No dia seguinte, munida do diário antigo e de uma crescente sede por respostas, Imani decidiu seguir outro conselho implícito do mapa de sua avó: mergulhar na história coreana. O Museu Nacional havia despertado sua curiosidade, mas agora ela precisava de mais informações, de contexto histórico para entender a história de Abena e Jun-ho. O destino óbvio era a Biblioteca Nacional da Coreia.
A Biblioteca Nacional era um edifício imponente, um farol de conhecimento e erudição no coração de Seul. Imani sentiu-se intimidada e ao mesmo tempo animada ao cruzar suas portas. O silêncio reverente, interrompido apenas pelo sussurro suave de páginas virando e o eco distante de passos, criava uma atmosfera de concentração e respeito pelo saber.
Imani dirigiu-se à seção de história coreana, guiada por placas em inglês e coreano. As estantes se elevavam até o teto, repletas de livros encadernados em diferentes tons de bege e marrom, cada lombada carregando um universo de informações. Ela sentou-se a uma mesa espaçosa, abrindo o diário cuidadosamente e colocando-o ao seu lado como um guia silencioso.
Sua pesquisa começou focada na era Joseon. Digitando palavras-chave em inglês nos computadores da biblioteca, como "Joseon Dynasty", "Korean Nobility", "Social Hierarchy Joseon", Imani mergulhou no catálogo online. Uma avalanche de títulos surgiu na tela, mas a grande maioria estava em coreano. Ela selecionou alguns livros e artigos em inglês que pareciam relevantes, anotando as localizações nas estantes.
Percorrendo as estantes, Imani encontrou alguns livros em inglês sobre a história geral da Coreia e a era Joseon. Mas quando tentava refinar sua busca para tópicos mais específicos, como a escravidão na Coreia ou as relações sociais inter-raciais na era Joseon, os resultados em inglês se tornavam escassos, quase inexistentes.
Folheando os livros que havia encontrado, as informações eram valiosas para um panorama geral, mas superficiais quando se tratava dos detalhes que realmente a interessavam. Havia menções breves à hierarquia social rígida da era Joseon, ao sistema de classes e à influência do confucionismo, mas nada sobre a presença de africanos na Coreia naquele período, e muito menos sobre a possibilidade de relacionamentos românticos inter-raciais.
Imani começou a se sentir frustrada. A barreira da língua se erguia como um muro intransponível. A vasta coleção da Biblioteca Nacional estava ali, ao seu alcance, mas a chave para decifrá-la, o conhecimento do coreano, lhe faltava. Respirou fundo, tentando manter o otimismo. Devia haver uma maneira de superar essa dificuldade. Talvez houvesse seções específicas, ou guias, ou até mesmo pessoas que pudessem ajudá-la.
Enquanto vagava um pouco perdida entre as estantes de livros em coreano, procurando por qualquer sinal de material em inglês ou alguma alma que pudesse orientá-la, Imani notou um homem parado perto de uma seção de história da era Joseon. Ele parecia absorto em um livro, mas algo em sua postura, talvez a forma como folheava as páginas com interesse genuíno, chamou sua atenção.
Ele era jovem, talvez um pouco mais velho que ela, com um rosto inteligente e amigável. Usava óculos redondos e um suéter de lã discreto, emanando uma aura de estudioso tranquilo e dedicado. Hesitante, Imani se aproximou, decidida a pedir ajuda, mesmo que seu coreano se resumisse a poucas frases básicas.
“Excuse me…” Imani começou, em inglês, com um sorriso tímido. O homem levantou os olhos do livro, surpreso, e respondeu em inglês, com um leve sotaque coreano.
“Yes? Can I help you?”
“I… I am looking for information about… Joseon era history. And… slavery in Korea? But… I can’t find much in English.” Imani explicou, um pouco sem jeito por sua busca limitada.
O homem sorriu gentilmente, um sorriso que instantaneamente a tranquilizou. “Ah, I see. You are interested in Korean history? That’s wonderful! It’s a fascinating period.”
“Yes, very fascinating,” Imani concordou, aliviada por ele entender seu inglês e demonstrar interesse. “I’m actually… researching something specific. I found… a diary.” Ela hesitou por um instante, incerta se deveria revelar tanto logo de cara, mas a simpatia do homem a encorajou. “An old diary, that seems to tell a story from the Joseon era. About… an African slave and a nobleman.”
Os olhos do homem se arregalaram ligeiramente, demonstrando genuína curiosidade. “An African slave in Joseon? That’s… unusual. And very interesting.” Ele ponderou por um momento, depois estendeu a mão, sorrindo abertamente. “My name is Joon-ho. Lee Joon-ho. I am a historian. Local historian, actually. I specialize in Joseon Dynasty history.”
“Imani,” ela respondeu, apertando a mão dele. “Imani… from America.”
Acrescentou a última parte instintivamente, sentindo que era relevante de alguma forma, dada a natureza incomum de sua pesquisa.
“Imani… it’s a beautiful name,” Joon-ho comentou, com um sorriso gentil. “Well, Imani from America, it seems you have stumbled upon a very intriguing story. A diary, you say?
From the Joseon era?” Sua voz transparecia um entusiasmo profissional, a curiosidade de um historiador genuinamente interessado em uma nova descoberta.
“Yes, I do,” Imani confirmou, sentindo-se encorajada pela receptividade de Joon-ho. “It’s written in old English and… Korean. I can read the English parts, but the Korean… I don’t understand at all. And… I don’t know much about Joseon history, beyond the basic things.”
Joon-ho assentiu, pensativo. “Well, you have come to the right place, and perhaps, met the right person,” ele disse, com um sorriso divertido. “I could help you. With the Korean translation, and with the historical context. Joseon history is my passion, you see. And… a story about an African slave and a nobleman… it sounds like something worth investigating.”
Um raio de esperança brilhou no coração de Imani. Encontrar Joon-ho parecia um golpe de sorte inacreditável, quase como se o destino estivesse conspirando a seu favor. Um historiador local, especialista na era Joseon, oferecendo ajuda com a tradução e a pesquisa… era exatamente o que ela precisava.
“Really? You would do that?” Imani perguntou, a voz carregada de gratidão e surpresa. “I mean… I would be so grateful. I don’t want to impose…”
“No imposition at all,” Joon-ho interrompeu, com um gesto de mão amigável. “I am genuinely intrigued. And… helping someone uncover a hidden story from our past? It would be my pleasure. Besides,” ele acrescentou, com um brilho travesso nos olhos, “every good historian loves a good mystery.”
Imani sorriu amplamente, um sorriso genuíno e aliviado. “Thank you, Joon-ho. Really, thank you. This… this is amazing.” Pela primeira vez desde que chegara a Seul, Imani sentiu que não estava mais sozinha em sua busca.
Ela havia encontrado um aliado inesperado, um guia para desvendar os segredos do diário antigo e mergulhar nas profundezas do passado coreano. E talvez, algo mais… a faísca de uma conexão pessoal, para além da história, já começava a brilhar entre eles.
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Atualizado até capítulo 20
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