Em busca de respostas que pudessem dissipar as dúvidas de Choi Soo-jin e fortalecer a veracidade da história de Abena e Jun-ho, Joon-ho levou Imani a um lugar esquecido pelo tempo: um arquivo histórico pouco conhecido, aninhado nos confins de um antigo templo budista nos arredores de Seul. Longe dos arquivos nacionais movimentados e das bibliotecas reluzentes, este arquivo guardava os vestígios empoeirados de um passado menos glorioso, documentos negligenciados e registros familiares há muito esquecidos.
Ao entrarem no edifício austero de pedra, Imani sentiu o ar mudar imediatamente, tornando-se pesado e denso, impregnado com o cheiro característico de papel envelhecido, tinta desbotada e séculos de poeira acumulada. A luz natural entrava timidamente por janelas altas e empoeiradas, mal iluminando as estantes que se elevavam até o teto, repletas de caixas de documentos amarradas com barbantes descoloridos e pergaminhos enrolados em suportes de madeira. O silêncio era quase palpável, interrompido apenas pelo sussurro suave de seus passos hesitantes e o rangido ocasional de uma tábua de madeira solta no chão.
Joon-ho respirou fundo, um misto de excitação e apreensão em seu semblante. “Este lugar… é um pouco fora do circuito,” ele explicou, a voz baixa reverente no silêncio do arquivo.
“Mas o Professor Park me disse que arquivos familiares de algumas linhagens nobres foram depositados aqui ao longo dos séculos. Se houver algum registro que corrobore o diário… talvez esteja aqui.” Seus olhos brilhavam com uma esperança tênue, mas palpável. Imani compartilhou da mesma expectativa, sentindo a adrenalina da busca misturada com a ansiedade de mergulhar ainda mais fundo no mistério do passado.
A busca começou minuciosa e metódica. Joon-ho, familiarizado com os sistemas de catalogação arcaicos e a caligrafia elegante dos registros Joseon, guiou Imani através dos corredores labirínticos de estantes. Eles se dividiram, cada um vasculhando caixas empoeiradas rotuladas com nomes de famílias nobres e datas imprecisas, abrindo-as com cuidado e examinando os documentos com uma atenção quase reverente.
Horas se passaram em um ritmo lento e silencioso, pontuadas apenas pelo farfalhar suave do papel velho, o ocasional pigarro de Joon-ho ao decifrar uma passagem particularmente ilegível, e os sussurros de Imani ao anotar detalhes relevantes em seu caderno. Eles procuravam por qualquer menção à família Park, qualquer registro de nascimento, casamento, óbito, transações de terras, inventários de bens… qualquer fragmento de informação que pudesse lançar luz sobre a história de Jun-ho e Abena.
Imani concentrou-se especialmente em registros que pudessem mencionar a presença de estrangeiros na casa Park, talvez listas de servos ou inventários de propriedade que pudessem indicar a chegada de uma escrava de origem africana. A tarefa era árdua e demorada, como procurar uma agulha em um palheiro de séculos de história escrita. A poeira impregnava suas roupas, o cansaço se acumulava em seus corpos, mas a esperança de encontrar algo valioso os impedia de desistir.
Já no final da tarde, quando o cansaço começava a pesar e a esperança a diminuir, Joon-ho exclamou, um grito abafado de surpresa e incredulidade. Imani correu para seu lado, o coração batendo forte no peito, antecipando uma descoberta significativa.
Joon-ho apontava para um pergaminho amarelado, cuidadosamente desenrolado sobre a mesa de arquivo empoeirada. Seus dedos tremiam ligeiramente enquanto ele traçava os caracteres coreanos com a ponta do dedo. “Imani… olhe isso… eu… eu não acredito.”
Imani se aproximou, seus olhos fixos no documento antigo. No topo do pergaminho, em caligrafia elegante e formal, o título era claro: “Registro Especial da Família Park – Linhagem e Uniões.” Abaixo, em listas meticulosas de nomes e datas, um registro em particular saltava aos olhos, destacado pela sua natureza incomum e inesperada.
