CAPÍTULO 16

O dia tinha sido longo, mas bom.

Ajudar Clara e sua família com a mudança me deixou exausto, mas ver a felicidade estampada no rosto dela quando a mãe e Matías exploravam a nova casa fez tudo valer a pena.

Agora, tudo o que eu queria era um banho e uma noite tranquila. Estacionei na garagem e saí do carro, esfregando a nuca para aliviar a tensão dos músculos. Subi os degraus da entrada e empurrei a porta pesada da mansão.

Escuridão.

Franzi o cenho, tateando o interruptor e acendendo as luzes do saguão. O silêncio era absoluto, o que não era exatamente uma surpresa. Mas era um péssimo sinal. Deixei as chaves sobre a mesa de mármore e comecei a andar pelos cômodos.

— Mãe? — Chamei, sabendo que não receberia resposta.

Passei pela sala de estar, pela cozinha, subi as escadas e olhei nos quartos. O dela estava um caos — como sempre —, mas vazio. O banheiro, o escritório, o jardim dos fundos... Nada.

Suspirei fundo, sentindo o cansaço se transformar em frustração.

Peguei o celular e disquei o número dela. Chamou até cair na caixa postal. Tentei de novo. Nada. Fechei os olhos por um instante, apoiando as mãos no sofá. Quantas vezes essa cena já tinha se repetido? Quantas vezes eu tinha voltado para casa sem saber onde minha mãe estava?

O tempo todo.

Não era difícil imaginar onde ela poderia estar. Em algum bar, talvez, bebendo até esquecer da própria existência. Ou pior, em alguma casa clandestina, usando qualquer porcaria que estivesse ao alcance.

Passei as mãos pelo rosto e já ia pegar a chave do carro para sair à procura dela quando o celular vibrou.

Olhei para a tela e senti um aperto no peito.

Aurora Montiel. A prefeita da cidade e uma antiga amiga da minha família.

Atendi imediatamente.

— Aurora?

— Gabriel... — A voz dela era calma, mas carregava um tom sério. — Sua mãe está aqui em casa.

Soltei um suspiro pesado e fechei os olhos.

— Como ela está?

— Sóbria, por sorte. Mas... alterada. Ela apareceu aqui do nada, dizendo que precisava conversar. Acho que você deveria vir buscá-la.

— Estou indo.

Desliguei sem perder tempo e saí de casa, sentindo um peso familiar nos ombros.

Era sempre assim.

E provavelmente sempre seria.

[...]

Minha mente ainda estava na casa da Clara enquanto dirigia pelas ruas de Madri. O riso de Matías ecoava em minha cabeça, o brilho nos olhos da mãe dela ao ver a nova casa, e Clara... bem, Clara estava mais feliz do que nunca. Isso era tudo o que importava para mim.

Mas então, meu coração acelerou, relembrando o tom da voz de Aurora Montiel, a prefeita da cidade que conseguiu cortar minha tranquilidade como uma lâmina afiada.

Naquele instante, um mal-estar tomou conta do meu corpo. Minha mãe. Na casa da prefeita. Isso nunca significava algo bom.

Acelerei pelas ruas, o coração martelando no peito. Quando cheguei ao portão da enorme mansão de Aurora, fui recebido por seguranças que, sem dizer uma palavra, me levaram até a sala principal.

E lá estava ela.

Minha mãe, sentada no sofá de couro caríssimo, os cabelos desalinhados, os olhos fixos no chão. Ela não me olhou quando entrei.

Mas Aurora olhou.

Ela estava de pé ao lado da lareira, segurando uma taça de vinho tinto e me encarando como se já tivesse vencido uma batalha que eu nem sabia que estava lutando.

— Que bom que veio rápido. — ela disse, com um sorriso que não alcançava os olhos.

Me aproximei da minha mãe, meu coração se apertando ao vê-la naquele estado.

