Capítulo 3

Eu não sabia o que sentir. Ignorei totalmente o olhar de Leonardo sobre mim e me mantive firme. Decidida, perguntei qual seria o seu pedido. Ele abriu um sorriso incrédulo, como se soubesse exatamente que eu queria fugir do assunto. Seus olhos castanhos me analisaram por um instante antes de finalmente dizer:

— Sente-se, Mariana.

Cruzei os braços e balancei a cabeça.

— Eu não posso, estou trabalhando.

Mas ele não aceitou minha resposta. Leonardo simplesmente se levantou e puxou uma cadeira para mim, como se fosse um gesto natural. Seu olhar firme deixou claro que não aceitaria um não como resposta.

— Apenas alguns minutos, por favor! — Pediu, olhando para mim.

Suspirei, percebendo que não conseguiria evitar aquilo. Havia algo em sua postura que me deixava desconfortável, uma firmeza que não dava espaço para questionamentos. Talvez fosse a forma educada como ele se portava, ou o fato de que, pela primeira vez, alguém realmente parecia querer conversar comigo sem esperar nada em troca.

Sentei-me, sentindo as pernas fraquejarem.

Ele fez um sinal discreto para uma das funcionárias, que logo se aproximou para nos atender. Leonardo não precisou dizer nada, apenas olhou para ela, e a mulher acenou rapidamente, entendendo o pedido sem que ele precisasse falar.

Eu não sabia dizer se isso era charme ou apenas o efeito natural que ele causava nas pessoas.

Pouco tempo depois, a garçonete voltou, trazendo dois cafés frescos e uma pequena bandeja com biscoitos amanteigados. Colocou tudo com cuidado na mesa, lançando um olhar curioso para mim antes de se afastar.

Eu deveria pegar minha xícara e beber, mas meu corpo estava tenso demais. Se eu pegasse na xícara, ele logo perceberia o quanto eu estava nervosa.

— Agora podemos conversar — Leonardo disse, apoiando os braços sobre a mesa e mantendo aquele olhar intenso sobre mim.

Segurei o avental com força, sentindo um incômodo estranho crescer dentro de mim.

— Sobre o quê?

— Sobre você.

Minha respiração falhou levemente, mas rapidamente recuperei o controle.

— Não há nada para se saber sobre mim.

Leonardo riu, um riso quase divertido.

— Você trabalha aqui há quanto tempo?

O desconforto aumentou.

— Por que quer saber?

— Apenas curiosidade.

Mordi o lábio inferior e soltei um suspiro discreto.

— Dois anos.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Dois anos?

Não gostei do tom surpreso em sua voz. Algo nele me dizia que estava ligando os pontos.

— E Eduardo, sabe?

O nó na minha garganta ficou mais apertado.

— Ele nunca perguntou.

Leonardo estreitou os olhos, como se analisasse cada detalhe da minha resposta.

— Interessante.

Ele pegou sua xícara e tomou um gole do café, ainda me observando.

Desviei o olhar, incomodada com aquela conversa.

— Então, além do café e dos biscoitos, há mais algum pedido?

Tentei trazer o foco para o motivo real de ele estar ali, ou pelo menos o que eu achava que era o real motivo.

Leonardo apoiou o cotovelo na mesa novamente, inclinando-se um pouco mais para mim.

— Ainda não decidi se faço um pedido ou se apenas descubro algumas respostas.

Meu corpo ficou tenso.

— Que respostas?

Ele girou a xícara entre os dedos, parecendo escolher bem as palavras.

— Algo me diz que há muitas coisas que você ainda não contou.

— Eu não tenho nada para contar.

— Não?

Ele ergueu uma sobrancelha, claramente sem acreditar.

Fiquei irritada.

— Por que essa insistência em saber sobre mim, Leonardo?

Ele sorriu de leve, mas era um sorriso que não alcançava os olhos.

— Porque me interesso pelo que está à minha volta, Mariana. Principalmente quando algo não parece certo. Você está casada com meu filho, o que faz de você minha nora, parte da minha família. Eu me preocupo.

Minha respiração ficou presa na garganta, ele está desconfiado.

Peguei minha xícara, bebi um gole de café e me levantei.

— Eu realmente preciso voltar ao trabalho.

Leonardo apenas observou.

— Até quando vai fugir?

— Até quando vai insistir em um assunto, que só diz respeito a mim e ao seu filho?

Ele inclinou a cabeça levemente para o lado, analisando minha expressão.

— Até conseguir tirar as minhas dúvidas. Mas não se preocupe, teremos bastante tempo.

Minha mandíbula travou.

Peguei meu bloco de anotações e segurei firme.

— Tenha um bom dia, senhor Vasconcellos.

Virei-me rapidamente, indo até o balcão. Meu coração estava batendo forte demais, minha mente a mil.

Leonardo estava começando a perceber que algo não fazia sentido. E eu precisava descobrir o que ele sabia, antes que ele descobrisse tudo sozinho.

