Capítulo 6

Minhas mãos tremiam enquanto eu fechava a mala. Meu corpo ainda doía, cada hematoma, cada corte no rosto me lembrava do que aconteceu. Eduardo tinha ultrapassado todos os limites.

Mas eu não ficaria para ver até onde ele iria.

Peguei meu celular e liguei para Ane, minha amiga do trabalho. Eu nunca pedi nada a ninguém, mas dessa vez, não tinha escolha.

— Ane, preciso de um favor.

A preocupação em sua voz foi instantânea.

— O que houve, Mari? Você tá bem?

— A gente pode conversar quando eu chegar aí? Preciso de um lugar para ficar por uns dias.

— Claro! Meu apartamento é pequeno, mas tem um quarto vago. Pode vir agora!

Agradeci e desliguei.

Peguei as chaves de um dos carros de Eduardo. O favorito dele.

Se ele achava que podia me chutar como um lixo, que ele sentisse pelo menos um pouco do gosto de perder algo que gostava.

Joguei minhas malas no porta-malas, entrei no carro e fui embora sem olhar para trás.

Quando cheguei à casa de Ane, estacionei o carro na frente da casa dela.

Assim que bati na porta, Ane abriu e me puxou para dentro num abraço apertado.

— Meu Deus, Mariana… o que ele fez com você?

Ela olhou meu rosto machucado, os olhos se enchendo de indignação.

— Você precisa denunciar esse desgraçado!

Suspirei, sentindo um cansaço imenso me atingir.

— Não posso. Ele ameaçou meu pai. Se eu for à polícia, ele pode fazer algo contra ele.

Ela cerrou os punhos, claramente lutando contra a raiva.

— E o que você vai fazer? Ficar fugindo? Se escondendo?

Desviei o olhar.

— Por enquanto, preciso de um tempo para pensar.

Ane suspirou e assentiu.

— Tudo bem. Você pode ficar aqui o tempo que precisar.

Ela me ajudou a cuidar dos ferimentos, limpando os cortes no meu rosto. Mostrou-me o quarto vago, onde organizei minhas coisas no canto antes de finalmente me deitar.

O colchão era macio, mas minha mente não me deixava descansar.

Eu estava segura por agora.

No dia seguinte, acordei cedo e me arrumei para o trabalho. Ane insistiu que fôssemos no carro dela, então deixamos o carro de Eduardo bem escondido na garagem da casa dela.

No restaurante, tentei manter o foco, agir como se fosse um dia normal, mas minha cabeça estava uma bagunça.

Quando voltamos para casa, ja na parte da noite, meu corpo estava exausto. Mas qualquer resquício de cansaço sumiu quando vi um carro estacionado em frente ao prédio.

Eu sabia que Eduardo viria.

Desde o momento em que saí daquela casa, pegando o carro que ele mais amava, estava ciente de que ele viria atrás.

Ele estava ali, encostado no seu veículo, os braços cruzados, esperando.

Ane percebeu e soltou um palavrão baixo, apertando o volante com força.

— Aquele desgraçado não perde tempo, hein?

Minha garganta secou.

— Ele quer o carro.

Ela me olhou de canto.

— Só o carro?

Eu acreditava que sim.

— Vou resolver isso. Fica aqui.

Saí do carro, tentando ignorar o medo que rastejava sob minha pele. Eduardo me acompanhou com os olhos enquanto eu me aproximava, um sorriso debochado se formando em seus lábios.

— Mariana, vim buscar o meu carro, ele não pertence a você.

Cruzei os braços, tentando parecer mais forte do que me sentia.

— Se pertence ou não, pelo menos me serviu para sair daquela casa.

Ele riu, aquele riso frio que me causou arrepios.

— Espero que tenha aproveitado bem. Agora, pegue meu carro e traga para mim.

Respirei fundo, puxando as chaves da bolsa e fui até a garagem, enquanto eu escutava ele dizer:

— Boa garota, obediente igual uma cachorrinha.

Eduardo achava que podia simplesmente aparecer, sorrir da minha cara e seguir sua vida como se nada tivesse acontecido. Mas ele não esperava que eu tivesse um pouco mais de fogo dentro de mim.

Literalmente.

Enquanto ele esperava, algo dentro de mim se acendeu. Se ele queria o carro, eu daria a ele.

Mas não do jeito que ele esperava.

Meu olhar caiu sobre o veículo estacionado na garagem. O carro dele. O favorito. O melhor do ano. O caro. Aquele que ele tratava melhor do que me tratava.

O sangue ainda pulsava no meu rosto pelas agressões da última vez, mas, naquele momento, eu só sentia um tipo de dor: ódio.

E Eduardo estava prestes a entender o que acontece quando se brinca demais com fogo.

Ane me olhava com atenção, já me conhecia o suficiente para saber que eu estava prestes a fazer algo grande. Mas, dessa vez, ela não tentou me impedir. Talvez porque, no fundo, soubesse que eu merecia essa vingança.

Eduardo estava ligando para alguém, claro, deve ser para a amada dele. Olhei para ele e falei, firme:

— Você quer tanto esse carro, não é?