— O que aconteceu? — Segurei as mãos geladas dela, o olhar estava longe.

Aurora soltou um riso curto, quase cínico.

— Sua mãe tentou abrir meu cofre. — Disse ao se sentar em uma das poltronas de couro.

Eu congelei.

— O quê?

Meu olhar se virou para minha mãe, esperando que ela negasse, que dissesse que era um mal-entendido. Mas tudo o que ela fez foi continuar encarando o chão, mexendo nervosamente no anel que usava no dedo.

Minha garganta secou.

— Isso não pode ser verdade. — Me aproximei de Aurora e fui parado por um dos seguranças.

— Ah, mas é. — Aurora deu um gole no vinho, seus olhos brilhando de diversão. — Como nós duas fomos amigas por anos, ela sabia a senha. Só que, infelizmente para ela, eu cheguei antes que pudesse levar alguma coisa.

Meus punhos se fecharam ao lado do corpo.

— Vai chamar a polícia?

Ela gargalhou.

— E criar um escândalo que possa respingar em mim? Nem pensar. — Levantou-se lentamente e ficou na minha frente.

Havia algo na maneira como ela me olhava, como um predador prestes a abater sua presa.

— Então o que você quer? — Falei entre dentes, com medo do que viria a seguir.

Aurora colocou a taça na mesa e pegou uma pasta preta.

— Eu gosto de resolver as coisas de uma forma mais... estratégica.

Ela retirou um contrato e estendeu para mim.

Peguei o papel com mãos trêmulas e comecei a ler.

"Contrato de relacionamento midiático entre Gabriel Andrade e Catriny Montiel.

Obrigatoriedade de publicações conjuntas em redes sociais.

Aparições em eventos como casal.

Vigência de um ano.

Em caso de quebra de contrato, multa no valor de..."

Meu estômago revirou.

Olhei para Aurora, incrédulo.

— Isso é uma piada.

Ela sorriu.

— Longe disso.

Joguei o contrato na mesa.

— Eu nunca faria isso.

Ela suspirou, como se estivesse lidando com uma criança teimosa.

— Vamos facilitar as coisas, Gabriel. Você e Clara são o casal do momento. Todos estão obcecados com essa história de amor proibido. Mas e se, de repente, começassem a sair boatos ruins sobre a sua namorada?

Como... Como ela sabia que eu e Clara estávamos juntos? Um arrepio gelado subiu pela minha espinha.

— Não se atreva, deixe ela de fora disso! — Gritei tentando me soltar do segurança.

— Eu poderia dizer que ela usou você para conseguir o papel. Que seduziu um dos diretores. Ou talvez que esteja traindo você com alguém do elenco... A mídia adora um escândalo. — O sorriso no rosto estava assustador.

Minha mandíbula travou.

— Se você mexer com a Clara, eu não responderei por mim.

Aurora gargalhou, jogando a cabeça para trás.

— Você acha que pode me ameaçar? Eu sou a prefeita desta cidade. Tenho repórteres no meu bolso, jornalistas sedentos por um furo de notícia. Tudo o que eu preciso é estalar os dedos, e a carreira de vocês dois acaba antes mesmo de começar.

Meu sangue ferveu.

— Você é podre, Aurora!

Ela apenas sorriu, satisfeita.

Mas então, veio o golpe final.

— Ah, e claro... se você ainda estiver hesitante, talvez o mundo goste de saber que a ex-modelo Adriana Herrera se afundou nas drogas e, agora, tenta roubar antigas amigas para sustentar seus vícios.

Meu coração parou.

A imagem da minha mãe nos tabloides, sua história espalhada por todos os cantos... A humilhação. A destruição completa.

Minhas mãos tremiam de raiva.

Eu queria quebrar alguma coisa.

Eu queria gritar.

Mas não podia.

Ela tinha vencido.

Engoli em seco.

Peguei a caneta sobre a mesa.

E assinei o maldito contrato.

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