CAPÍTULO 19

O restaurante estava animado. Risadas ecoavam pelo salão luxuoso, garçons circulavam com bandejas de pratos refinados, e o clima era de pura comemoração. Todos os envolvidos nos filmes estavam ali, celebrando o encerramento das gravações.

Miguel Rosa levantou, erguendo uma taça de vinho, chamando a atenção de todos.

— Quero parabenizar cada um de vocês pelo trabalho árduo e dedicação nesses meses de gravação. — Ele olhou para cada um de nós, o sorriso orgulhoso no rosto. — E para tornar essa noite ainda mais especial, tenho um grande anúncio.

O restaurante silenciou. Todos aguardavam ansiosos.

— O primeiro filme será lançado nesta segunda-feira em cinemas e plataformas de streaming ao redor do mundo!

As mesas explodiram em aplausos e comemorações. Algumas pessoas gritaram de animação, brindes foram feitos, e um coro de comemorações tomou conta do ambiente.

— Isso não é tudo. — Miguel continuou. — Teremos um evento de lançamento com tapete vermelho, e quero todos vocês impecáveis. Precisamos mostrar ao mundo a grandiosidade desse projeto!

Mais aplausos.

Eu sorri, acompanhando o entusiasmo de todos. Mas por dentro, meu estômago estava revirado.

A prefeita.

O contrato.

A merda toda em que eu estava afundado.

Senti Clara se mexer ao meu lado, e então o toque suave de seus dedos cutucando meu braço.

— Vamos lá fora um instante? — ela pediu baixinho, sua voz suave contra o burburinho ao redor.

Assenti e a segui para fora do restaurante.

A brisa da noite era fria, mas refrescante.

Clara cruzou os braços e me olhou de cima a baixo.

— O que está acontecendo com você? — perguntou, direta.

Respirei fundo, sentindo minhas mãos tremerem.

Sem responder, tirei um cigarro do bolso e tentei acendê-lo.

As chamas do isqueiro falhavam, os dedos trêmulos dificultavam o processo.

— Gabriel… — a voz dela soou preocupada.

— Só… só um minuto — murmurei.

Quando finalmente consegui acender, dei uma tragada longa, sentindo a nicotina queimando na garganta.

Mas nada fazia aquele aperto no peito sumir.

— Você está nervoso. — Clara constatou.

Abaixei o cigarro e ri, sem humor.

— Você não faz ideia.

Ela se aproximou um pouco mais, a preocupação evidente em seus olhos castanhos.

— Fala comigo. O que está acontecendo?

Olhei para ela, o cigarro ainda entre meus dedos.

Não podia esconder mais.

Não quando aquilo estava me consumindo por dentro.

Soltei um suspiro pesado e deixei as palavras saírem:

— A prefeita… Ela me obrigou a assinar um contrato.

Os olhos de Clara se arregalaram.

— O quê? Como assim?

Joguei o cigarro no chão e pisei nele.

— Minha mãe tentou roubar a casa dela — confessei, sentindo a vergonha subir pelo meu corpo. — E para não denunciá-la, a prefeita me fez assinar um contrato para fingir um namoro com a filha dela.

Clara piscou, atordoada.

— Isso é… isso é absurdo!

Assenti, esfregando o rosto com as mãos.

— Eu tentei recusar, Clara. Mas ela ameaçou espalhar mentiras sobre você, destruir sua carreira antes mesmo de começar. E se eu quebrar o contrato…

Peguei o celular do bolso da jaqueta preta e mostrei a tela para ela.

O valor da multa.

Clara arregalou os olhos, e então soltou uma risada incrédula, quase desesperada.

— Isso é surreal. Como alguém pode fazer uma coisa dessas?

Ela começou a andar de um lado para o outro, agitada.

— A gente precisa encontrar uma falha nela — murmurou, determinada. — Algo que possamos usar contra ela, alguma coisa para denunciá-la.

— Clara… — tentei interromper.

— Não, Gabriel! — Ela parou na minha frente, com um olhar firme. — Você não está sozinho nisso. Eu vou te ajudar.

Minha respiração vacilou.

Ela pegou meu rosto com as mãos, os polegares acariciando minha pele.

— Você não precisa enfrentar isso sozinho.

Foi ali, naquele momento, que senti tudo ruir dentro de mim.

Eu não queria que ela se envolvesse.

Não queria que nada disso chegasse até ela.

Meus olhos arderam, e antes que pudesse controlar, lágrimas escorreram pelo meu rosto.

— Eu não queria que você se envolvesse nisso — minha voz saiu rouca, quebrada.

Ela se aproximou mais, sem soltar meu rosto.

— Mas eu estou envolvida. Nós estamos juntos nisso.

Soltei um suspiro trêmulo e fechei os olhos por um instante, tentando conter o caos dentro de mim.

Mas no fundo, saber que Clara estava comigo tornava tudo um pouco mais suportável.

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