Capítulo 4

Passei grande parte da minha vida sozinho.

Perdi minha esposa cedo demais para uma doença cruel, e desde então, não permiti que ninguém ocupasse aquele espaço que ficou vazio. Amá-la foi um privilégio, mas também uma maldição. A dor de vê-la partir, de vê-la definhar pouco a pouco, foi o tipo de sofrimento que nunca desejei a ninguém.

Depois que ela se foi, me foquei no que restava: meu filho e os negócios da família.

Mas Eduardo nunca foi um homem digno.

Eu o criei para ser forte, para ser responsável, para entender que o nome Vasconcellos carrega poder e respeito. Mas ao invés de se tornar o homem que esperava, ele escolheu a arrogância. Sempre tomou decisões impensadas, sempre achou que estava acima das consequências.

E quando soube que ele estava prestes a se casar, fiquei surpreso. Até descobrir quem era a mulher que ele estava desposando.

Mariana.

Eu já sabia quem ela era.

Mesmo antes daquele casamento.

Já a tinha visto antes, há anos, quando ainda era uma garota. Alguém que chamava atenção não pelo brilho exagerado, não pela necessidade de ser notada, mas pela essência silenciosa, pela força nos olhos, pela delicadeza nos gestos.

Eu a vi atravessar a rua, na época que saia da escola. Eu sempre admirei ela em silêncio. Mas era apenas admiração, sem segundas intenções.

E quando soube que era ela quem Eduardo estava tomando como esposa, fiquei feliz por eles.

Mas logo percebi que, ao contrário do que imaginei, aquele casamento não era nada do que deveria ser.

Descobri a verdade.

Descobri que meu filho não a queria. Descobri que ele a desprezava. E, pior, descobri que ele não era um marido, nem ao menos um homem digno ao lado dela.

Na verdade, Eduardo passava as noites na cama de outra mulher.

Ele achou que ninguém perceberia, que eu, Leonardo Vasconcellos, não saberia rastrear os passos do próprio filho.

Mas eu sabia.

Sabia que, depois do expediente, Eduardo não voltava para casa.

Sabia que ele ia direto para o apartamento da amante, onde passava as noites como se fosse um homem livre.

Sabia de cada maldito passo dele.

E isso só serviu para aumentar minha revolta.

Mas o que realmente me fez agir, o que realmente me fez retornar dos Estados unidos e permanecer ao lado de Mariana, foi quando descobri o que Eduardo fez com ela.

A primeira coisa que fiz foi investigar sua vida.

Quis entender por que uma mulher como ela continuava em um casamento onde não era desejada.

E foi assim que descobri sobre seu pai.

O acidente.

A saúde frágil.

Os tratamentos caros.

E então veio o golpe final: Mariana estava bancando tudo sozinha.

Ela trabalhava em uma cafeteria, usando o próprio suor para pagar as despesas médicas do pai, enquanto meu filho, seu marido, dormia em lençóis de seda nos braços de outra mulher.

Aquilo me enfureceu de um jeito que não sentia há anos. Não por pena dela, mas por ódio de Eduardo.

Ele não só desprezava a esposa, ele a abandonou, e a deixou se sacrificar sozinha.

Agora, sentando-me à mesa para o almoço, eu a observava mais uma vez.

Mariana tentava esconder o incômodo que sentia com minha presença. Tentava fingir que não percebia que eu estava olhando para ela.

Mas eu notava tudo.

Cada gesto contido, cada olhar evitado, cada barreira que ela tentava erguer entre nós. E isso só me deixava mais interessado.

Eu nunca desejei uma mulher desde que perdi minha esposa. Nunca achei que voltaria a sentir qualquer coisa por alguém. Não até Mariana

despertar algo que eu não sabia que ainda existia dentro de mim.

E eu não podia mais ignorar. Eu a desejo, e a quero para mim.

Quando terminei de almoçar, continuei sentado ao redor da mesa, observando Mariana de soslaio. Ela se esforçava para não me olhar, focando toda a atenção na comida, mas eu via seus dedos inquietos sobre os talheres. A cada segundo que passava, era como se ela estivesse planejando sua saída.

