CAPÍTULO 03

— Matías! — Gritei pela casa procurando meu irmão. — Se apresse ou terá que ir andando para escola.

Não demorou muito para o garoto de cabelo bagunçado surgir na minha frente com o rosto vermelho e sem uniforme.

— O que é isso? Você ainda não está pronto? — Perguntei cruzando os braços indignada. — Garoto, você tem dez anos, já está na hora de parar de fazer esse tipo de coisa!

— Não brigue com ele, filha! — Minha mãe apareceu vindo do mercado. — Ele está queimando de febre, passei na farmácia e comprei remédios, com o calor chegando ele ficará ainda mais doente se não se proteger logo.

— Sei... — Me abaixei perto do ouvido do meu irmão. — Posso ter vinte e cinco anos, mas sei cada trama que uma criança pode arrumar para faltar a escola, então te dou até a noite para me falar o que está acontecendo.

Ele saiu correndo para o quarto, o conhecendo devia ter alguma prova difícil e deu um jeito para não ir.

— Mãe, estou indo para a empresa, hoje vai ter a primeira reunião sobre o filme. — Falei ao pegar uma maçã que ela havia acabado de lavar e dar uma mordida.

— E já sabe sobre o que será o filme? — Ela perguntou enquanto guardava as frutas na geladeira.

— Não deram muitos detalhes, sei que será baseado em um livro de romance. — Parei de mastigar no mesmo instantes sentindo meu estômago doer. — Espero que eu não tenha que transar com alguém na frente de várias pessoas!

Minha mãe riu, uma gargalhada alta e grave.

— E se tiver que fazer isso? — Minha mãe perguntou como se fosse algo simples. — Nem todas as cenas são verdadeiras, são apenas pessoas fingindo que estão fazendo amor, Clara. Você tirará tudo de letra, é bonita, é inteligente e nasceu para atuar!

Com um beijo na testa, minha mãe me confortou e com isso fui para a empresa com o sentimento de que nada poderia me atrapalhar e eu estava preparada para tudo que me propusessem.

[...]

Quando o uber parou em frente à One Entretenimento, meu coração gelou, após pagar o motorista, eu desci do carro com um sentimento bom, mas a ansiedade ainda tomava conta de mim. Me olhei na vidraçaria do grande prédio antes de entrar, o tempo frio de Madrid estava acabando, mas a temperatura ainda estava baixa, coloquei um vestido jeans que ganhei de um antigo patrocínio, um sobretudo bege e uma bolsa para combinar, nos meus pés, o bom e velho mocassim.

Assim que cheguei no saguão, uma moça da recepção logo me olhou, ela sorriu gentilmente e pediu que me aproximasse.

— Posso ajudá-la? — Ela perguntou com os olhos no computador.

— Sim, vim ver o senhor Rosa!

A moça me olhou de novo como se tentasse me reconhecer e como não conseguiu perguntou:

— Qual seu nome?

— Clara. Clara Vega. — Ela olhou para mim e depois para o computador novamente.

— Achei... — Sussurrou depois de um tempo. — Aqui está seu crachá de acesso, passe na catraca aqui ao lado sempre que for entrar e sair, assim o segurança não barra você. — Ela disse se levantando.

Ela caminhou até perto das catracas e eu a acompanhei.

— Ali na frente tem várias portas, todas são elevadores e escada, vá para o décimo andar e a secretária do Sr. Rosa irá te ajudar no resto.

— Muito obrigado! — Agradeci à moça que saiu rapidamente voltando ao balcão.

Passei o crachá e entrei no elevador. Para minha sorte, estava vazio. O prédio tinha exatamente dez andares e obviamente o escritório do dono da empresa ficaria no último.

Assim que a porta se abriu, tive a visão de uma ala moderna e sofisticada, tudo parecia novo e limpo, com mármores e vidraças pretas, uma mesa ao centro com quem acredito ser a secretária, e atrás dela várias salas, que graças aos vidros transparentes, dava para ver tudo com clareza, só havia a sala com paredes de concreto, acreditei ser onde o CEO estava.