Ele parou e se virou para mim, arqueando uma sobrancelha.

— O que você quer agora, Mariana? pegue a porra do carro e não me faça mas perder tempo. Tenho um encontro, estou atrasado.

Abri um sorriso irônico.

— Sim, querido.

Enquanto ele estava distraído conversando com a outra, eu peguei as chaves de casa com Ane, Peguei o galão de gasolina que Ane usava para emergências, e um esqueiro, e voltei, sentindo cada célula do meu corpo vibrar com adrenalina.

Tirei o carro de dentro da garagem, parando diante dele que estava de costas falando no celular com um sorriso de felicidade. Até que eu comecei a despejar o líquido sobre o carro.

Ele sentiu o cheiro forte e encerrou a ligação olhando para mim.

— Mariana, que porra é essa?

— Ah, amor, não precisa ficar nervoso. É só um pequeno presente de despedida.

Ele tentou chegar perto de mim, para tomar as coisas das minhas mãos.

— Se chegar perto de mim, juro que também toco fogo em você — Rosnei jogando gasolina nele, pegou na metade de suas pernas — já pensou você ficar com parte do corpo queimado, e sua amada não te querer mais, nenhuma mulher iria te querer Eduardo.

— Mariana por favor, pare com isso. Me dê as chaves do meu carro, não faça merda.

— Ou o quê? Vai me bater novamente? É isso? Tenta, tenta novamente seu maldito infeliz, e toco fogo em você, nem que eu passe muitos anos numa cadeia. — Rosnei entre dentes.

Ane me olhava com atenção, seus olhos arregalados, mas ainda sem dizer uma palavra.

— Mariana, não seja estúpida. — Sua voz estava carregada de ameaça, mas também de medo.

Pela primeira vez, ele não estava no controle.

Eu estava.

Abri um sorriso de escárnio.

— Sabe, Eduardo, eu fui obrigada a aguentar muitas coisas nesse casamento. Suas traições, suas humilhações, suas agressões. Você achou que eu fosse ficar quebrada para sempre? Que eu fosse sair desse maldito casamento sendo o tempo inteiro a mocinha ingênua?

Acendo o isqueiro. Uma chama se acendeu, dançando sobre a ponta.

Os olhos de Eduardo se arregalaram.

— Mariana, não faz isso!

Mas eu já tinha feito.

Joguei o isqueiro sobre o capô e, em segundos, uma labareda subiu, espalhando-se pelo carro como um incêndio devastador.

O barulho do fogo engolindo a lataria foi ensurdecedor. O calor se espalhou pelo ar, iluminando meu rosto e refletindo no olhar horrorizado de Eduardo.

Ele ficou paralisado.

Imóvel.

Assistindo seu carro, seu bem mais precioso, ser reduzido a cinzas diante de seus olhos.

O mesmo carro que ele tratava como um troféu.

O mesmo carro onde, provavelmente, levou sua amante incontáveis vezes. Agora, estava queimando. E eu nunca me senti tão livre.

— Pega as chaves do seu carro — joguei as chaves para ele, que ele pegou no ar, ainda olhando para o mesmo pegando fogo.

Eduardo pegou o celular e discou um número, acho que era para a polícia que ele estava ligando.

— Se você ligar para a polícia, eu farei o corpo de delito com todo prazer, e ferro com sua vida miserável. — tentei ir pra cima dele, mas Ane me segurou.

Então ele parou, colocou o celular no bolso da calça social, e passou as mãos nos cabelos.

Ane me puxou para longe antes que as chamas pudessem nos atingir.

O barulho dos vizinhos saindo para ver o que estava acontecendo se misturava ao desespero de Eduardo.

Ele assistia desesperado, sem poder fazer nada.

— SUA DESGRAÇADA! — Ele berrou, os punhos cerrados.

Mas eu não me importava.

Eu já estava livre dele.

Olhei para ele uma última vez, sem um pingo de arrependimento.

— Você pode ficar com os restos, Eduardo. Esse é o único tipo de coisa que te sobra no final.

E então, sem olhar para trás, entrei em casa, deixando Eduardo e suas cinzas para trás. Até o momento em que um carro de bombeiros chegou e apagou o fogo. Não sobrou nada do carro.

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Comments

Marilena Yuriko Nishiyama

Marilena Yuriko Nishiyama

bem feito a vc Eduardo,tomara que vc fique sem nada e que sua vida ande para trás e espero que seu pai deserde vc,deixe vc na miséria ,seu escroto 🤬🤬

2025-03-24

10

Anonyamor

Anonyamor

Iupiiiii ! Caracas da p#rr@ que muito legal!!! É isso Mariana é assim mesmo que se faz com um covarde canalha que só te fez sofrer. Pena que vc não pode atear fogo nele, pq o brinquedinho dele ficaria chamuscado 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣

2025-03-26

2

Iry Silva 🔖

Iry Silva 🔖

Caramba eu adorei, muitas palmas para Mariana, mas se fosse ela faria um exame de corpo delito para sua segurança, se precaver nunca é demais, nunca se sabe quando vai precisar.

2025-03-27

1

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