O celular no meu bolso vibrou, anunciando uma chamada. Peguei o aparelho e vi que era um assunto de trabalho.

Levantei-me sem pressa, ajustando o paletó.

— Com licença, preciso atender.

Mariana apenas assentiu, sem levantar os olhos.

Caminhei até a varanda com o celular ainda vibrando na minha mão. O nome na tela indicava que era Michael Carter, o diretor responsável pela filial da empresa nos Estados Unidos.

Atendi, levando o telefone ao ouvido.

— Carter, o que houve?

— Senhor Vasconcellos, estamos tendo problemas com os fornecedores da filial em Nova York. Atrasos constantes, exigências de reajuste nos contratos e agora uma ameaça de rescisão.

Suspirei, apoiando o cotovelo no parapeito da varanda e massageando as têmporas.

— Eles alegam o quê?

— Que não estão recebendo os pagamentos dentro do prazo estabelecido.

— O que não faz sentido, porque todos os repasses foram feitos corretamente.

— Exatamente, senhor. Estamos revisando as transações bancárias, mas há algo estranho nisso. Além disso, um dos nossos principais investidores quer uma reunião urgente. Ele está preocupado com a situação.

Meu maxilar travou. Isso não era uma simples falha administrativa.

— Quem é o investidor?

— Ethan McGregor.

Fechei os olhos por um instante.

McGregor era um tubarão do mercado. Se ele sentia cheiro de sangue na água, não hesitava em atacar.

— Marque a reunião para amanhã. Eu participarei remotamente.

— Entendido. E sobre os fornecedores?

— Descubram onde está o problema e se os repasses realmente saíram das contas da empresa. Se houve qualquer desvio, eu quero saber quem está por trás disso.

— Faremos isso imediatamente.

— Mais alguma coisa, Carter?

O homem hesitou por um instante antes de continuar.

— Senhor… sua ausência prolongada está sendo comentada nos corredores.

Soltei um riso baixo.

— Desde quando eu sou do tipo que se importa com fofocas?

— Desde nunca. Mas sabem que sua estadia no Brasil não é apenas por questões empresariais.

Minha expressão endureceu.

— E o que estão dizendo?

— Que o senhor está… acompanhando de perto os negócios da família.

— Não estão errados.

Michael riu, mas havia algo contido em sua voz.

— Só espero que isso não acabe desviando sua atenção do que realmente importa.

Apertei o celular com mais força.

— O que realmente importa é garantir que ninguém esteja tentando afundar minha empresa pelas minhas costas.

— Concordo plenamente, senhor.

— Me mantenha atualizado sobre qualquer novidade. Essa noite estarei viajando pra ir, para resolver isso de uma vez, não se preocupe.

— Sim, senhor Vasconcellos.

Encerrei a chamada e guardei o celular no bolso, inspirando profundamente.

Eu sabia que minha presença prolongada no Brasil estava chamando atenção.

Quando finalizei a chamada e retornei para dentro, a mesa já estava vazia.

Mariana havia desaparecido. Isso me fez sorrir.

Ela foge de mim como o diabo foge da cruz. É engraçado. Se continuar fugindo assim, uma hora vai acabar encurralada. E então, quero ver até onde ela consegue fingir que não sente nada.

Porque eu já sinto.

E não estou mais disposto a ignorar isso.

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Comments

Marilena Yuriko Nishiyama

Marilena Yuriko Nishiyama

ah Leonardo espero que vc descubra que seu próprio filho está fazendo um desfalque tão grande na empresa,pois seu filho é um imprestável e muito imaturo

2025-03-24

11

Maria Sena

Maria Sena

Eita, o Leonardo achando que ia partir para atacar a sua caça, que é a Mariana, vai ter que lidar com o estrume do filho Eduardo. Mas também minha gente quando esse Deus grego começar a
mostrar as suas habilidades vai ser coisa de louco 🤪.

2025-03-25

1

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

vejo que você não investigou o suficiente sobre o casamento de Eduardo com Mariana Leonardo, por qual motivo ele casou é isso que você tem que investigar.

2025-03-25

1

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