Me aproximei da mesa, fazendo a secretária notar minha presença.

— Bom dia! Tenho uma reunião com o Sr. Rosa, sou Clara Vega. — Falei e a moça sorriu gentil.

Estou doida ou todos são gentis por aqui?

— Pode esperar sentada ali, senhorita Vega? — A moça apontou para várias poltronas escoradas na parede atrás de mim. — O Sr. Rosa teve que ir ao dentista, mas daqui meia hora ele estará aqui, tem café aqui ao lado e o banheiro fica no corredor à esquerda, caso precise! Me chamo Darla, sou secretária do Sr. Rosa.

— Muito prazer, Darla e obrigado. — Sorri pra ela antes de caminhar em direção ao banheiro.

No caminho resolvi responder minha mãe, que não parava de mandar mensagens perguntando como estava por aqui.

Chegando ao banheiro, tive um choque de realidade, a minha antiga empresa, tudo estava caindo aos pedaços, já na One Entretenimento, cada canto que eu entrava eu ficava ainda mais impressionada, mas o que mais me deixou impressionada não foram as torneiras claramente banhadas a ouro, ou os perfumes caros a disposição espalhados pela grande pia de mármore bege e sim os altos gemidos vindo da última cabine. Eu sabia que não eram duas mulheres, só pelo barulho da respiração pesada eu soube que tinha um cara literalmente fodendo alguém no banheiro feminino, sem se importar com quem entraria no cômodo. Tossi a garganta várias vezes e não pararam.

Resolvi entrar na cabine ao lado, dei descarga na privada e então eles ficaram em silêncio absoluto.

— Tem gente que é sem noção, não é mesmo? — Falei alto o suficiente para eles ouvirem.

Ouvi uma risada feminina seguida de um "merda, fica quieta!" e cobri a boca para não rir. Ouvi a porta abrir, saltos saírem praticamente correndo, e quando ouvi outros passos em direção à saída, eu abri um pouco a porta, conseguindo ver um homem alto com jaqueta de couro preta, ele arrumou os cabelos antes de sair, mas não consegui ver seu rosto, mas o perfume ficou por todo o banheiro, um cheiro amadeirado e que com certeza ficou grudado na moça que estava com ele.

[...]

Passado os trinta minutos que Darla havia dito, o elevador se abre ao meu lado e eu me levanto ao ver o Sr. Rosa sair dele.

— Ah, você está aí! Minha nova estrela! — Ele disse ao me abraçar e depois se afastar para me olhar. — Você é deslumbrante, Clara! Será uma Ótima protagonista.

— Obrigado, senhor! Estou muito animada e agradecida por estar confiado em mim...

— Que nada, sei do seu talento, está na hora de alavancar, certo? — Seu olhar mudou de mim para alguém que saia da porta que dava para a escada de emergência. — Gabriel, que bom que chegou! Quero te apresentar a sua colega de trabalho, Clara Vega.

Meus olhos foram para o homem alto e de forte presença ao lado do Miguel Rosa. Meus olhos ficaram arregalados ao reconhecê-lo, mesmo sem ter visto seu rosto, a roupa era a mesma do cara do banheiro e seu perfume parecia sempre chegar primeiro aos lugares.

— É um prazer conhecer a senhorita, estou muito ansioso para ser ser par romântico. — Ele disse estendendo a mão com um sorriso parecendo... Tímido?

Meu olhar foi da sua mão para o meio das pernas dele, o sem vergonha nem se deu o trabalho de se arrumar antes de, provavelmente terminar o "trabalho" com a moça na escada do prédio.

E como assim? Par romântico? Fala sério.

— Seu zíper está aberto! — Falei ao encarar o rosto dele e o mesmo ficou vermelho na hora.

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