Capítulo 7

Voltar para os Estados Unidos nunca foi parte do meu plano inicial.

Quando deixei o Brasil, esperava resolver a crise na filial o mais rápido possível e retornar. Mas como sempre, problemas se desenrolaram em cascata.

Atrasos de fornecedores, pagamentos supostamente não processados, investidores preocupados exigindo reuniões intermináveis.

Nada que eu já não tivesse lidado antes, mas dessa vez, algo estava diferente.

Dessa vez, minha cabeça estava em outro lugar.

E eu sabia exatamente onde.

Ah… aquela mulher. Tão bela, tão inocente.

Qual homem não se encantaria por ela? Claro, todos os homens. Todos os que enxergam além do óbvio, além do que está diante dos olhos. Mas Eduardo nunca foi um desses homens.

Não, meu filho é um moleque. Um garoto mimado que nunca soube o que significa ter algo realmente valioso ao lado.

...— Nova York, sede da filial Vasconcellos Corporation.—...

Sentei-me à cabeceira da longa mesa de reunião, os olhos varrendo os rostos dos presentes. Todos estavam tensos, ansiosos para ouvir o que eu tinha a dizer.

Michael Carter, meu diretor de operações, começou a falar.

— Senhor Vasconcellos, revisamos todos os contratos e, como suspeitamos, os fornecedores receberam os pagamentos, mas houve um desvio na intermediação.

Cruzei os dedos sob o queixo.

— Alguém está roubando a empresa.

Michael assentiu.

— Exatamente. E não estamos falando de pouco dinheiro. Estimamos um prejuízo de mais de cinco milhões de dólares nos últimos meses.

Meu olhar permaneceu fixo nele, impassível.

— Já sabem quem foi?

Ele respirou fundo antes de dizer:

— Sim. Temos provas que ligam um dos gerentes financeiros ao esquema. Ele vinha falsificando relatórios e desviando os valores para contas no Caribe.

Me inclinei para frente, observando os documentos à minha frente.

— Esse homem trabalha para nós há quanto tempo?

— Sete anos.

— Então ele acha que me conhece.

Michael engoliu seco.

— O que deseja que façamos?

Virei-me para o advogado que estava na sala.

— Já entraram com ação judicial?

— Sim, senhor. A polícia já está rastreando os fundos e, em breve, ele será preso.

Assenti, satisfeito.

— Ótimo.

Fechei a pasta de documentos e levantei-me.

— Agora, chega de reuniões. A situação está resolvida. Estou voltando para o Brasil.

Ninguém ousou contestar.

Peguei meu telefone e saí da sala sem olhar para trás. Eu havia passado tempo demais fora. E já estava na hora de voltar.

...— Horas depois, em um hotel…—...

Enquanto arrumava minha mala, o celular tocou. Olhei para a tela e meu maxilar imediatamente se contraiu. Eduardo.

Atendi sem qualquer traço de paciência na voz.

— Fale.

Meu filho sempre hesitava por um segundo quando percebia que eu não estava no humor para conversas triviais. Mas, dessa vez, ele parecia animado demais para se importar.

— Pai! Como vai? Espero que esteja resolvendo tudo por aí.

— Fale logo, Eduardo. Não tenho tempo para joguinhos.

Ele riu baixinho do outro lado da linha, o que apenas me irritou mais ainda.

— Calma, senhor Vasconcellos. Eu só queria compartilhar uma novidade.

Fiquei em silêncio.

Então ele soltou a bomba:

— Quero que conheça minha nova noiva.

O tempo pareceu parar.

— O quê? — Minha voz saiu gélida.

Eduardo riu novamente, como se estivesse se divertindo com aquilo.

— Você ouviu bem. Já que Mariana se foi, eu segui em frente. Estou noivo novamente e quero que a conheça.

Meus dedos apertaram o telefone com mais força.

— Quando deixou Mariana?

— Ontem mesmo.

— Você não perdeu tempo, quem diria que você não passa de um moleque irresponsável.

— Por que perderia? Mariana nunca significou nada. Foi um erro do passado. Agora tenho alguém à altura do meu nome. Sempre amei Bianca, e agora vou assumi-la.

Fechei os olhos por um momento, lutando contra a vontade de quebrar algo.

— Você acha que isso me interessa? Não estou afim de conhecer sua nova conquista.

O silêncio dele foi breve, antes de responder com um tom mais contido:

— Achei que gostaria de estar presente para ver meu futuro.

Ri sem humor.

— Eduardo, seu futuro nunca me interessou. Apenas os estragos que você causa no presente. Quando pensa em desenvolver? Hã? Ainda continua sendo infantil, ainda não é um homem.

