Capítulo 2: O Diário Antigo

A manhã seguinte em Seul amanheceu ensolarada, banhando a cidade com uma luz dourada. Imani, animada para continuar sua exploração, decidiu seguir uma das anotações do mapa de sua avó: Insadong. A promessa de um mercado de antiguidades soava irresistível, um lugar perfeito para talvez encontrar um pedaço autêntico do passado coreano.

Ao sair da casa de hóspedes e entrar nas ruas de Insadong, Imani foi imediatamente envolvida por uma explosão sensorial. A rua fervilhava de vida, uma sinfonia de sons, cores e aromas. Vendedores ambulantes anunciavam seus produtos em coreano melódico, o aroma doce de tteokbokki picante misturava-se com o perfume suave de incenso de uma loja próxima, e o burburinho constante de conversas em diversas línguas criava uma atmosfera vibrante e cosmopolita.

Insadong era um labirinto encantador de ruelas estreitas e sinuosas, ladeadas por casas tradicionais hanok convertidas em lojas de chá, galerias de arte, restaurantes e, claro, lojas de antiguidades. As vitrines transbordavam de tesouros: cerâmicas celadon delicadas, máscaras tradicionais coloridas, caligrafias antigas em pergaminho, caixas de joias lacadas, e uma miríade de outros objetos misteriosos e fascinantes.

Imani caminhava lentamente, deixando-se levar pelo fluxo da multidão e absorvendo a atmosfera única de Insadong. Parava em frente a cada loja, seus olhos curiosos varrendo as prateleiras repletas de história. Ela sentia a textura áspera de cerâmicas antigas, admirava a beleza intrincada de pinturas em leques de seda, e se perguntava sobre as histórias por trás de cada objeto. Quem teria usado aquele pente de jade? Quem teria escrito aquelas palavras em caligrafia elegante?

A mistura de antigo e moderno em Insadong era cativante. Em meio às lojas tradicionais, surgiam cafés charmosos com design moderno, lojas de cosméticos coreanos reluzentes e galerias de arte contemporânea. Era como se o passado e o presente dançassem juntos, criando uma tapeçaria cultural única e vibrante.

Em uma loja mais escondida, no fundo de uma viela estreita, algo chamou a atenção de Imani. No canto escuro da loja, em meio a uma pilha de móveis antigos empoeirados, repousava um baú de madeira. Não era particularmente grande ou ornamentado, mas possuía uma aura de mistério e antiguidade que a atraiu irresistivelmente.

O baú era feito de madeira escura, com detalhes em metal desgastados pelo tempo. A superfície estava coberta de arranhões e marcas, contando silenciosamente histórias de anos e talvez séculos. Imani aproximou-se, tocando a madeira fria e áspera com a ponta dos dedos. Havia algo nele, uma sensação quase palpável de que guardava segredos.

Um vendedor idoso, com um rosto enrugado e um olhar astuto, aproximou-se, observando o interesse de Imani. Ele falou em coreano, gesticulando para o baú e sorrindo amigavelmente. Imani respondeu em inglês, explicando que estava apenas olhando, mas no fundo, já sabia que não sairia da loja sem aquele baú.

Iniciou-se uma negociação amigável, uma dança de preços e contrapropostas em uma mistura de inglês hesitante, coreano sorridente e gestos universais. O vendedor, experiente, avaliou o interesse de Imani e começou alto. Imani, lembrando-se dos conselhos da avó sobre barganhar em mercados, fez uma contraproposta mais baixa, com um sorriso doce.

A negociação prosseguiu, com ambos cedendo gradualmente, em um ritmo divertido e respeitoso. Finalmente, chegaram a um preço que agradou a ambos. Imani pagou pelo baú, sentindo uma satisfação inexplicável ao se tornar a nova guardiã daquele objeto misterioso. O vendedor embrulhou o baú em papel pardo e o entregou a Imani com uma reverência cordial.

De volta ao quarto da casa de hóspedes, com o baú posicionado no chão de madeira polida, Imani sentiu uma onda de expectativa palpável. Era como abrir um presente de si mesma, um presente do passado. Com cuidado, removeu o papel pardo e examinou o baú novamente. Ele parecia ainda mais misterioso sob a luz suave do quarto.

