Desde que as gravações começaram, eu sentia que algo estava diferente. No início, achei que era só a pressão de protagonizar um romance tão esperado, de estar sob os holofotes novamente, mas logo percebi que não era nada disso.
Era Clara.
Algo nela me fazia querer estar por perto, fosse nos intervalos das filmagens ou no fim do expediente. Eu me pegava observando seu jeito concentrado ao decorar as falas, o brilho nos olhos quando acertava uma cena difícil, a maneira como sorria para a equipe quando alguém fazia uma piada.
E o perfume.
O perfume de rosas que ficava em minhas roupas, no banco do carro depois das caronas que comecei a oferecer, na gola da minha jaqueta depois que ela tirou um cochilo em meu colo no camarim. Era um cheiro delicado, mas marcante, que parecia se recusar a sair da minha mente.
Eu queria conhecê-la mais. Saber o que a fazia sorrir, do que ela gostava, quais eram seus medos. Então, numa manhã antes das gravações, decidi chamá-la para almoçar.
O set estava movimentado como sempre, com câmeras sendo ajustadas e a equipe correndo de um lado para o outro. Peguei dois copos de café no carrinho da produção e caminhei até onde Clara estava sentada, lendo o roteiro.
— Café? — Estendi um dos copos para ela.
Ela levantou os olhos e sorriu.
— Já virou costume seu, né?
— Talvez eu só goste de ver você sorrir quando recebe café. — Respondi de forma casual, mas, por dentro, fiquei esperando sua reação.
Clara riu baixinho e pegou o copo.
— Obrigada, Gabriel.
[...]
As gravações estavam indo bem, e minha conexão com Clara só crescia. Eu já havia estado na casa dela, já conhecia Matías, e, aos poucos, o universo dela se tornava algo confortável para mim. Mesmo que eu não admitisse em voz alta, estar perto dela me fazia sentir algo diferente, algo que eu ainda não sabia nomear.
Era um daqueles dias em que tudo parecia dar certo no set. As cenas estavam fluindo, as falas saíam naturalmente, e os diretores estavam satisfeitos. Entre uma pausa e outra, observei Clara sentada em um dos sofás do camarim, tomando um gole de água enquanto revisava suas próximas falas.
— Você não para nem por um segundo, hein? — comentei, encostando-me ao batente da porta.
Ela levantou os olhos para mim e sorriu.
— Não gosto de errar. Quero que tudo saia perfeito.
— Você já está perfeita. — A frase saiu antes que eu pudesse pensar. Clara arregalou os olhos e, em seguida, riu.
— Você é muito galanteador, bad boy.
— Só estou dizendo a verdade. — Cruzei os braços, mantendo o olhar sobre ela. — Mas já que você não para nem para almoçar direito, o que acha de ir comigo e Matías comer algo decente depois daqui?
Ela me encarou por um instante, parecendo pensar na proposta.
— Você quer chamar Matías também?
— Claro. Ele já gosta de mim, não é?
Clara sorriu.
— Você ganhou o coração dele desde o primeiro dia.
— Então, está decidido. Vou buscar vocês depois das gravações.
Ela assentiu, e meu peito se aqueceu.
[...]
O restaurante escolhido ficava em um dos bairros mais sofisticados da cidade, mas tinha um ar aconchegante, sem aquele peso de formalidade que alguns lugares chiques costumam ter. Escolhi uma mesa próxima à janela, de onde podíamos ver o movimento das ruas.
— Você já veio aqui antes? — Clara perguntou, olhando o menu.
— Algumas vezes. Tem um risoto de camarão incrível.
Matías, ao meu lado, olhava o ambiente com curiosidade.
— Nunca comi risoto.
— Então hoje é o dia perfeito para isso.
Clara riu e revirou os olhos.
— Você vai estragar esse menino, Gabriel.
— Só estou garantindo que ele experimente as coisas boas da vida.
O garçom veio anotar os pedidos, e logo estávamos imersos em uma conversa descontraída.
— Então, Matías, me conta... Como é ter a Clara como irmã? — Perguntei, curioso.
Ele revirou os olhos de brincadeira.
— Ela é legal, mas às vezes manda muito.
— Isso é verdade. — Clara concordou, pegando o suco de laranja.
— Mas ela cuida muito de mim. Então acho que estou no lucro.
Senti um aperto no peito. Era óbvio que Clara era mais do que apenas uma irmã mais velha para Matías. Ela era sua referência, sua base.
— E você? Tem irmãos? — Matías perguntou, me encarando com curiosidade.
Desviei o olhar por um segundo antes de responder.
— Não, sou filho único.
— Deve ser solitário.
Clara me olhou, como se soubesse que minha vida não era tão simples.
— Às vezes é. — Respondi, desviando o assunto. — Mas me conta, Matías, você gosta de filmes?
— Mas me conta, Matías, você gosta de filmes?
O garoto sorriu e começou a falar animado sobre os filmes de ação que gostava, sobre como queria aprender a lutar como os atores de Hollywood. O tempo passou rápido, e logo já estávamos rindo e conversando como velhos amigos.
[...]
Matías falava animado sobre algo que tinha visto em um jogo, enquanto Clara me observava com um olhar indecifrável.
— O que foi? — perguntei.
— Nada... Só estou surpresa.
— Com?
Ela brincou com a borda do copo de suco antes de responder:
— Você parece ser uma pessoa muito diferente do que as revistas mostram.
Inclinei-me um pouco para frente, apoiando os braços na mesa.
— E o que as revistas mostram?
— Um bad boy que só se importa consigo mesmo.
Sorri de canto.
— Talvez eu seja um pouco disso também.
Clara arqueou a sobrancelha.
— Talvez?
— Talvez. Mas só talvez.
Ela riu, e algo dentro de mim se acalmou. Era um riso genuíno, despreocupado, e por algum motivo, eu queria ouvir esse som mais vezes.
O almoço seguiu tranquilo, e quando terminamos, Matías já estava mais do que convencido de que risoto era seu novo prato favorito.
— Isso significa que vamos ter que fazer isso de novo — ele declarou, animado.
Clara suspirou, mas havia um sorriso em seu rosto.
— Parece que sim.
Olhei para ela e sorri também.
— Então é um combinado.
E foi ali naquela mesa, em um dia qualquer que descobri que a vida não precisa ser pesada o tempo todo, e percebi que queria que essa rotina com Clara e Matías se repetisse muitas e muitas vezes.
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Atualizado até capítulo 21
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