Meio dia, meu expediente finalmente acabou. Sentia meu corpo cansado, mas minha mente ainda estava presa na conversa que tive com Leonardo mais cedo. Algo no jeito dele me inquietava.

Entrei no vestiário, tirei o avental e troquei de roupa rapidamente. Tranquei meu armário e, ao invés de pegar o ônibus como de costume, decidi chamar um táxi. Não queria pensar demais, mas uma parte de mim ainda refletia sobre o que ele disse.

"Teremos muito tempo."

O que ele quis dizer com isso?

Se ele soubesse que eu pego um ônibus todos os dias para ir ao trabalho, morreria do coração.

Quando o táxi parou em frente à casa, paguei o motorista e desci. Preferi fazer o restante do caminho a pé, atravessando a calçada e subindo os poucos metros até a entrada.

Abri a porta e fui direto para o meu quarto. A casa estava silenciosa, e imaginei que Eduardo ainda estivesse na empresa, como sempre.

No quarto, me despi e segui para o banheiro. A água quente relaxou meus ombros tensos, e eu tentei, por alguns minutos, afastar todas as perguntas que insistiam em surgir na minha mente.

Leonardo estava me observando demais.

Leonardo estava perguntando demais.

O que exatamente ele estava tentando descobrir?

Depois do banho, sequei o cabelo com uma toalha e me sentei na beirada da cama, massageando meus pés cansados. O dia na cafeteria havia sido agitado, mas a exaustão física era o menor dos meus problemas.

Meu maior problema era que, pela primeira vez em muito tempo, alguém estava prestando atenção em mim.

E isso me assustava.

Assim que terminei, vesti uma roupa leve e desci para almoçar. Já estava sentindo fome e esperava que a casa estivesse vazia o suficiente para que eu pudesse comer em paz. Mas, para minha surpresa, Leonardo estava sentado à mesa de almoço.

Minha respiração travou por um instante.

Ele estava ali, relaxado, sendo servido pelas funcionárias, como se fosse algo natural. Mas não era.

Nunca era.

Desde quando ele almoçava aqui?

Hesitei por um momento antes de entrar no cômodo. Ele me viu imediatamente e me mostrou um sorriso ladino, erguendo ligeiramente o copo com um pouco de vinho.

— Que bom que chegou, Mariana. Venha almoçar.

Minha garganta secou.

Pisquei algumas vezes, tentando organizar os pensamentos.

O que ele estava fazendo aqui? Por que parecia tão à vontade?

Respirei fundo e me aproximei da mesa, sentando-me de frente para ele. Uma das funcionárias prontamente me serviu, e Leonardo continuou a me observar.

— Como foi o trabalho? — Ele perguntou, cortando a carne em seu prato.

Peguei o garfo, tentando me concentrar na comida.

— Normal, como sempre.

— Hm. — Ele mastigou devagar, ainda me olhando. — O que significa que já faz dois anos que sua rotina é a mesma.

Parei de mastigar por um segundo.

Ele estava voltando a esse assunto?

Baixei os olhos para o prato e dei de ombros.

— Todo trabalho tem rotina.

— Isso é verdade. Mas você nunca pensou em mudar?

Engoli em seco.

— Por que mudaria?

Leonardo tomou um gole do vinho e sorriu, mas seu olhar dizia algo mais.

— Talvez porque você mereça algo melhor.

Meu coração acelerou levemente.

Aquela conversa estava começando a me incomodar.

Larguei os talheres.

— Você não veio até aqui só para almoçar, veio?

Leonardo inclinou a cabeça levemente, apoiando os braços na mesa.

— Na verdade, vim ver meu filho. Mas já que ele nunca está em casa, estou aproveitando a comida. E resolvendo se fico por aqui por longo tempo.

A forma casual como ele falou me deixou desconfiada. Eu sabia que Leonardo não dava ponto sem nó. Mas ele parecia confortável, relaxado, como se realmente estivesse ali apenas por hábito.

Algo me dizia que ele não iria parar de me observar tão cedo. E eu não sabia se isso era bom ou ruim.

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Comments

Marilena Yuriko Nishiyama

Marilena Yuriko Nishiyama

seria mais fácil vc Mariana se abrisse com o seu sogro a respeito do filho imprestável que ele tem 🤨

2025-03-24

10

Andreia Cristina

Andreia Cristina

Leonardo não é besta já tá sacando o que está acontecendo ao seu redor quero q ele tire tudo do imprestável do filho aí quero ver se o amor da Bianca por ele é verdadeiro ou apenas interesse

2025-03-24

2

Maria Sena

Maria Sena

Eita que a batata do Eduardo tá assando, e a Mariana no fundo ela tem vergonha da vida de merda se casada dela. Mariana ae prepara minha filha, que o Leonardo vai te espremer até descobrir a verdade.

2025-03-25

1

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