CAPÍTULO 18

O silêncio da casa era quase confortável. Desde a mudança, eu ainda estava me acostumando ao espaço amplo, aos móveis novos, ao cheiro fresco de madeira recém-polida.

O sol da manhã entrava suavemente pelas grandes janelas da sala de estar, iluminando os móveis brancos e os detalhes modernos da decoração. Peguei meu celular no sofá e vi uma notificação de Miguel.

Miguel Rosa: Teremos um jantar com toda a equipe hoje à noite. Quero todos lá. Precisamos conversar sobre os próximos passos.

Soltei um suspiro e joguei o celular ao meu lado.

Desde o anúncio do lançamento do filme, tudo parecia uma loucura. A mídia, os fãs, os eventos... Mas o que realmente estava me deixando inquieta era o jeito estranho de Gabriel nas últimas semanas. Ele estava distante, nervoso, sempre olhando por cima do ombro como se estivesse fugindo de algo.

Algo que ele não queria me contar.

Respirei fundo e abri as redes sociais, apenas para me distrair.

Mas foi aí que o mundo pareceu parar.

No topo do feed, uma notícia bombástica estampava minha tela:

"O Novo Casal do Momento? Gabriel Herrera e Catriny Montiel são flagrados juntos em momentos íntimos!"

Meus olhos varreram a matéria rapidamente.

As fotos...

Cada uma delas parecia um golpe direto no meu peito.

Gabriel e Catriny estavam juntos em um café luxuoso, sorrisos forçados nos lábios. Em outra, ele segurava sua mão sobre a mesa. A terceira mostrava os dois saindo do mesmo carro, ela segurando o braço dele, como um casal apaixonado.

Engoli em seco.

Era mentira.

Tinha que ser.

Eu conhecia Gabriel. Eu conhecia seu olhar.

Na última foto, ele estava olhando para a câmera, mas seus olhos não tinham aquele brilho característico, aquele fogo que eu conhecia tão bem.

Eles estavam apagados.

Vazios.

Joguei o celular no sofá e passei as mãos pelos cabelos, tentando acalmar a tempestade dentro de mim.

Eu precisava falar com ele.

Sem pensar muito, enviei uma mensagem.

Clara: Vem tomar café na minha casa. Agora.

Ele visualizou na mesma hora.

Gabriel: Estou a caminho.

Pouco tempo depois, ouvi o som do motor de um carro se aproximando.

Levantei do sofá e fui até a porta, abrindo-a antes mesmo que ele batesse.

Gabriel estava lá.

Mas ele não era o Gabriel que eu conhecia.

Havia algo quebrado nele.

Os ombros tensos, o maxilar travado, as olheiras profundas...

Ele estava se desgastando.

— Entra — falei, séria.

Ele obedeceu sem questionar, passando por mim e indo direto para a sala.

O ambiente era amplo e moderno, com tons neutros e uma iluminação aconchegante. Mas naquele momento, a atmosfera parecia densa, pesada.

Fui até a cozinha, peguei duas xícaras de café e voltei para a sala.

Gabriel estava sentado no sofá, as mãos entrelaçadas, os olhos fixos no chão.

Coloquei a xícara na mesa de centro e me sentei ao lado dele.

— Vi as fotos — comecei, sem rodeios.

Ele ficou imóvel.

Mas eu vi o jeito que seus dedos se apertaram com mais força.

— Quer me explicar?

Ele soltou um suspiro longo, como se estivesse carregando o peso do mundo nas costas.

— Clara, eu… — Ele hesitou, fechando os olhos por um instante. — Eu não posso te contar.

Minhas mãos se fecharam sobre o tecido da calça.

— Como assim, não pode me contar? Você acha que eu sou idiota? Acha que vou acreditar que de uma hora pra outra você resolveu namorar a filha da prefeita?

Ele esfregou o rosto com as mãos, o corpo tremendo levemente.

— Não é isso…

— Então o que é?! — Minha voz saiu mais alta do que eu queria.

Silêncio.

Ele respirava rápido, a pele pálida, os olhos brilhando com algo que parecia… culpa?

Eu senti meu peito doer.

— Gabriel, olha pra mim.

Ele ergueu a cabeça devagar, e foi aí que eu vi.

As lágrimas acumuladas nos olhos dele.

— Eu não posso te contar — repetiu, a voz falhando. — É pelo seu bem.

O nó na minha garganta apertou.

— Pelo meu bem? — minha voz saiu mais baixa, um sussurro. — Gabriel… eu te conheço. Eu sei que tem algo errado.

Ele desviou o olhar, mas uma lágrima escapou e deslizou pelo seu rosto.

Eu fechei os olhos por um segundo, tentando ignorar o aperto no peito.

Ele estava sofrendo.

E não queria que eu soubesse o porquê.

A raiva que eu senti ao ver as fotos foi se transformando em algo mais profundo… algo parecido com medo.

— Me deixa te ajudar — murmurei.

Ele riu, sem humor, limpando as lágrimas com o dorso da mão.

— Você não pode.

Silêncio.

O relógio na parede marcava o tempo de um jeito cruel.

Gabriel se levantou, passando a mão pelos cabelos.

— Eu só… preciso que confie em mim, tá?

Eu também me levantei, cruzando os braços.

— Eu confio em você. Mas não confio nela. Nem no que está por trás disso.

Ele me encarou, e por um momento, vi um brilho de esperança em seu olhar cansado.

— Só me promete uma coisa — continuei. — Seja o que for… quando não aguentar mais, me procura.

Ele soltou um suspiro trêmulo e assentiu.

— Eu prometo.

Mas algo me dizia que aquela promessa não seria tão fácil de cumprir.

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