O silêncio estudioso do arquivo foi abruptamente quebrado por um som de passos firmes ecoando pelo corredor empoeirado. Imani e Joon-ho, absortos na análise do registro de casamento recém-descoberto, ergueram os olhos sobressaltados. Na entrada do corredor, erguia-se uma figura imponente, vestindo um terno impecável que contrastava fortemente com a atmosfera antiquada do local. Era Kim Ji-hoon, e a expressão tensa em seu rosto não deixava dúvidas sobre a natureza de sua visita.
“Lee Joon-ho-ssi? Imani-ssi?” Ji-hoon chamou, a voz ecoando levemente no espaço cavernoso do arquivo. Seu tom era formal, quase cortês, mas havia uma frieza subjacente que arrepiou Imani até a espinha. Ele caminhou em direção à mesa onde eles trabalhavam, seus passos ecoando no silêncio carregado.
Joon-ho se levantou, um misto de surpresa e cautela em seu semblante. “Kim Ji-hoon-ssi? O que faz aqui? Como nos encontrou?” A pergunta pairou no ar, carregada de uma implícita acusação.
Imani permaneceu sentada, o coração batendo forte no peito, observando a interação tensa entre os dois homens. Ela sentia o peso do olhar de Ji-hoon sobre si, um olhar analítico e desconfiado que a avaliava de cima a baixo. O clima no arquivo, antes carregado de excitação e descoberta, agora se tornava denso e ameaçador.
Ji-hoon parou em frente à mesa, seus olhos fixos em Joon-ho, ignorando momentaneamente a presença de Imani. “Como eu os encontrei não é relevante, Lee Joon-ho-ssi,” ele respondeu, com um tom seco e direto.
“O relevante é o que vocês estão fazendo aqui. E o que eu descobri sobre a sua… pesquisa.”
Ele lançou um olhar rápido para os documentos espalhados sobre a mesa, o registro de casamento em destaque. “Eu sei sobre o diário. Eu sei sobre a história da escrava africana e do nobre Park. E eu sei sobre… essa… descoberta recente de vocês.” A palavra “descoberta” foi pronunciada com um sarcasmo quase palpável.
Então, Ji-hoon fez uma pausa dramática, antes de revelar a informação que mudaria a dinâmica do confronto. “Talvez vocês não saibam, mas… eu sou Kim Ji-hoon. Descendente direto da família Park Chung-hee. Da família nobre que vocês tanto insistem em… revirar o passado.” Ele disse as palavras com um tom de voz carregado de orgulho e autoridade, como se sua linhagem familiar lhe conferisse um direito inquestionável sobre a história que eles investigavam.
Imani sentiu um choque percorrer seu corpo. Descendente da família Park? Aquele homem moderno e elegante, com sua postura imponente e seu olhar frio, era um herdeiro direto da família nobre que havia escravizado Abena séculos atrás? A realidade da história de Abena, de repente, se tornava ainda mais tangível e complexa, personificada na figura de seu descendente confrontando-a no presente.
Ji-hoon continuou, a voz agora carregada de indignação e acusação.
“Eu devo confessar que estou… extremamente perturbado com o que descobri. Vocês estão mexendo com a história da minha família, expondo… alegações sensacionalistas, baseadas em um diário de autenticidade duvidosa, com o único propósito de… difamar o nome da família Park.”
Ele gesticulou em direção ao registro de casamento com desdém. “E essa… suposta descoberta? Um ‘casamento’ com uma escrava? Francamente, Lee Joon-ho-ssi, isso beira o ridículo. É uma fabricação grosseira, uma tentativa desesperada de… validar uma teoria absurda, em busca de… notoriedade acadêmica, talvez? Ou… sensacionalismo barato para o público estrangeiro?” Seus olhos se voltaram novamente para Imani, avaliando-a com um olhar crítico e desconfiado.
A acusação de sensacionalismo atingiu Joon-ho como um tapa no rosto. Ele, que sempre prezara pela integridade acadêmica e pela busca rigorosa pela verdade, ser acusado de fabricação e sensacionalismo por aquele descendente arrogante era profundamente insultuoso. Seu rosto se contraiu em uma expressão de raiva contida.
Joon-ho respirou fundo, tentando controlar a fúria que fervilhava em seu interior, e respondeu a Ji-hoon com um tom de voz firme e resoluto. “Kim Ji-hoon-ssi, com todo o respeito, o senhor está completamente enganado. Nossa pesquisa não tem
absolutamente nada a ver com difamação ou sensacionalismo. Estamos conduzindo uma investigação histórica séria e rigorosa, baseada em evidências documentais, buscando compreender um período complexo da história coreana e dar voz a figuras que foram silenciadas pelo tempo.”
Ele gesticulou em direção ao diário e ao registro de casamento. “O diário de Abena pode ser um documento pessoal, sim, mas é também um testemunho valioso de uma experiência histórica única. E o registro que encontramos neste arquivo… corrobora a existência de uma união entre Lee Jun-ho e Abena, desafiando as narrativas históricas convencionais e abrindo novas perspectivas sobre a sociedade Joseon.”
Joon-ho elevou o tom de voz, a paixão pela história e a indignação pelas acusações transparecendo em suas palavras. “Não estamos tentando ‘manchar’ o nome da sua família, Kim Ji-hoon-ssi. Estamos buscando a verdade histórica, por mais desconfortável ou inesperada que ela possa ser. A história não deve ser silenciada ou distorcida para proteger reputações familiares. A história pertence a todos, e todos têm o direito de conhecer o passado em sua totalidade, com suas luzes e sombras.”
Imani, até então silenciosa, finalmente se pronunciou, sentindo a necessidade de se colocar ao lado de Joon-ho e defender a importância da história de sua ancestral. Apesar da intimidação da presença imponente de Ji-hoon e do tom acusatório de suas palavras, a determinação de Imani em honrar a memória de Abena e desvendar seu passado permanecia inabalável.
“Kim Ji-hoon-ssi,” Imani disse, a voz firme, embora um leve tremor a denunciasse, “Eu sou Imani. Descendente de Abena. Esta história… não é sensacionalismo para mim. É a história da minha família. É a história da minha ancestral. E eu tenho o direito de conhecê-la. De contá-la. E de honrar a sua memória.”
Os olhos de Imani encontraram os de Ji-hoon, sustentando seu olhar com firmeza, apesar do desconforto. Ela sentia a força de Abena dentro de si, a resiliência de sua ancestral a impulsionando a não recuar diante da oposição. “O senhor pode tentar nos intimidar, Kim Ji-hoon-ssi,” Imani continuou, a voz agora ganhando confiança, “Pode tentar desacreditar nossa pesquisa. Mas a verdade… a verdade histórica… não pode ser silenciada. E nós vamos continuar buscando-a. Pela memória de Abena. E por respeito à história.”
O silêncio voltou a preencher o arquivo, pesado e tenso, após as palavras desafiadoras de Imani. Kim Ji-hoon a encarava com um olhar frio e calculista, ponderando a determinação inabalável que via em seus olhos. A confrontação no arquivo havia apenas começado, e o futuro da pesquisa de Imani e Joon-ho, assim como a verdade sobre o passado da família Park, permanecia incerto e ameaçado.
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Atualizado até capítulo 20
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