Seus dedos encontraram o fecho de metal, enferrujado e resistente. Com um pouco de força, conseguiu destravá-lo. O baú rangeu suavemente ao se abrir, liberando um cheiro empoeirado e antigo, um aroma que falava de tempo e segredos guardados.

Dentro do baú, em meio a um forro de tecido desbotado, havia alguns objetos antigos: um leque de seda dobrado, um cordão de contas de madeira escura, e um pequeno livro encadernado em couro. O coração de Imani acelerou. Seria este… o diário?

Com mãos um pouco trêmulas, retirou o livro do baú. Era mais fino do que imaginava, mas parecia pesado na mão. A capa de couro estava gasta e rachada, mas as costuras laterais ainda se mantinham firmes. Não havia título, apenas o couro liso e envelhecido.

Com o diário em mãos, Imani sentou-se na cama, as costas apoiadas em travesseiros macios. Abriu o livro com cuidado, como se estivesse manuseando algo extremamente frágil e precioso. As páginas eram amareladas pelo tempo, finas como papel de seda, e delicadamente preenchidas por uma caligrafia elegante.

Um close-up do diário revelava a beleza e a complexidade da escrita. Havia duas caligrafias distintas: uma em inglês antigo, cursiva e ornamentada, e outra em caracteres coreanos, graciosos e fluidos. As tintas haviam desbotado um pouco com o tempo, mas as palavras ainda eram legíveis, convidando a serem descobertas.

Imani passou os dedos suavemente sobre as palavras em inglês, reconhecendo o estilo arcaico, mas compreendendo o básico. Seus olhos vagaram para os caracteres coreanos, símbolos misteriosos e intrigantes que ela não conseguia decifrar, mas que sentia serem profundamente ligados à sua herança.

O cheiro do diário era único, uma mistura de papel antigo, tinta desbotada e um leve aroma de madeira do baú. Era um cheiro nostálgico, que evocava imagens de bibliotecas antigas e cartas de amor secretas.

Com o coração batendo um pouco mais rápido, Imani começou a ler as primeiras páginas do diário em inglês. As palavras eram lentas no início, decifrando a caligrafia e o vocabulário antigo, mas logo, a história começou a se desenrolar, a voz do passado ganhando vida nas páginas amareladas.

As primeiras entradas eram datadas de muitos anos atrás, na era Joseon. A voz era feminina, melancólica e poética, descrevendo a chegada a uma terra estrangeira, a beleza exótica da Coreia, mas também a dor da solidão e a sombra da escravidão.

"Cheguei a esta terra distante, trazida à força através do mar escuro... A beleza das montanhas e dos jardins é de tirar o fôlego, mas meu coração permanece pesado... Sou chamada Abena, e embora acorrentada, minha alma ainda anseia por liberdade..."

Imani engoliu em seco, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. Abena. O nome ecoava em sua mente com uma estranha familiaridade. Escrava africana. Era possível? Seria esta a história de sua ancestral? A sinopse do livro que sua avó mencionara de repente se materializou em sua mente, ganhando uma nova e emocionante dimensão.

As páginas seguintes detalhavam a vida de Abena na casa da família nobre, os trabalhos árduos, a saudade de casa, e o encontro inesperado com um jovem nobre coreano, Lee Jun-ho. A descrição era delicada, cheia de suspiros e olhares furtivos, o início de um romance proibido que começava a florescer em meio às barreiras sociais e raciais da era Joseon.

Imani ficou completamente absorta na leitura, o mundo ao seu redor desaparecendo enquanto era transportada para o passado, para a Coreia ancestral de Abena e Jun-ho. A intriga a consumia, uma mistura de curiosidade histórica, conexão pessoal e a promessa de um romance épico e proibido. Ela mal podia esperar para virar a página e descobrir o que aconteceria a seguir. A aventura em Seul havia acabado de se tornar muito mais pessoal e emocionante do que jamais poderia ter imaginado.

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