Com a voz embargada pela emoção, Joon-ho traduziu: “‘Lee Jun-ho, segundo filho de Lord Park Chung-hee… união com… Abena, de origem estrangeira, serva da casa Park… natureza da união: reconhecimento familiar e… continuidade da linhagem… testemunhas: Kim Min-jae, Park… Hana (nome ilegível)…’” A voz de Joon-ho falhou no final, as palavras finais pairando no ar, carregadas de um peso histórico e emocional imenso.
O silêncio preencheu o arquivo novamente, mas desta vez era um silêncio diferente, carregado de eletricidade, de choque, de emoção reprimida. Imani e Joon-ho se encararam, os olhos marejados, as respirações suspensas. A descoberta era tão extraordinária, tão inesperada, que suas mentes lutavam para processar a magnitude do momento.
Um registro oficial… um “casamento”… entre Lee Jun-ho e Abena? Em um arquivo familiar da linhagem Park? Parecia impossível, um anacronismo, uma contradição com tudo o que eles haviam aprendido sobre a rígida sociedade Joseon e a intolerância em relação a relacionamentos inter-raciais e entre classes sociais tão díspares. E ainda, o documento estava ali, diante de seus olhos, em tinta e papel amarelados pelo tempo, um testemunho silencioso de uma história que desafiava todas as expectativas.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Imani, lágrimas de alegria e de incredulidade, lágrimas de validação e de conexão ancestral. Ela sentia a presença de Abena naquele momento, sua história ganhando corpo e voz através daquele documento inesperado. Joon-ho, normalmente reservado e contido, tinha os olhos brilhando e um sorriso hesitante começando a surgir em seus lábios. A descoberta era um triunfo, uma resposta aos céticos, uma reviravolta na narrativa que eles estavam desvendando juntos.
“Um ‘casamento’… o que isso significa?” Imani sussurrou, a voz embargada pela emoção, quebrando o silêncio reverente do arquivo. “Naquela época… com ela sendo uma escrava… e estrangeira… como isso seria possível?” As perguntas jorravam de suas mentes, inundando-os com uma nova onda de mistério e fascínio.
A excitação e o choque iniciais logo deram lugar a uma discussão animada e apaixonada. Imani e Joon-ho se debruçaram sobre o documento, examinando cada palavra, cada frase, cada detalhe que pudesse lançar luz sobre o significado daquele “casamento” incomum.
“‘Reconhecimento familiar… continuidade da linhagem…,’” Joon-ho repetiu, ponderando as palavras em voz alta. “Isso sugere que a família Park, de alguma forma, aceitou a união, ou pelo menos… reconheceu Abena como parte da linhagem, apesar de sua origem e condição social.”
Imani assentiu, absorvendo as implicações da descoberta. “Talvez… tenha sido uma forma de proteger o filho deles? De garantir a linhagem da família, mesmo em uma situação tão… irregular?”
Eles discutiram as possíveis motivações por trás da decisão da família Park, explorando o contexto social e cultural da época, as pressões familiares, as considerações políticas e econômicas, e as possíveis exceções às regras sociais rígidas que poderiam ter permitido essa união incomum. A descoberta abria novas avenidas de pesquisa, questionando as narrativas históricas estabelecidas e revelando a complexidade e as contradições da sociedade Joseon.
Aquele documento empoeirado no arquivo esquecido era mais do que apenas um pedaço de papel velho. Era uma chave para desvendar segredos ocultos, um elo entre o diário íntimo de Abena e os registros oficiais da história, uma prova tangível de que o amor proibido e a história extraordinária de Abena e Jun-ho eram muito mais do que uma mera ficção romântica. A pesquisa de Imani e Joon-ho havia dado um salto gigante, e a verdade sobre o passado, agora mais próxima do que nunca, prometia ser ainda mais surpreendente e transformadora do que jamais imaginaram.
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Atualizado até capítulo 20
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