CAPÍTULO 11

A luz suave do entardecer entrava pela grande janela do set, lançando sombras alongadas pelo chão. O clima estava mais tranquilo depois de um dia intenso de gravações. As câmeras estavam desligadas, os técnicos ajustavam os equipamentos para a próxima cena e os maquiadores retocavam os atores que ainda estavam no set.

Eu e Gabriel estávamos sentados em um canto, afastados da movimentação. Ainda vestíamos as roupas de nossos personagens, Jully e Danniel, mas, por um momento, era como se não estivéssemos mais interpretando.

Ele mexia nos fios soltos do próprio figurino, distraído. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas havia algo no ar, algo que parecia pesado demais para ser ignorado.

— É estranho, né? — Resolvi quebrar o silêncio, e minha voz acabou saindo quase num sussurro.

— O quê? — Ele perguntou abaixando o rosto para olhar os tênis.

— Como às vezes a ficção se mistura com a realidade...

Ele ergueu os olhos para mim, e havia algo diferente neles. Algo mais vulnerável, como se soubesse que eu falaria algo sensível.

— Jully e Danniel têm mais em comum com a gente do que eu imaginava. — Cruzei os braços, encostando as costas contra a parede atrás de nós.

— Como assim? — Ele perguntou curioso.

E eu respirei fundo antes de continuar:

— O jeito como Jully cresceu sem uma figura paterna, como ela teve que lidar com a ausência e construir sozinha a própria força… — fiz uma pausa, e encarei o chão. — Me lembrou da minha história.

Gabriel ficou em silêncio alguns segundos antes de pegar a minha mão e entrelaçar nossos dedos, fazendo uma onde de arrepios passar por todo o meu corpo e fazer minha barriga gelar.

— Seu pai também...

Eu assentiu lentamente.

— Ele foi embora quando minha mãe engravidou do Matías. — Minha voz vacilou um pouco, mas continuei. — Na verdade, ele nunca esteve realmente presente. Desde que eu era pequena, ele era aquele tipo de pai que aparecia de vez em quando, trazia um presente e sumia por meses.

Gabriel permaneceu em silêncio e eu senti um peso se instalar em meu peito ao finalmente contar para alguém esse lado da minha vida.

— Quando minha mãe engravidou de novo, ele simplesmente desapareceu. Como se não existíssemos mais para ele.

Sem nem perceber soltei uma risada sem humor, balançando a cabeça.

— Eu me lembro do dia em que minha mãe percebeu que ele não voltaria. Eu tinha catorze anos e achava que ele ainda viria para o meu aniversário. Esperei por horas na janela. Mas ele nunca apareceu.

Gabriel respirou fundo, parecendo lutar contra uma possível emoção.

— Matías nem chegou a conhecê-lo. E eu… por muito tempo, tentei não me importar.

— Mas você se importava. — Ele completou, baixo.

Eu assentiu, mordendo o lábio inferior.

Eu entendi. Mais do que gostaria. Passei a mão pelo rosto, olhando para o alto por um momento.

— Eu sei como é isso. — Gabriel falou me olhando com atenção.

— Meu pai também nos deixou. — Suspirou. — Minha mãe era famosa, uma modelo de sucesso. Mas, um dia, ele simplesmente… decidiu que queria algo mais. Algo diferente. Foi embora com uma mulher mais rica, e deixou minha mãe para trás.

— Eu nunca soube disso, se você não tivesse me contato naquele dia, eu jamais imaginaria que isso estava acontecendo com sua mãe e com você...

Ele deu uma risada curta, amarga.

— Ninguém sabe. — Ele falou em tom irônico — Eu passei a maior parte da minha vida fingindo que isso não me afetava. Mas a verdade é que ver minha mãe desmoronar por causa dele foi a pior coisa que já vivi e isso começou bem antes de ele de fato ir embora das nossas vidas.

Eu o observei por alguns segundos antes de murmurar:

— E é por isso que você luta tanto por ela.

Ele não precisou responder.

O silêncio que se seguiu não era vazio. Era cheio de compreensão, de algo que nos conectava de uma forma que nenhuma palavra poderia explicar.

Depois de um tempo, Gabriel desviou o olhar para os refletores desligados, a iluminação fraca do set criando um tom dourado sobre sua pele.

— Acho que, de certa forma, Jully e Danniel representam partes de nós. — Ele falou em um sussurro seguido de um suspiro pesado.

Soltei um riso nasalado.

— Talvez por isso essa história pareça tão real quando estamos atuando.

— Talvez. — Ele sorriu de leve, mas havia um brilho melancólico em seus olhos.

Ficamos assim por um tempo, sem pressa para sair daquele canto. Apenas sentindo a companhia um do outro, como se aquele momento silencioso fosse suficiente para dizer tudo.

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