O irmão da Clara parecia mais filho dela do que irmão. Era impressionante como eles se pareciam, como se a genética dos pais tivesse atingido a perfeição.
— Se não fosse pela diferença de idade, diria que vocês são gêmeos. — Falei de dentro do meu carro, com um sorriso divertido no rosto.
Clara ficou visivelmente desconfortável por alguns segundos, como se tivesse esquecido que eu estava ali para dar uma carona. Seu rosto corou levemente, mas ela se recompôs rápido.
— Muito obrigada pela carona, mas acho que daqui posso chamar um táxi ou um Uber. — Disse, a voz baixa e hesitante enquanto se aproximava da janela.
O vento bagunçava seus cabelos loiros, dando a ela um ar de naturalidade que era... desarmante. Tudo em Clara Vega parecia tão genuíno que me pegava de surpresa. Talvez fosse isso que a tornava tão cativante, mais do que eu estava disposto a admitir.
— Esse carro é seu? — O irmão dela, com os olhos brilhando, se inclinou na janela para admirar o interior. — Meu sonho é entrar em um desses. Meu pai amava carros.
Olhei para Clara, esperando algum comentário ou expressão, mas ela desviou o olhar, claramente desconfortável. Havia mais nessa história do que ela deixava transparecer.
— Você é o Titi, não é? — Perguntei, tentando aliviar o clima. Quando Clara prendeu o riso, percebi que tinha acertado o apelido. — Que tal dar uma volta?
— Não seja imprudente, Gabriel! — Clara cortou, séria. — Seu carro só tem dois lugares.
— Sério? Se você não tivesse me contado... — Respondi, fingindo surpresa, o que só a deixou mais irritada.
Ela cruzou os braços, me encarando.
— E como você sugere que façamos isso?
— Ele pode ir no seu colo. Com esses vidros escuros, nenhum policial vai nos parar. — Falei com um tom brincalhão, mas que claramente não ajudou.
— E o que te faz ter tanta certeza disso? — Clara perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Contatos na prefeitura. — Respondi com um sorriso malicioso, embora aquela frase quase me fizesse revirar os olhos de mim mesmo.
Para minha surpresa, ela cedeu. Clara deu a volta no carro, acomodou o irmão no colo e digitou o endereço no GPS. Não dissemos mais nada durante o trajeto, exceto pelo irmão dela, que mencionou casualmente algo sobre a mãe estar fazendo tratamento para câncer.
Aquilo me atingiu como um soco no estômago. Não fiz perguntas – sabia que seria invasivo –, mas a informação não saiu da minha mente.
[...]
Quando chegamos, Clara agradeceu educadamente ao descer do carro, segurando o irmão pela mão. Observei o prédio antigo e o bairro humilde ao redor.
— Então é aqui que você mora, patricinha? — Brinquei, mas sem intenção de ofender.
— Sim, é aqui. — Ela respondeu, apontando para o edifício e olhando de canto para o irmão.
Antes que eu pudesse dizer algo, ela completou:
— Você... Quer entrar?
O convite me pegou desprevenido. Pessoas raramente me convidavam para suas casas. E, para ser honesto, eu raramente aceitava. Minha vida pessoal sempre foi um terreno complicado. Depois que meu pai deixou minha mãe para viver com outra mulher, nossas portas se fecharam para qualquer tipo de visita.
— Minha mãe gostaria de conhecer alguém do meu trabalho. — Clara acrescentou, parecendo genuína.
Algo na sinceridade dela me desarmou.
— Não tenho nada para fazer agora. — Respondi, desligando o carro e saindo para segui-la.
O prédio era modesto, com sinais evidentes de idade, mas parecia bem cuidado. Subimos pelo elevador, e o cheiro de metal novo indicava que ele havia sido instalado recentemente. Assim que entramos, um cheiro delicioso de bolo de chocolate invadiu minhas narinas. A cozinha, visível da sala, parecia ser o coração da casa. O apartamento era pequeno, mas aconchegante, com uma mistura de móveis simples e fotos de família espalhadas pelas paredes.
— Mãe? Trouxe visita! — Clara anunciou enquanto tirava o sobretudo e o deixava no sofá. — Pode se sentar, ela já vem com um café.
Me acomodei, observando cada detalhe ao meu redor. Tudo ali parecia tão diferente do mundo que eu conhecia, mas havia algo reconfortante naquela simplicidade.
Uma mulher apareceu na porta da cozinha, enxugando as mãos num avental roxo. Ela era a cara da Clara, exceto pelos cabelos pretos e os traços mais maduros.
— Ah, tudo bem? — Perguntou, com um sorriso caloroso. — Sou Cármen, mãe da Clara e do Matías! — Ela se apresentou, estendendo a mão.
Levantei-me de imediato, apertando a mão dela com cuidado.
— Gabriel Herrera, colega da Clara no novo filme.
O sorriso dela se abriu ainda mais.
— Você é o Crabius! Daquela série! O vilão! — Disse animada, apontando para mim.
— Mãe, menos! — Clara interveio, rindo junto comigo.
Nosso olhar se cruzou naquele momento, e algo em mim soube que aquela mulher, com sua risada espontânea e simplicidade desarmante, tinha mais a oferecer do que eu podia imaginar.
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Atualizado até capítulo 21
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