CAPÍTULO 9#

      Depois da faculdade, voltei para a casa do Senhor Martinéz. O jantar daquela noite era importante, e a responsabilidade estava toda em mim. Pela primeira vez desde que comecei a trabalhar aqui, cozinhei sem pressão. Sem que algum desastre acontecesse.

       Como o jantar era requintado, me arrumei um pouco melhor. Afinal, uma boa chef precisa estar bem apresentada. Escolhi um vestido midi preto, justo na cintura, mas confortável o suficiente para que eu me movesse na cozinha. O tecido leve descia até abaixo dos joelhos, com uma fenda discreta na lateral. Nada extravagante, mas elegante. Prendi o cabelo em um coque baixo, deixando alguns fios soltos ao redor do rosto. Um pouco de rímel e batom nude.

         O cheiro dos temperos tomava conta do ambiente enquanto eu refogava os legumes. O jantar estava quase pronto, cada prato meticulosamente preparado. Eu estava tão concentrada que quase dei um pulo quando ouvi a voz firme da governanta.

— Como está tudo, niña?

Respirei fundo, tentando disfarçar o pequeno sobressalto.

— Estou finalizando os últimos detalhes — respondi, com um sorriso que beirava o nervosismo. — Os pratos principais já estão no ponto, só preciso ajustar a apresentação.

Concepción me analisou por um segundo, aquele olhar afiado de quem já viu muito nesta casa.

— Excelente. Os convidados já estão chegando. Tudo precisa estar impecável.

Ótimo. Sem pressão. Nenhuma pressão. Só um bando de mafiosos prestes a julgar minha comida.

       Continuei organizando os pratos, enquanto os auxiliares se movimentavam ao meu redor, finalizando detalhes menores. Tudo estava indo surpreendentemente bem.

Até ele entrar na cozinha.

O senhor rabugento.

        Eu soube que era ele antes mesmo de olhar. A presença dele era avassaladora, e o silêncio súbito na cozinha denunciou sua chegada.

        Quando me virei, lá estava ele, impecável. Traje preto, ajustado perfeitamente ao corpo forte, os cabelos castanhos penteados para trás, revelando aquele rosto indecentemente bonito e perigoso. Se esse homem não fosse um mafioso intimidador e insuportável, seria modelo de ternos italianos.

— Nenhuma catástrofe hoje? — Sua voz grave cortou o ar, carregada de sarcasmo.

Eu o encarei, pensando seriamente em jogar um pedaço de alho nele.

— Está tudo sob controle, seu... Señor Martinéz.

Ele ergueu uma sobrancelha, me avaliando com atenção demais para o meu gosto.

— Que milagre… — murmurou, o tom divertido e irritante. — Mas gostei da roupa.

O quê?!

         Pisquei algumas vezes, sem saber exatamente como reagir. Meus neurônios entraram em curto. Ele simplesmente... me elogiou?

Cristian Martinéz me elogiando? O mesmo homem que me olhava como se estivesse prestes a me demitir ou me esganar a cada instante?

     Antes que eu pudesse formular qualquer resposta inteligente, ou pelo menos recuperar minha dignidade, ele já estava saindo da cozinha.

O cretino.

         O jantar daquela noite era mais do que apenas um evento social. Era um momento de reafirmar o poder da minha família. Os chefes das três famílias subordinadas a mim estavam reunidos:

Esteban Sánchez, o líder do tráfico de drogas, um homem calculista e perigoso, sempre com um charuto entre os dentes.

Héctor Ramírez, dono da rede de cassinos clandestinos mais lucrativa da região. Um velho raposo de negócios, com um olhar que nunca revelava seus verdadeiros pensamentos.

Camila Rodríguez, a viúva que herdou o império do tráfico humano do falecido marido. Fria como gelo, implacável.

       Além deles, estavam lá também Ramón, meu irmão, meu pai Javier Martinéz. E, claro, Gabriela Sánchez, a filha do Esteban. Ela sorria demais para mim. Típico. Mas eu não tinha tempo para joguinhos naquela noite.

      Me sentei à cabeceira da mesa, minha posição incontestável. Quando todos estavam acomodados, fui direto ao ponto

— Vamos cortar as merdas e ir ao que interessa. Os novos termos entram em vigor hoje. — Cruzei os dedos sobre a mesa, encarando um por um. — A partir de agora, quero um percentual maior nas operações de vocês.

Os olhares se estreitaram.

— Quanto a mais? — Héctor perguntou, sua voz arrastada.

— Dez por cento.

— Dez? — Camila Rodríguez riu, cínica. — Você quer nos foder, Martinéz?

Me inclinei levemente para frente, minha expressão imutável.

— Não. Se eu quisesse, já teria feito.

         O silêncio pesou. Eles sabiam que não tinham escolha. Me desafiar significava assinar uma sentença de morte.

Esteban Sánchez soltou o charuto no cinzeiro e suspirou.

— Está bem. Aceitamos os novos termos.

    Um por um, todos assentiram. Como eu disse, não tinham escolha.

...----------------...

      Quando os negócios estavam acertados, a comida foi servida. Os pratos foram colocados à mesa com perfeição, e logo as expressões duras deles se suavizaram ao provarem a comida.

— Incrível — murmurou Héctor, limpando a boca com um guardanapo.

— Quem é o chef? — Esteban perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Contratei uma nova cozinheira — respondi, simplesmente.

Meu pai interveio, colocando a taça de vinho sobre a mesa.

— Chame-a. Ela merece reconhecimento pelo talento.

Eu hesitei, mas fiz um leve gesto para Concepción chamá-la.

Segundos depois, Kiara entrou na sala.

           Ela parecia nervosa. Óbvio que parecia nervosa. As mãos juntas à frente do corpo, o olhar baixando e subindo conforme os chefes das famílias a analisavam.

— Señorita, você nos impressionou — Héctor disse. — Este jantar está digno dos melhores restaurantes de San Sebastián.

— Concordo — Camila assentiu. — Você tem um talento raro.

Esteban sorriu.

— Deveríamos levá-la para cozinhar em nossas casas também, Martinéz. — Brincou.

Aí já era sacanagem.

       Antes que pudessem continuar com os elogios ou antes que o meu irmão a devorasse com os olhos por mais um segundo, fiz um movimento sutil com a mão.

— Você já pode voltar para a cozinha.

Kiara assentiu rapidamente, murmurando um agradecimento antes de sair quase correndo.

Ramón riu baixo.

— Essa chica é interessante, hermano.

Filho da puta.

Mas não respondi. Apenas bebi mais um gole do meu vinho.

        Aquilo estava me incomodando mais do que deveria.

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Comments

Laura Boloko

Laura Boloko

Daqui a nada ninguém mais vai comer da comida dela além delekkkk, afinal os mafiosos dos livros da nossa AUTORA não dividem o que é deles🤭🤭🤭🤣🤣🤣🤣

2025-02-20

42

Regina Celia

Regina Celia

ELE JÁ ESTÁ SE INCOMODADO,COM OS ELOGIOS E OS OLHARES.
QUE ESTÃO FALANDO PARA ELA. E ASSIM COMEÇA A HISTÓRIA DE CIÚMES DE
DOMÍNIO. MAFIOSOS ELES NÃO PEDEM,ELES ROUBAM
QUE ROMANCE ÓTIMO E MARAVILHOSO, PARABÉNS AUTORA.

2025-04-09

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A palavra chave do dia: CIÚMES..

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