Capítulo 12 – A Marca do Passado
O silêncio da madrugada parecia mais pesado do que o normal. Haru estava sentado à mesa da cozinha, o caderno aberto diante de si, mas nenhuma palavra saía. Kaori já dormia, e Akira havia desaparecido tão rápido quanto havia surgido mais cedo — após o confronto no mercado.
Mas algo dentro de Haru havia mudado.
Não era só a gratidão. Era um incômodo persistente, uma vontade crescente de entender quem, afinal, era Akira por trás daquela fachada de líder violento e protetor silencioso.
E essa vontade o levou ao lugar que ele havia prometido a si mesmo nunca mais voltar.
---
O templo abandonado na parte antiga da cidade era onde o memorial dos pais de Haru ficava. Ele evitava aquele lugar desde os 13 anos. As memórias eram dolorosas demais, e as perguntas, nunca respondidas.
Mas ele sabia que, se quisesse entender o presente, teria que encarar o passado.
Acendeu um incenso diante da lápide simples. As mãos tremiam, mas ele se obrigou a continuar.
— Eu não vim pra chorar — murmurou. — Vim porque preciso lembrar. E entender por que... por que eu odeio tanto gente como ele.
Fechou os olhos. As lembranças vieram em rajadas:
O som dos tiros.
O grito da mãe.
O cheiro de sangue.
A tatuagem no pescoço do homem que atirou.
Era isso.
A tatuagem.
Uma cobra em volta de uma âncora.
Haru abriu os olhos com violência.
— Era isso. A marca...
Ele conhecia aquele símbolo. Já o vira de novo.
No pescoço de um dos capangas de Akira.
---
Na manhã seguinte, Haru apareceu diante da porta do armazém dos Red Blades — a sede da gangue. Dois homens barraram sua entrada, mas a tensão no olhar deles mudou quando ele disse:
— Quero ver o Akira.
Não era comum alguém procurá-lo ali. Muito menos Haru.
Dentro do galpão, Akira saiu de uma sala de reunião, o casaco escuro sobre os ombros, olhar sério. Mas ao ver Haru, o rosto suavizou.
— Haru?
— Preciso falar com você. Sozinho.
Akira dispensou os homens com um gesto e o levou para uma sala ao fundo. Ao fechar a porta, Haru se virou com a raiva contida nos olhos.
— Uma pergunta, Akira.
— Diga.
— Seus homens... eles usam uma tatuagem de cobra com âncora?
Akira empalideceu, imperceptivelmente.
— Nem todos. Mas sim, é uma das marcas antigas. Por quê?
— Porque foi isso que eu vi... no assassino dos meus pais.
O silêncio caiu como um trovão entre os dois.
Akira sentou-se lentamente, os olhos sem conseguir desviar dos de Haru.
— Você tem certeza?
— Eu me lembro. Eu nunca esqueci.
Akira respirou fundo.
— Haru, eu não estava na liderança naquela época. Era só um garoto. Mas eu... sei quem usava essa tatuagem. E sei quem pode ter feito isso.
Haru se aproximou, os punhos fechados.
— Foi um dos seus?
Akira hesitou.
— Provavelmente. Mas eu juro por tudo que tenho que eu nunca faria isso. E que, se eu descobrir quem foi, essa pessoa vai pagar.
Haru virou de costas, tentando controlar a respiração.
— Eu quero acreditar em você. Mas tudo isso... me destrói por dentro.
Akira se aproximou devagar, a voz baixa.
— Então me deixa reconstruir com você. Mesmo que doa. Mesmo que leve tempo. Eu não posso mudar o que aconteceu. Mas posso estar ao seu lado agora.
Haru não respondeu. Apenas olhou por sobre o ombro, e nos olhos dele havia dor, raiva... e dúvida.
Mas também havia algo mais.
Esperança.
---
Naquela noite, o caderno ganhou mais uma anotação:
“Ele talvez carregue o sangue que destruiu minha família. Mas é o mesmo que agora me faz querer viver.”
E isso, Haru sabia, era o começo de uma nova guerra — dentro e fora dele.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments