Capítulo 13 – Silêncio ao Redor da Mesa
A noite caiu com uma quietude desconfortável.
Kaori havia preparado um jantar simples, e o aroma do arroz fresco e chá de gengibre preenchia o pequeno apartamento. A mesa posta, os talheres alinhados, e três pratos — não dois.
Haru franziu o cenho ao ver o terceiro lugar.
— Ele vem — disse Kaori, sem levantar os olhos.
— Quem?
Ela deu de ombros, fingindo inocência.
— O “moço perigoso que traz doces”.
Haru bufou, virando-se para a janela, mas antes que pudesse dizer algo, uma batida leve soou na porta. A menina correu para abrir antes que Haru a impedisse.
Akira estava ali. De casaco escuro, mãos nos bolsos e expressão contida. Mas seus olhos, ao ver Haru, suavizaram.
— Trouxe chá. E... bolinhos de feijão — disse, como se aquilo justificasse tudo.
Kaori o puxou com naturalidade pra dentro, como quem já o esperava há anos. Akira entrou, hesitante, e Haru permaneceu parado, braços cruzados.
— Você não precisava vir. — disse seco.
— Mas vim.
— Eu não convidei.
— Mas a Kaori convidou. E, com todo respeito, ela parece ser a autoridade da casa.
Kaori sorriu, sentando-se com as pernas cruzadas na cadeira, já servindo arroz como se aquilo fosse rotina.
Haru soltou um suspiro. Resignado, sentou-se também.
O jantar começou em silêncio.
Talheres tilintando contra cerâmica. O vapor do arroz subindo. O chá sendo servido.
Kaori falava sobre a escola. Sobre como uma colega roubou a borracha dela. Sobre como ela venceu uma corrida no recreio. Nenhum dos dois homens à mesa disse muito. Mas, mesmo assim, algo aconteceu ali.
Algo sutil.
Haru, pela primeira vez, observou Akira como parte de uma cena pacífica. Não havia sirenes. Nem ameaças. Nem sangue.
Só três pessoas dividindo comida quente.
E Akira... não parecia deslocado.
Ele ria com Kaori, mesmo que fosse um riso contido. Servia-se com respeito. Observava tudo com um tipo de cuidado que Haru jamais imaginou ver num homem como ele.
— Você cozinha? — Kaori perguntou de repente.
— Um pouco. Minha mãe me ensinou, quando eu era moleque.
— Você tem mãe?
A pergunta infantil pareceu bater com força inesperada.
Akira assentiu lentamente.
— Tinha. Faz tempo que ela se foi.
Kaori abaixou o olhar. Depois estendeu um bolinho de feijão pra ele.
— Esse é por ela, então.
Akira aceitou com um sorriso sincero — talvez o mais sincero que Haru já viu dele.
Depois do jantar, Kaori foi escovar os dentes. Haru começou a recolher os pratos, mas Akira o deteve.
— Deixa que eu lavo.
— Um gangster lavando pratos? Isso é novo.
— Não sou só um gangster, Haru.
— E o que mais você é?
Akira olhou para ele. O vapor da pia entre eles criava um clima estranho, íntimo.
— Alguém tentando ser digno de você.
Haru ficou em silêncio. Não sabia o que responder. As palavras dele batiam fundo, mas ainda havia espinhos no caminho.
— Não tenta me conquistar, Akira.
— Não tô tentando. Tô apenas... me mostrando.
Haru pegou um pano e secou os primeiros pratos lavados. O silêncio voltou, denso.
Mas, dessa vez, foi confortável.
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Horas depois, sozinho no quarto, Haru escreveu:
“Hoje, o silêncio entre nós não feriu. Apenas... acolheu.”
E pela primeira vez, ele não se sentiu culpado por isso.
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Atualizado até capítulo 42
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