Annyh acordou com a luz suave do sol invadindo o ambiente, mas, ao invés de se sentir desconfortável, ela percebeu que estava confortável, enrolada em um cobertor macio no sofá. Seus olhos estavam inchados, sinal de uma noite de choro silencioso. Mas, quando abriu os olhos, algo diferente aconteceu. Não estava sozinha.
Gabriel estava ali, em pé, na cozinha, movendo-se com a mesma elegância de sempre, preparando o café da manhã. Não havia carta, não havia bilhete, nada que a lembrasse de uma despedida. Ele estava ali, mais real do que nunca, e a visão dele preparando algo para ela a fez sorrir, mesmo que a tristeza ainda pesasse em seu peito.
O cheiro do café misturado com algo mais, talvez uma mistura de ovos e pão quentinho, era reconfortante. Ela se sentou lentamente, sentindo o peso do corpo e a sensação de que algo tinha mudado dentro de si. O passado, todo aquele caos e a dor da perda, estava ali, marcado em seu peito, mas agora ela não podia mais se permitir ficar ali. Não podia mais viver para trás, para os momentos que a estavam corroendo, não podia mais permitir que o sofrimento tomasse conta de seu presente.
— Você fez café… — Ela disse, com um sorriso triste, ainda meio incrédula com a cena que se desenrolava diante dela.
Ele virou-se para ela, com um sorriso tranquilo, como se nada tivesse acontecido, como se a dor e o caos que ela enfrentava nunca tivessem existido. Algo em seu olhar a fez sentir uma paz momentânea, como se, naquele instante, tudo fosse possível. Ele se aproximou, com a caneca de café em mãos, e entregou para ela.
— A melhor maneira de começar o dia — disse ele, com aquele sorriso que ela começava a entender ser uma verdadeira promessa de algo mais profundo.
Annyh segurou a caneca com as mãos tremendo um pouco, ainda sem saber como reagir, mas a sensação de não estar sozinha a acalmava. Ela ainda estava lidando com tantas coisas dentro de si, mas agora tinha algo diferente, uma razão a mais para seguir em frente. O que estava crescendo dentro dela, uma vida, não podia ser ignorado. Não podia ser deixado para trás, assim como ela não poderia mais continuar a viver apenas para o passado. Ela tinha que ser forte, mais forte do que nunca.
— Você não precisa me dizer nada. — Gabriel interrompeu seus pensamentos, como se tivesse lido sua mente. — Sei que está difícil, mas você não precisa fazer isso sozinha.
As palavras dele penetraram fundo nela, mais do que qualquer gesto ou promessa. Ela sentiu o peso da responsabilidade que agora carregava, mas também sentiu uma leveza. Era estranho. Ela sabia que a vida seria mais difícil daqui para frente, mas ao mesmo tempo, ela estava pronta para enfrentar o que fosse.
Com o olhar, ela agradeceu, mas o silêncio entre eles era suficiente para transmitir tudo o que ela não conseguia dizer em palavras. Ela tinha uma nova missão agora, uma missão de cuidar de si e do pequeno ser que começava a crescer dentro dela. E, talvez, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que tinha algo pelo que vive.
Gabriel havia feito o café com tanto cuidado, e mesmo com a casa parecendo mais calma, Annyh não conseguia se livrar de um certo peso. Ela sabia que precisava seguir em frente, mas a pressão do momento, com as mudanças e o futuro incerto, a fazia sentir que algo estava começando a pesar mais do que imaginava. Olhou para o café que ele preparara para ela, uma tentativa de cuidar dela da forma que ele sabia fazer, e, por um momento, ficou grata. Mas logo uma sensação de perda tomou conta de seu coração.
Ela precisava de algo mais, algo que não fosse apenas um reflexo do que havia sido. Annyh sabia que seu futuro, agora, passava por uma mudança drástica. O curso de História, que tanto a fascinara antes, já não parecia fazer sentido. Ela não podia mais viver com aquele idealismo, com a ideia de ser professora quando tinha responsabilidades maiores. Ser professora não seria o suficiente para dar o suporte que ela e seu filho precisavam. O dinheiro era pouco, a carreira exigente e, sinceramente, ela não tinha mais o mesmo foco. A maternidade a havia mudado, e ela sabia que precisava fazer mais por ela e pela criança que estava esperando.
O novo caminho estava mais claro. Ela queria algo que a colocasse no mesmo círculo em que as grandes decisões do mundo eram feitas. Um trabalho que não fosse apenas relevante, mas que fosse essencial para sua vida futura. Ela se decidiu: iria para a área de Relações Públicas, ou algo próximo disso. Um cargo que a colocasse diretamente em contato com os grandes nomes da política, das empresas e dos negócios internacionais. Eventos de gala, jantares exclusivos, reuniões com pessoas de influência — era isso que ela queria.
Com o coração mais leve e uma nova perspectiva, Annyh se arrumou para ir à faculdade, determinada a começar esse novo capítulo. O mundo estava lá fora esperando por ela, e ela precisava se integrar a ele, construir uma nova vida para ela e para o filho que estava crescendo em seu ventre. Não ia mais viver do passado. A partir daquele momento, ela seria uma mulher forte, pronta para encarar os desafios que vinham pela frente. E, no fundo, ela sabia que tinha que ser essa mulher por ela mesma e por aquela criança.
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Atualizado até capítulo 45
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