Charlotte.
Sinto que minha cabeça está girando, como uma comédia de erros ambulante — parece que um relógio bizarro prestes a explodir. Meu estômago está revirado, e acredito que vou demorar milênios para beber novamente. Abro os olhos e, graças a algum milagre, estou no meu quarto. Ufa, não faço a menor ideia do que fiz ontem à noite! Me levanto, apoiando minhas mãos na cama, porque claro, estou de bruços. Levantar só por conta do que fiz na festa é um verdadeiro feito olímpico, mas lá vou eu, precisando urgentemente de um banho, já que o cheiro não deve ser dos melhores...
— Bom dia, Charlotte! — Ouço a voz do meu pai e quase tenho uma síncope. Sinceramente, sinto como se minha alma estivesse fazendo check-out do meu corpo.
— Droga, fiz besteira ontem! — murmuro, virando-me lentamente, como uma lesma envergonhada, e vejo meu pai com um olhar que poderia derreter aço. Ele parece que passou a noite em claro, provavelmente chorando por tudo que aprontei...
— Bom dia, papai! — falo, tentando manter a calma.
— A partir de hoje, você não vai ter um centavo meu! Quer a sua liberdade? Quer se livrar de mim? Ótimo, então se vire! — Engulo seco, pensando que o drama poderia ser um excelente roteiro para um filme.
— Pai, não me lembro do que fiz ou disse ontem! Só bebi um pouco demais. Sinto muito se falei coisas sem pensar. — Ele se levanta e caminha até mim com uma seriedade digna de um juiz de tribunal.
— Vou te dar casa e comida, mas os seus luxos acabaram — ele modifica a entonação, como se estivesse anunciando uma grande mudança na economia do país. — Vida boa, já era! Carro? Esquece! Cansei de ser o pai bonzinho que ignora todas as suas loucuras.
— Pai! — tento intervir.
— E cala a boca, eu não terminei! Você vai trabalhar para mim. Depois da aula, direto para a empresa, e vai receber metade do seu salário, porque, claro, ainda está devendo o conserto do carro que acabou de amassar, bêbada como de costume!
— Pai! — falo de novo, mas percebo que estou falando para a parede.
— Pai nada! Percebi que fui um idiota por te tratar como uma princesinha sempre cercada de mimos. Agora, se quiser algo, vai ter que lutar por isso! E toma um banho, porque saio daqui em meia hora! Você vai comigo! — Ele sai do meu quarto, e eu sinto que estou numa novela dramática. Sento na cama, chorando. Não é só pela minha miserável vida, mas porque nunca vi meu pai tão magoado como agora, e tudo por causa da minha péssima noite.
(...)
Mas, como uma boa filha do século 21, faço o que ele manda, me arrumo e saio linda e maravilhosa, apesar de tudo. A Miller é uma empresa de respeito, certo?
Saio do quarto e encontro minha mãe.
— O que eu fiz ontem? Me diz, mamãe, porque ele está tão bravo. — Ela me dá um beijo na testa e descemos juntas as escadas, como uma tragédia grega.
— Você disse na cara dele que o odeia! — Eu paro no meio do caminho e fico em silêncio.
— Eu não fiz isso! — protesto, com a típica revolta de quem não sabe o que dizer.
— Disse sim, e ele passou a noite em claro, te olhando dormir, enquanto eu tentava convencê-lo a ir para a cama. — Meu coração se aperta. Agora me sinto a pior filha do mundo. Continuamos descendo e encontramos meu pai, já impecável — claro, ele não teve o dia todo para olhar no espelho como eu.
— Vamos, Charlotte, não quero me atrasar. — Ele me chama, e eu desço as escadas como um zumbi, tentando não olhar no rosto dele.
— Pai, eu não tomei café ainda! — falo.
— Se tivesse se arrumado mais rápido, agora vai ficar sem café, porque eu não admito atraso, ainda mais no seu primeiro dia! — Ele fala sem nem olhar para mim. Dou um beijo na mamãe.
— Seja boazinha hoje e faça o que ele mandar, porque, filha, o seu pai é o pior chefe que eu já tive e muito vingativo. Então, não piore as coisas. — Ótimo, que conselho maravilhoso.
— Anda, Charlotte, ou você vai a pé, porque dinheiro para táxi não vou te dar! — Dou outro abraço na mamãe e corro para o carro.
— Pai, sobre ontem... — A resposta é um silêncio digno de um artista famoso fazendo mistério.
— Vai ser minha assistente, e quero que cuide de algo para mim, porque consegui fechar um projeto com a R Max. — Nesse momento, meus olhos se arregalam. O que eu ouvi?
— O senhor disse R Max? — pergunto, já sonhando acordada, porque, claro, R Max é a empresa dos meus sonhos e do meu futuro marido, Romeu Andrade!
— Sim, e essa parceria é super importante! Nada pode dar errado, então quero que cuide das reuniões e jantares. E, por favor, Charlotte, seja só uma boa assistente.
— Sim, senhor, vou fazer o meu melhor. — Esse emprego não poderia chegar em melhor hora. Odeio trabalhar, mas agora estou imaginando como será ficar frente a frente com o meu Romeu. Quantos anos esperei por esse momento! Ele não deixa ninguém chegar perto. Meu Deus, estou até sorrindo, de felicidade!
— Que bom que você está sorrindo, porque não prometo vida boa aos meus funcionários, Charlotte. Você me odeia como pai que sempre te deu tudo? Agora quero ver como vai me achar como chefe. — Ele estaciona o carro e eu sigo ele. Entramos na Miller Design, onde ele anuncia que eu serei só mais uma na turma.
A tia Diana me deseja boa sorte e diz que eu não terei sossego. Ela aponta para minha mesa, que, segundo ela, minha mãe ocupou por dois anos. Sorrio e arrumo algumas coisas, mas nem me sento e já ouço o grito do meu pai. Ele ordena tantas coisas que já estou me perdendo, e afirma que devo chamá-lo de senhor Miller, porque aqui ele é meu chefe. Ele não me dá descanso, gritando a toda hora. Nem posso ir ao banheiro porque ele me chama a cada cinco minutos!
Estou exausta e nem consegui almoçar direito, porque ele gritou tanto que minha marmita ficou mais gelada do que o meu coração nesse momento. Isso mesmo, marmita! Aquele foi o pedido dele, porque é assim que ele acha que todos devem se alimentar. E a minha dieta? Pode esquecer! Parece que colocaram tudo o que não é comida dentro do meu prato.
Chega a noite, e estou tão exausta que só quero cair na cama e desaparecer. Ainda bem que não tenho aula essa semana, senão estaria ferrada!
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Atualizado até capítulo 107
Comments
Silvana Schuwanz bernardo
é as vezes temos que ser duro com nossos filhos, esses negócio de dar tudo de bandeja nas mãos deles, não é certo, se não nunca vão aprender a dar valor às coisas e foi o que aconteceu com a Charlotte, sempre foi a princesa do pai e mãe, é muito doido ser Durão para nossos filhos e pode ter certeza que isso que o Eduardo está fazendo com a filha está doendo muito nele,mas é preciso pra fazer ela evoluir
2025-03-07
2
Silvana Schuwanz bernardo
ai que emoção voltar a ler uma história com os filhos já crescido 💓💓🫠🙃☺️😍
2025-03-07
3
Flavia Oliveira
Acho bom vc ouvir sua mãe Charlotte, sabemos bem como é o Eduardo Miler chefe kkkkkkk
2025-03-08
2