem por Rosalie, mas sabia que um dia ela seria dele. Nem que fosse por uma única vez. Ele tinha que sentir seu sabor. Ele tinha que prová-la. Era a única certeza que ele tinha.

Entrou na sala de reuniões e encontrou seus quatro representantes sentados. Eles já sabiam por alto o motivo da reunião, mas precisavam da formalização. E esse dia tinha chegado.

–Não vou me prolongar muito... Então, Rosalie está pronta para casar em prol do benefício de Lindúvia. Precisamos urgentemente achar um marido caridoso para ela e para Lindúvia.–Arthur estava odiando ter que discutir isso.–E eu conto com a ajuda de vocês.

...

O dia amanheceu e Dimitri já estava de pé, ansioso. Sua aula só começaria às 14h, mas a ansiedade estava lhe tomando por inteiro. Túlio estava em sua companhia observando o amigo praticamente gastar todo o solado das botas.

–Com essa inquietação toda, de longe vão perceber que tem algo errado com você.–Aconselha o amigo.–Vamos dar uma volta na cidade. Julieta me deu 5 moedas de ouro ontem. Vamos tomar café do bom hoje.

Dimitri sorri e aceita o convite do amigo. Passaram a manhã toda e ainda almoçaram no restaurante famoso do centro. Logo Dimitri estava arrumado, de frente para o espelho ajeitando seu chapéu.

–Hoje eu darei o passo mais importante da minha vingança; estarei entrando no covil do inimigo como amigo.–Riu e saio do quarto.

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