A irritação finalmente apareceu na voz dele.

— Por que você sempre se coloca contra mim? Por que sempre fica ao lado de quem não deveria?

Meus olhos se estreitaram.

— Está falando de Mariana?

Ele riu baixinho.

— Você sempre gostou dela, não é?

Minha respiração ficou pesada.

— Não seja ridículo. O que fez com essa moça, não se faz a nenhuma outra mulher.

— Então me diga, por que você ajudou ela? Por que pagou as contas do velho dela? Ou acha que nunca descobriria?

Minha mandíbula travou.

Ele sabia.

Claro que sabia.

— Porque, ao contrário de você, eu não sou um parasita. Fiz por ela, o que você deveria ter feito como marido. — Rosnei.

Silêncio.

Dessa vez, um silêncio mais longo.

Então ele suspirou.

— Não importa. Estou seguindo em frente.

Minha voz saiu sem emoção:

— E Mariana? Não vai dar nada a ela mesmo?

Ele hesitou, mas depois respondeu com frieza:

— Ela que se vire, para mim já basta o prejuízo que ela me deu.

Meu punho se fechou.

— Cuidado com as palavras, Eduardo.

— E por quê? O que vai fazer? Voltar correndo para salvar a pobre Mariana em apuros, da mão da ovelhinha negra, que sou eu? Eu não quero nada com aquela mulher, por mim ela faz o que quiser da vida, já basta os dois anos e meio que perdi da minha vida com ela.

Ele estava tentando me provocar. Mas não funcionaria.

— Não preciso salvar ninguém. Mas se descobrir que você fez algo contra ela, não haverá um buraco nesse mundo onde você possa se esconder de mim. Eu te ensinei a ser um homem, ainda que suas ações sejam infantis.

— Ameaça, pai?

— Constatação.

Ele riu de novo, mas dessa vez, não havia diversão.

— Nos vemos em breve, então.

E desligou.

O silêncio preencheu o quarto.

Fiquei segurando o celular por um instante antes de colocá-lo de lado.

— Garoto estupido, onde errei na sua educação?

Continuei arrumando minha mala.

Pousei no Brasil no início da noite. O céu estava tingido de tons alaranjados, e o calor do país me envolveu assim que desci do avião. Caminhei pelo aeroporto sem pressa. Eu sabia que algo havia mudado. E não era apenas sobre os problemas na filial ou o fato de Eduardo ter seguido em frente tão rápido. Era algo mais profundo, algo que se instalou em mim desde o dia em que olhei para Mariana e percebi o que ela realmente era. Um diamante bruto, desperdiçado nas mãos erradas.

Entrei no carro que já me aguardava na saída do aeroporto e segui direto para minha casa. A viagem foi silenciosa, apenas meus pensamentos me acompanhando.

Ao chegar em casa, retirei o paletó e servi-me de um uísque. Meu corpo estava cansado da viagem, mas minha mente estava alerta. Peguei o celular e disquei o número de um dos meus contatos confiáveis.

— Quero um relatório completo sobre os últimos dias de Eduardo. Descubra onde ele esteve, com quem se encontrou. Incluindo o que ele está fazendo na minha empresa, se está cuidando direitinho.

A resposta foi rápida.

— Já estou providenciando. Algo mais?

Fiquei em silêncio por um instante antes de dizer:

— Encontre Mariana.

— Mariana Vasconcellos?

Apertei os olhos.

— Não. Apenas Mariana. Encontre ela para mim, quero saber onde vive.

Desliguei e encostei-se à cadeira, girando o copo entre os dedos.

Eu precisava vê-la.

Precisava saber como ela estava.

E, mais do que isso… precisava ter certeza de que Eduardo não a havia ferido mais do que já fez.

Porque se ele tivesse… Dessa vez, não haveria perdão.

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Comments

Marilena Yuriko Nishiyama

Marilena Yuriko Nishiyama

Leonardo se vc soubesse o que o imprestável do Eduardo fez a Mariana,juro que vc deserdaria ele na mesma hora ou até mesmo levando ele na cadeia para ele aprender a respeitar uma mulher

2025-03-24

6

Maria Sena

Maria Sena

O Eduardo tem que tirar ele da direção da empresa, tirar tudo o que tle tem, quero ver a Bianca ainda querer ele pobre. Pegar a Mariana pra ele e mostrar para o estrume do filho dele como um homem de verdade trata uma mulher.

2025-03-25

1

Ivelise Rodrigues

Ivelise Rodrigues

Agora que Leonardo vai descobrir todas as falcatruas do Eduardo, vai tirar tudo dele quero ver o tamanho do amor de Bianca em relação a ele, se ela vai querer

2025-04-07

0

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