CAPÍTULO 16#

Naquela madrugada

       O ronco do motor de Cristian ecoava na estrada enquanto ele dirigia com uma das mãos no volante e a outra pressionando o braço ensanguentado. Seu maxilar cerrado revelava a dor que ele se recusava a demonstrar. Ao meu lado, eu mal conseguia respirar. O cheiro de sangue impregnava o ar, e o silêncio dele era mais denso do que qualquer coisa que eu pudesse suportar.

— Senhor Martinéz, você precisa de um hospital. — Minha voz saiu baixa, quase suplicante. — Está perdendo muito sangue.

— Não. — Sua resposta foi firme, cortante. — Eu não vou para um hospital. Não posso me expor assim. Confie em mim, eu sei o que estou fazendo.

      Mas ele não sabia. Seu rosto estava pálido, e seu olhar, mesmo que ainda carregado de arrogância, parecia um pouco mais turvo. O carro finalmente parou em frente a uma casa discreta, afastada da cidade. As luzes estavam acesas, como se já estivessem esperando por nós.

       Assim que ele abriu a porta, desceu cambaleando, e eu corri para segurá-lo.

— Droga, você não pode simplesmente sair assim! — Tentei apoiar seu peso no meu ombro, mas ele ainda era forte demais, mesmo ferido.

Ele soltou um riso rouco, debochado.

— Você quer me carregar, panda? Quero ver essa cena.

— Cala a boca e anda logo! — Eu quase gritei.

           A porta se abriu antes que pudéssemos bater. Um homem de cabelos grisalhos e feições austeras nos encarou. Seu olhar passou de Cristian para mim, depois para a camisa ensopada de sangue.

— Merda... de novo? — Ele bufou. — Você tem um desejo de morte, Martinéz.

— E você tem um dever de me manter vivo, Octavio. Faz logo o seu trabalho. — Cristian rebateu, tentando se firmar sozinho.

         Octavio me ignorou completamente e segurou Cristian, levando-o para dentro. A casa era fria, sem personalidade, cheirando a álcool e medicamentos. Um consultório improvisado estava montado no cômodo dos fundos. Ele o fez sentar em uma poltrona de couro preto, pegando seus instrumentos sem pressa.

— Vou tirar a bala. Sem anestesia. Você aguenta? — Octavio provocou, já sabendo a resposta.

Cristian sorriu de lado.

— Já passei por coisa pior.

      O estômago revirou quando vi o homem enfiar a pinça metálica no ferimento. O som da carne sendo remexida, a respiração pesada de Cristian, o sangue escorrendo... fechei os olhos com força e me virei para o lado.

— Meu Deus, isso é horrível! — Pressionei as mãos contra minha boca.

Cristian riu, a voz um pouco mais rouca devido à dor.

— Você queria me ajudar. Então vem aqui segurar a pinça.

— Eu prefiro morrer.

— Então para de fazer drama, droga.

         O tempo passou arrastado até que Octavio finalmente segurou um pequeno pedaço de metal entre os dedos.

— Pronto. Agora vamos ver se sua sorte continua intacta ou se essa infecção vai te matar dessa vez.

       Cristian resmungou algo, mas parecia exausto demais para retrucar. Seus olhos caíram sobre mim quando Octavio começou a fechar o ferimento com pontos. Eu sabia que ele estava me observando, analisando minha reação.

— Está pálida, Kiara. Vai desmaiar? — A provocação dele ainda estava lá, mesmo ferido.

— Claro que não! — Cruzei os braços, tentando ignorar o tremor nas minhas mãos.

...----------------...

       Mais tarde, pela manhã, já estávamos na casa dele. Os homens de Cristian haviam nos levado horas depois.

        Preparei uma sopa leve e fui até seu quarto, onde ele estava descansando. Quando entrei, ele estava recostado na cama, camisa aberta, revelando o curativo.

— Trouxe comida. — Levantei a tigela.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Vai me alimentar agora?

Meu rosto queimou ao perceber que ele estava certo. Como ele seguraria a tigela com um braço ferido? Suspirei e me sentei ao seu lado.

— Sim. Agora para de reclamar e come.

Peguei a colher e levei até sua boca. Ele me olhou com diversão, mas aceitou. Mastigou devagar, observando minha reação.

— Está bom? — perguntei, tentando ignorar o calor em meu rosto.

— Como tudo o que você faz. — Sua voz era baixa, quase sedutora.

        Tentei ignorar a forma como ele me olhava, mas era impossível. Seu olhar era um abismo, puxando-me para dentro sem que eu pudesse lutar.

Quando terminei de alimentá-lo, me levantei apressada.

— Eu... acho que esqueci algo no fogo.

        Mas antes que eu pudesse dar mais um passo, senti seu puxão no meu pulso. Meu corpo foi puxado de volta e, antes que eu pudesse reagir, ele me fez sentar na cama novamente, nossos rostos perigosamente próximos.

— Senhor Martinéz... — murmurei, sentindo o coração martelar.

Seus olhos deslizaram para minha boca antes de voltarem aos meus.

— Obrigado, Kiara. — Sua voz era um sussurro carregado de algo que não consegui identificar de imediato.

Meu coração parou por um segundo. Ele realmente tinha acabado de dizer “obrigado”?

— Você... Você acabou de me agradecer? — Minhas sobrancelhas se franziram em confusão.

       Ele agarrou minha nuca e me puxou para mais perto de seu rosto.

— Está ouvindo agora? — Sua voz estava baixa, rouca. Os lábios perigosamente próximos do meu ouvido. — Obrigado, Kiara.

        Minha respiração falhou. Um arrepio percorreu minha espinha como uma corrente elétrica.

Levantei rapidamente.

— Eu... preciso ir! Agora! — Saí praticamente correndo pela porta.

       Quando cheguei à cozinha, segurei o peito, tentando recuperar o fôlego.

Cristian Martinéz era um perigo. E não apenas para seus inimigos. Mas para mim também.

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Comments

Selma

Selma

Ele tem que virar o jogo ao seu favor, tem que fazer esse homem rastejar por ela.

2025-02-23

21

Elaine Morari

Elaine Morari

autora ele tem que rastejar por ela, ela não pode seder fácil .Ela tem que fazer ele se humilhar deixar de ser ignorante o dono do mundo

2025-03-26

0

Maria Cristina Mello Francisco

Maria Cristina Mello Francisco

Ele já esta caixinha por ela só não quer da o braço torcer ela também só não querem admitir

2025-04-05

0

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