O hospital já não era um lugar que a assustava tanto. Desde aquela madrugada em que implorou por ajuda, o médico—Dr. Gabriel Moreau—tornou-se seu único ponto de apoio.
Gabriel, um homem de 30 anos, tinha um jeito sério, mas seu olhar sempre se suavizava quando via Annyh. Algo nela o tocava de uma maneira que ele não conseguia explicar. Talvez fosse a forma como seus olhos carregavam tanto peso, tanta solidão. Ou talvez fosse porque, em anos de profissão, nunca vira alguém tão jovem reagir daquela forma a uma gravidez.
Desde aquele dia, ele não a deixou sozinha.
— Você está comendo direito? — Ele perguntou, enquanto terminava de organizar alguns exames.
Annyh estava sentada na maca do consultório, abraçando os próprios braços.
— Acho que sim… — Sua voz saiu baixa, sem emoção.
Ele suspirou, cruzando os braços.
— Você precisa cuidar de você, Annyh.
Ela soltou uma risada amarga.
— Eu nem queria isso, doutor. Como você quer que eu cuide de algo que eu nem consigo aceitar?
Gabriel a observou por um momento antes de se aproximar, abaixando-se para ficar na altura dela.
— Eu sei que é difícil. Mas ignorar isso não vai fazer desaparecer. Você precisa de alguém, e eu estou aqui.
Ela mordeu o lábio, desviando o olhar.
— Eu só… eu só não consigo.
Mas, no fundo, ela sabia que precisava tentar.
Nos dias seguintes, Gabriel se tornou sua base. Ele a ajudava com consultas, explicava o que estava acontecendo com seu corpo e a tranquilizava sempre que ela surtava.
Mesmo assim, Annyh ainda não conseguia se olhar no espelho sem sentir uma pontada de desespero. Seu corpo estava mudando, mesmo que discretamente. O jeans começou a apertar, sua cintura parecia diferente, e por isso, ela passou a usar roupas largas.
Quando finalmente voltou para a faculdade, Mariana e Camila perceberam algo estranho.
— Você tá diferente. — Mariana comentou enquanto caminhavam pelo corredor.
— Você sumiu por dias e agora só usa essas roupas enormes. — Camila acrescentou, desconfiada.
Annyh apenas deu de ombros.
— Só não estou com vontade de me arrumar.
As amigas trocaram olhares, mas decidiram não pressioná-la.
Só uma pessoa sabia a verdade.
Sempre que sentia o peso do mundo esmagando seus ombros, ela corria até Gabriel. Ele era o único que via seu verdadeiro estado—suas crises de choro, suas noites sem dormir, seus medos.
Mas mesmo com todo o apoio, um buraco continuava em seu peito.
Sebastian.
Ela ainda mandava mensagens para ele.
"Eu não sei se você vai ler isso, mas eu preciso dizer."
"Eu não sei o que aconteceu, mas eu te odeio por ter me deixado assim."
"Eu não posso te perdoar, mas eu ainda queria você aqui."
"Nosso filho está crescendo, sabia?"
"Nosso filho, Sebastian."
Os textos nunca eram respondidos.
E cada silêncio doía mais do que as palavras poderiam expressar.
Annyh sentia que estava afundando. O peso de tudo era esmagador, e naquela noite, ela não aguentou mais.
Com a voz embargada, pegou o celular e discou o número que conhecia tão bem.
— Alô? — A voz da mãe soou cansada do outro lado da linha.
Annyh tentou segurar o choro, mas falhou miseravelmente.
— Mãe…
— Annyh? Filha, o que houve? Você tá chorando?
Ela engoliu em seco. Não podia contar. Não podia quebrar sua mãe daquele jeito.
— Nada… só… só tô com saudade.
Sua mãe suspirou.
— Quer que eu vá até aí? Seu pai pode ir te buscar, você sabe disso.
— Não! — Ela respondeu rápido demais, secando as lágrimas. — Eu… eu só queria ouvir sua voz.
— Filha, você tem certeza de que está bem?
— Tenho. — Mentiu.
Desligou antes que começasse a soluçar.
Ela precisava de alguém.
Com os dedos trêmulos, ligou para Sebastian.
Chamou.
Chamou.
E caiu na caixa postal.
A dor foi cortante, como se ele estivesse ali apenas para lembrá-la de que não se importava mais.
O desespero cresceu. Ela precisava respirar, precisava sentir que não estava sozinha.
Então, antes que perdesse a coragem, ligou para Gabriel.
— Annyh? — A voz dele estava levemente rouca de sono, mas, ao perceber o tom dela, sua atenção ficou alerta. — O que aconteceu?
— Eu… não consigo… — Ela soluçou. — Eu não consigo mais, Gabriel.
O som de chaves tilintando veio do outro lado.
— Fica comigo no telefone. Tô indo pra aí agora.
Ela se encolheu no sofá, abraçando os joelhos, sentindo o coração disparar enquanto a ansiedade consumia seu peito.
Não demorou muito para a campainha tocar.
Quando abriu a porta, Gabriel estava ali, vestindo apenas uma camiseta e uma calça de moletom, o cabelo bagunçado, mas os olhos cheios de preocupação.
— Vem cá. — Ele disse suavemente, abrindo os braços.
Annyh hesitou por um segundo, mas então se jogou contra ele, deixando-se desabar.
Gabriel a segurou firme, as mãos deslizando em um carinho reconfortante por suas costas.
— Ele foi embora… — Ela murmurou contra o peito dele, a voz quebrada. — Ele foi embora e me deixou sozinha…
— Eu sei. — A voz de Gabriel era baixa, quase um sussurro. — E ele foi um completo idiota por isso.
— Por quê? — Ela soluçou. — Por que ele fez isso comigo?
— Eu não sei, Annyh… mas você não tá sozinha.
Ela fechou os olhos, afundando ainda mais nos braços dele, sentindo o calor, a segurança.
Ficaram ali por um tempo, apenas com o som da respiração dela se acalmando aos poucos.
— Você tá tremendo. — Gabriel percebeu, guiando-a até o sofá.
Ele se sentou ao lado dela, puxando-a para deitar a cabeça em seu peito.
— Só dorme, ok? Eu fico aqui.
Annyh não discutiu.
Pela primeira vez em semanas, ela se sentiu protegida.
E, naquela noite, dormiu nos braços de Gabriel.
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Atualizado até capítulo 45
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