Capítulo 11 – Tempestade no Mercado
A manhã começou cinzenta e pesada, como se o céu carregasse a tensão que Haru sentia por dentro.
Kaori precisava de ingredientes para o almoço da fundação, e Haru ofereceu-se para ir ao mercado. Precisava de ar. De distância. De silêncio — ainda que o silêncio só fizesse a voz de Akira ecoar mais alto dentro da cabeça dele.
As ruas estavam molhadas da garoa da madrugada, e o mercado local fervilhava de vida. Barracas abertas, vendedores gritando ofertas, carrinhos de frutas, crianças correndo entre os corredores. Tudo parecia comum, até que deixou de ser.
Haru estava escolhendo tomates quando ouviu.
— É ele. O garoto do líder.
A voz foi baixa, mas cortante. Haru virou-se devagar, os olhos encontrando dois homens encapuzados ao fundo do corredor de legumes. O coração dele parou por um segundo.
— Finge que não ouviu — sussurrou pra si mesmo, tentando se afastar com naturalidade.
Mas um dos homens se moveu.
Rápido.
Na direção dele.
Haru largou a sacola e correu.
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O mercado virou um labirinto. Ele passou por uma barraca de peixe, virou à esquerda perto de um açougue e entrou entre duas pilhas de caixas. Um dos homens quase o alcançou, puxando sua mochila — Haru reagiu por instinto e o empurrou com força. O homem caiu, batendo contra uma banca e espalhando batatas por todo lado.
O outro avançou.
Haru escorregou, caiu de joelhos, tentou levantar.
— Pegamos ele. — o homem murmurou, puxando uma faca do casaco.
— Tenta, se for corajoso o suficiente. — disse uma voz às costas deles.
Haru reconheceu o tom antes mesmo de olhar.
Akira.
Ele avançou como uma tempestade. Um chute preciso, depois um soco. Os dois homens tentaram reagir, mas não tiveram chance. Akira era uma força em movimento, olhos ardendo, mandíbula travada. Não havia piedade nos golpes — apenas raiva.
Mas a raiva não era pelos agressores.
Era pelo susto.
Pelo medo.
Pela possibilidade de ter perdido Haru.
Quando os dois homens estavam caídos, gemendo no chão, Akira se virou.
— Você tá bem? — a voz dele saiu trêmula, baixa. — Haru?
Haru respirava com dificuldade, o peito subindo e descendo. Estava de joelhos, o joelho esquerdo ralado, as mãos sujas.
— Tô... tô bem. — mentiu.
Akira ajoelhou-se à sua frente, os olhos analisando cada arranhão, cada respiração ofegante.
— Eles te machucaram?
— Só me assustaram.
— Isso já é demais.
Akira segurou o rosto dele com as duas mãos, com um cuidado que contrastava com a violência de segundos atrás. Haru fechou os olhos por um momento. Estava cansado de lutar contra aquela gentileza.
— Você precisa parar de aparecer assim. — murmurou.
— Você precisa parar de correr sozinho.
— E eu que achava que não precisava de guarda-costas.
— Você precisa de mim, mesmo que ainda não admita.
Haru abriu os olhos.
— Eu não preciso de você. — disse, mas a voz falhou.
Akira sorriu. Não porque achava graça — mas porque começava a entender que, com Haru, os sentimentos vinham em camadas.
E ele estava disposto a cavar até a última.
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Naquela noite, enquanto Kaori cortava legumes na cozinha e cantava baixinho, Haru sentou-se com o caderno no colo. Abriu na próxima página.
Escreveu:
“Hoje, ele me salvou de novo. E eu deixei.”
Depois fechou o caderno.
E dessa vez, sorriu.
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Atualizado até capítulo 42
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