A noite foi difícil para Annyh. Gabriel estava visivelmente irritado e a tensão no ar era palpável. Ela sabia que ele tinha razão em se sentir assim. Não tinha contado nada sobre o encontro com Sebastian, e Gabriel sempre considerou Noah como seu filho. Mas, ao mesmo tempo, ela não queria que as coisas se complicassem mais, e não sabia o que fazer com os sentimentos conflitantes que estavam surgindo.
Na manhã seguinte, o clima estava nublado, refletindo a sensação de incerteza que ela sentia. Gabriel se levantou cedo, como sempre fazia, pois era médico e tinha plantão. Ele não se despediu, o que fez com que Annyh se sentisse ainda mais distante. Ela entendeu, ele estava irritado e a conversa da noite anterior ainda pairava no ar. Ela olhou para Noah, que ainda estava dormindo em seu quarto. Com um suspiro, foi se preparar para o trabalho, já que não podia faltar.
Annyh era diretora de uma grande agência de relações públicas, uma empresa renomada no ramo, responsável por cuidar da imagem de várias marcas e figuras públicas. Ela tinha uma rotina agitada, sempre correndo de uma reunião para outra. Hoje não seria diferente. Quando chegou ao escritório, já encontrou os colegas discutindo estratégias para um novo cliente de alto perfil, uma empresa no setor de tecnologia. Durante a manhã, ela trabalhou intensamente, gerenciando crises de imagem e alinhando a comunicação com os clientes.
Mais tarde, foi chamada para uma reunião importante, que acabaria sendo um encontro com ninguém menos que Sebastian. Ela soubera que a empresa dele estava contratando os serviços de sua agência, e agora ela teria que se encontrar com ele em um ambiente completamente profissional. Annyh tentou se manter focada, pois sabia que deveria agir de maneira impessoal, mas, ao ver o nome dele na agenda, uma sensação de desconforto começou a tomar conta de seu estômago.
Quando chegou ao local da reunião, viu Sebastian já sentado, aguardando. Ele estava impecável, como sempre, com aquele olhar calculista e postura confiante que ela não conseguia ignorar. Ela o cumprimentou com um aperto de mão firme, tentando esconder a tensão. A conversa seguiu de maneira profissional, discutindo os termos do contrato e as estratégias para a imagem da empresa dele. Mas, à medida que os outros membros da equipe de ambas as partes saíam, a conversa foi tomando um rumo mais pessoal, apesar de Annyh tentar manter a distância.
— Então, você tem trabalhado muito, Annyh? — Sebastian perguntou, com um tom mais leve, após os outros saírem da sala. Ela se sentou na cadeira, forçando um sorriso.
— Sim, muito trabalho. Você sabe como é, o dia nunca tem horas suficientes. — Ela desviou o olhar, tentando não ceder à tensão que sentia.
Sebastian não parecia tão disposto a continuar com a conversa profissional. Ele olhou para ela, seus olhos atentos, como se ainda estivesse absorvendo a última interação com o filho dela, o garoto que tinha o nome dele.
— O Noah... — Ele começou, hesitando. — Ele está bem?
Annyh ficou surpresa pela pergunta, mas tentou manter a compostura. Ela cruzou os braços, o corpo inteiro tenso.
— Ele está ótimo, obrigado. Gabriel e eu estamos cuidando bem dele. — Ela tentou ser breve.
Sebastian percebeu a tentativa dela de cortar a conversa, mas não deixou passar. Ele se inclinou levemente para frente, com um olhar mais intenso.
— Eu sei que você não me contou, mas... Por que não me falou sobre ele? — Sua voz não era acusatória, mas tinha uma suavidade que fazia a pergunta parecer ainda mais difícil de responder. — Eu sou o pai dele, Annyh. Não tenho o direito de saber mais?
O clima na sala estava pesado. Annyh se sentia pressionada, mas não podia mais engolir tudo o que estava sentindo. Sebastian havia levantado a questão, e agora era hora de jogar a verdade na cara dele. A dor, a raiva, a frustração… tudo que ela tinha guardado por tanto tempo explodiu de uma vez.
