CAPÍTULO 12

O estúdio estava mais silencioso do que o normal.

Normalmente, entre uma cena e outra, ouvíamos risadas da equipe, conversas baixas dos câmeras e produtores, até mesmo o som de passos apressados de assistentes de figurino e maquiagem. Mas hoje não.

Hoje era diferente.

As luzes já estavam ajustadas, banhando o quarto cenográfico de Jully com um brilho quente e intimista. A cama estava propositalmente desarrumada, o abajur projetava sombras suaves nas paredes e a playlist de fundo tocava uma melodia baixa, apenas para nos ajudar a entrar no clima da cena.

Eu já tinha gravado esse tipo de sequência antes, cenas intensas, apaixonadas, quentes. Mas nunca com Clara.

E esse era o problema.

Ela estava sentada na beirada da cama, mexendo nervosamente na barra do vestido claro que sua personagem usava. Seus olhos claros percorriam o cenário, como se absorvesse cada detalhe, e eu percebia o nervosismo na maneira como respirava fundo.

Miguel Rosa se posicionou ao lado do diretor, os braços cruzados enquanto observava tudo com atenção.

— Essa é uma das cenas mais importantes do filme. — Sua voz soou firme. — Os fãs esperam essa sequência desde que foi anunciado que o livro viraria um filme. Preciso que vocês entreguem verdade.

Clara engoliu seco ao meu lado.

Me aproximei um pouco mais e murmurei:

— Você está bem?

Ela soltou um riso nervoso.

— Sim. Quer dizer... mais ou menos.

Sorri de canto.

— Vai dar tudo certo. É só encenação.

Ela virou o rosto para me olhar, os olhos carregando um brilho que me fez prender a respiração por um segundo.

— Mas tem que parecer real.

— Exato. — Concordei.

O diretor se posicionou atrás das câmeras.

— Vamos começar. Luzes, câmeras... ação!

Dentro da cena

A porta do quarto se fechou atrás de Danniel.

Por um instante, apenas o som abafado da respiração de Jully preencheu o ambiente.

Ela estava ali, parada, olhando para ele com uma mistura de desejo e hesitação.

— Você tem certeza? — Perguntei, minha voz soando rouca.

Jully mordeu o lábio e deu um passo à frente.

— Eu nunca tive tanta certeza de algo na minha vida.

Havia uma tensão no ar, uma energia eletrizante entre os dois personagens. Eu podia sentir o calor do corpo de Clara tão próximo ao meu, e isso não era apenas atuação.

Meus dedos deslizaram lentamente pela cintura dela, puxando-a para mais perto. Seus olhos me encararam, e por um instante, eu esqueci completamente que estávamos cercados por câmeras e uma equipe inteira assistindo.

Era apenas ela.

Minha mão subiu até sua nuca, segurando-a com firmeza, e então nossos lábios se encontraram.

O beijo começou suave.

Depois, mais intenso.

O roteiro pedia paixão, desejo reprimido, o momento em que dois personagens finalmente se entregam um ao outro. Mas eu sentia muito mais do que isso.

O perfume de rosas que Clara sempre usava preenchia meu olfato. O toque dela contra minha pele, os dedos deslizando pelos meus cabelos, tudo parecia real demais.

Ela suspirou entre o beijo, um som baixo, quase inaudível, mas que ecoou dentro de mim como um choque elétrico.

Minha mão desceu para suas costas, pressionando-a ainda mais contra mim. A temperatura do quarto parecia ter aumentado vários graus.

Seus lábios deixaram os meus por um segundo, e meus instintos me guiaram sem que eu percebesse. Minha boca encontrou o pescoço dela, sentindo sua pele quente sob meus lábios.

Ela arfou.

Meus olhos se abriram por um instante e encontrei os dela, arregalados, as bochechas coradas.

E foi ali, naquele segundo, que percebi.

Não era só uma cena.

Eu estava sentindo cada toque, cada olhar, cada suspiro.

A química entre nós era inegável.

Clara puxou minha camisa com mais força, e minha reação foi automática. Meus braços a envolveram completamente, nossas respirações entrecortadas.

Foi só quando ouvimos um "Corta!" que nos afastamos bruscamente.

A equipe explodiu em aplausos, Miguel Rosa sorria satisfeito e o diretor fez um sinal de aprovação.

Mas eu mal conseguia raciocinar.

Minhas mãos ainda estavam na cintura dela.

Clara piscou algumas vezes, como se estivesse voltando à realidade. Sua respiração ainda estava acelerada, e suas bochechas, ruborizadas.

Nós realmente havíamos passado do limite naquela cena.

— Isso foi incrível! — O diretor elogiou, se aproximando. — Exatamente o que precisávamos!

Miguel Rosa assentiu.

— Essa cena vai deixar os fãs enlouquecidos. A química de vocês está impecável.

Clara riu sem graça e se afastou de mim, alisando a barra do vestido como se tentasse recuperar o controle da situação.

Eu não conseguia parar de olhá-la.

E, pela primeira vez, me perguntei se ela também tinha sentido o que eu senti.

[...]

O dia tinha sido exaustivo.

Após várias outras cenas, entrevistas curtas e reuniões de agenda, finalmente podíamos ir para casa.

Ofereci uma carona para Clara, e ela aceitou.

O trajeto até a casa dela foi silencioso, mas não desconfortável. De vez em quando, eu a via mordendo o lábio, perdida em pensamentos.

Assim que estacionei em frente à sua casa, ela soltou o cinto e se virou para mim.

— Obrigada pela carona.

— Sempre que precisar. — Sorri de canto.

Ela hesitou por um segundo, como se quisesse dizer algo, mas mudou de ideia e segurou a maçaneta da porta.

Antes que saísse, chamei seu nome.

Ela me olhou.

Respirei fundo.

— Eu... — Cocei a nuca, tentando encontrar as palavras certas. — Sobre hoje. A cena.

Clara ficou ainda mais vermelha.

— O que tem?

Segurei o volante com mais força e soltei, rindo baixinho.

— Eu acabei sentindo "coisas" demais.

Os olhos dela se arregalaram.

— O-o quê?

Me aproximei um pouco mais, apenas para ver sua reação.

— Parte da cena de hoje não foi encenação.

O rosto dela ficou absurdamente vermelho.

— B-bem, eu... eu preciso entrar.

Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela praticamente pulou do carro e correu para dentro do prédio.

Soltei uma gargalhada baixa, recostando-me no banco e balançando a cabeça.

— Fofa.

Dei a partida no carro e segui para casa, ainda sentindo o perfume de rosas impregnado na minha pele.

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