— Por que eu não contei? — Ela repetiu, a voz carregada de emoção, quase como se as palavras queimassem enquanto saíam de sua boca. — Sebastian, você teve a chance de estar aqui. Você teve a chance de ser parte disso, mas você... você desapareceu. Sumiu da minha vida quando mais precisei de você.
Ela parou por um momento, respirando fundo, tentando manter as lágrimas sob controle, mas a dor estava visível em seu rosto. Os olhos dela, que normalmente eram calmos, agora estavam cheios de amargor.
— Eu passei noites chorando por sua causa. Eu tentei te mandar mensagens, tentei me explicar, tentar entender o que tinha acontecido, mas você nunca me respondeu. Eu estava sozinha. Quando descobri que estava grávida, o único que estava lá para mim foi o Gabriel, que era o meu médico, e não você. Ele foi o único que me ajudou a entender tudo, a cuidar de mim quando o meu mundo estava desabando.
A voz dela vacilou por um momento, e as palavras seguintes saíram mais baixas, mas ainda cheias de dor.
— Eu não queria ter o filho seu, sabia? Eu não queria passar por isso sozinha. Eu me odiava toda vez que olhava no espelho. Eu não conseguia ver a mim mesma sem lembrar de você, sem pensar no que havia acontecido entre nós. Mas, mais ainda, não conseguia acreditar que você tinha me deixado. Eu mandava mensagens dizendo que estava grávida, dizendo que ia ter o seu filho, e você nunca respondeu. Você me deixou sozinha, Sebastian, e quando o Gabriel perguntou sobre o pai, eu não tinha o que responder. Não podia dizer que você estaria ali, porque você nunca esteve.
Ela sentiu as lágrimas querendo descer, mas se forçou a segurar. Não queria dar a ele o prazer de vê-la fraca, mas a dor que ela sentia era evidente em cada palavra.
— Eu me sentia tão sozinha, você não tem ideia. Eu precisei do pai do Noah, do seu apoio, e você... você estava longe. Tive que esconder a gravidez por meses, não contei para ninguém, nem para os meus pais. A única pessoa que sabia de tudo era o Gabriel. Ele foi o único que estava ao meu lado. Ele não só cuidou de mim como também me deu coragem para seguir em frente.
A voz dela se quebrou de novo, mas ela não parou. Ela precisava continuar, precisava fazer com que ele sentisse a dor que ela sentiu, precisava jogar tudo na cara dele.
— Quando a gente descobriu o sexo do bebê, onde estava você? Não estava lá. Eu não tinha ninguém ao meu lado. Só o Gabriel, ele foi o único que estava lá. Ele foi o único que se importou. E quando os meus pais descobriram que eu estava grávida, quem teve que lidar com a vergonha de estar sozinha nessa situação? Não foi você. Foi eu. Não foi você que teve que dar explicações. Foi eu. E mesmo assim, quando todo mundo começou a aceitar, quem foi o único que ficou ao meu lado? O Gabriel, Sebastian. O Gabriel foi quem esteve presente.
Ela olhou para ele com um olhar feroz e determinado. Não havia mais dúvida em sua mente. Ela tinha tomado a decisão, e estava disposta a defendê-la até o fim.
— E você sabe o que eu decidi, né? O Gabriel vai ser o pai do Noah. Ele sempre foi, ele esteve lá quando você não estava. E você... você não tem mais lugar na vida dele. Não tem mais nada o que fazer aqui. Porque o Gabriel não sumiu, ele não me abandonou, e é ele quem merece ser o pai do Noah, e não você.
Annyh finalmente se calou, sentindo uma paz estranha no peito, como se tivesse tirado um peso das costas. Ela o observava agora, e sabia que ele a odiaria ainda mais, mas não importava. Ela se sentia livre para finalmente colocar tudo para fora.
Agora era a vez de Sebastian ouvir.
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Atualizado até capítulo 45
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