CAPÍTULO 12#

     O dia seguinte chegou e, como qualquer pessoa que tem um mínimo de juízo, eu estava tentando fingir que a minha vida não estava um completo desastre.

Sentada na sala de aula, rabiscava meu caderno enquanto Ana e Lucía cochichavam ao meu lado.

— Eu ainda não acredito que você está trabalhando justo para aquele cretino que quase te matou! — Lucía exclamou, gesticulando como se eu tivesse acabado de admitir que vendi minha alma ao diabo. O que não deixava se ser verdade.

— Pois é, imagina eu! — suspirei, largando a caneta e me jogando na mesa. — Não basta aturar aquele homem todos os dias, ele ainda é um completo paranoico com organização. Você não tem ideia, Lucía. Se eu mexer qualquer coisinha fora do lugar, ele olha pra mim como se eu tivesse cometido um crime de guerra. E como se não bastasse, ainda me colocou um apelido.

— É mesmo? E qual é o apelido. Fala! — Ana perguntou já segurando a gargalhada.

       Eu hesitei, mas era tarde demais. Lucía e Ana já estavam me encarando como duas leoas famintas por fofoca.

— Panda.

O silêncio durou um segundo.

E então, a sala inteira provavelmente ouviu a gargalhada delas.

— Panda?! — Ana quase caiu da cadeira, segurando o peito como se tivesse levado um tiro de tanto rir.

— Espera, espera… — Lucía ofegava, enxugando uma lágrima imaginária. — Por que carajos ele te chama de Panda?

Cruzei os braços e revirei os olhos.

— Porque ele diz que eu sou estabanada…

      Pronto. Mais uma rodada de gargalhadas descontroladas.

— Isso é ouro! — Ana ofegou, tentando recuperar o fôlego. — Isso precisa ser registrado na história!

— Cállate! — bufei, me afundando na cadeira.

A aula seguiu, mas eu sabia que nunca mais teria paz.

      Quando o dia terminou, nos reunimos do lado de fora da faculdade. Ana, ainda sorrindo, segurou meu braço.

— Kiara, hoje tem uma festinha na casa da Martina. Aquela nossa colega… você sabe, a que nasceu com uma taça de champanhe na mão e um iate no quintal?

— E daí?

— E daí que ela quer a gente lá!

Suspirei.

— Não vai dar, esqueci que tenho um compromisso inadiável… preciso preparar o jantar do senhor perfeito.

Lucía jogou a cabeça para trás, exasperada.

— Por Deus, Kiara! Pede para sair mais cedo, inventa que está morrendo, sei lá!

Pensei por um momento. Será que eu conseguiria?

— Vou tentar… mas não prometo nada. Se eu terminar o jantar antes, talvez tenha uma chance.

       Nos despedimos e, com o peso da responsabilidade me puxando para o inferno, fui para a casa de Cristian Martinéz.

Horas depois

     Na cozinha, comecei a preparar um prato especial: Cochinillo Asado, um leitão assado lentamente, dourado e suculento. Acompanhava batatas temperadas com alecrim e um molho especial de alho e ervas.

      O cheiro invadiu o ambiente, e eu me concentrei em decorar o prato. Já estava escuro lá fora quando, no exato momento em que eu colocava a última folhinha de salsa como toque final, ele entrou na cozinha.

— Olá, Panda. Tudo certo por aqui? — perguntou Cristian, sua voz carregada de um sarcasmo irritante.

Respirei fundo e me forcei a sorrir.

— Sim, seu... senhor Martinéz. Seu jantar está finalizado.

Ele cruzou os braços e olhou ao redor, como se estivesse avaliando cada detalhe para ver se algo estava fora do lugar.

— Ótimo.

         Ele se aproximou da bancada e ajeitou um objeto… por um milímetro. Um milímetro!

— O senhor precisa de mais alguma coisa? — perguntei, já planejando a minha fuga.

Ele me olhou como se estivesse me estudando.

— Você está apressada para algo importante, Kiara?

Tentei parecer casual.

— Sim. Preciso encontrar alguns colegas da faculdade.

— Colegas? — Ele arqueou uma sobrancelha, o olhar afiado. — Uma festinha, talvez?

Engoli em seco. Como esse homem sabia das coisas?

— Sim… — admiti, tentando manter a compostura.

       Cristian ficou em silêncio por um momento, depois se aproximou, sua presença esmagadora.

— Infelizmente, você não poderá ir. Ainda preciso dos seus serviços.

Pisquei.

— O quê? Mas minha hora já terminou! Seu jantar está pronto! O que mais o senhor pode querer?

Ele se inclinou levemente, seu olhar predador prendendo o meu.

— Preciso que você prepare um Rabo de Toro.

Senti o estômago despencar.

— O senhor só pode estar brincando! Isso demora horas pra ficar pronto!

Ele sorriu de canto.

— Então é melhor começar logo.

Minha paciência… evaporou. Eu já estava cheia desse homem insuportável.

     Antes que meu cérebro pudesse me impedir, antes que o bom senso gritasse "não faça isso, Kiara!", peguei o prato e taquei na cara dele.

O tempo parou.

O barulho do prato se espatifando ecoou pela cozinha.

O cheiro do molho se misturou ao perfume caro dele.

      Meu coração parou. Minha alma saiu do corpo, deu um rolê no além e voltou gritando: "O QUE VOCÊ FEZ?!"

Puta merda.

O que eu tinha acabado de fazer?

          Eu sentia meu coração disparado no peito, uma mistura de desespero e incredulidade tomando conta de mim. Cristian Martinéz, o mafioso cruel e assassino frio, estava parado ali, com molho escorrendo pelo terno caro, a mandíbula travada de pura fúria.

     E eu? Bom, eu só conseguia pensar que meu testamento não estava pronto.

— ¡Mierda! ¿Pero qué carajo hiciste, Kiara (Merda, o que diabos você fez, Kiara)!?— Ele rugiu, a voz ecoando pela cozinha como um trovão.

Minha alma tentou fugir pela boca.

— Eu… eu… — Mexi as mãos no ar, em um gesto completamente inútil, e então me dei conta do tamanho da burrada. — Meu Deus! Eu joguei comida no senhor!

     Ele respirou fundo, o olhar cravado em mim como se decidisse se me estrangularia ali mesmo ou se jogaria meu corpo no oceano.

— Fique exatamente onde está. — Sua voz era baixa, mortal. — Se você se mover um centímetro, juro, Kiara, que não vai sobrar um pedacinho seu para contar história.

E então, ele saiu para se limpar.

     Eu congelei por um segundo, mas meu instinto de sobrevivência, que claramente chegava atrasado para o trabalho, decidiu que eu precisava de uma arma. Que eu precisava me defender daquele demônio descontrolado.

        Então, na minha suprema inteligência, agarrei uma faca de mesa e a segurei com as duas mãos, trêmula.

— Ótimo, Kiara… porque uma faquinha de jantar vai fazer toda a diferença contra um homem que já matou gente com um palito de dente…

Antes que eu pudesse reconsiderar meu plano brilhante, ele voltou.

Mais limpo. Mais arrumado.

       Mas os olhos? Ah, os olhos estavam ainda mais sombrios, faiscando de ódio contido.

— Você tem exatos cinco segundos para me explicar por que diabos achou que era uma boa ideia tacar um prato de comida na minha cara.

Meu coração pulava tanto que eu tinha certeza de que ia desmaiar ali mesmo.

— E-eu estava nervosa! Foi um reflexo! Quem manda o senhor ser tão insuportável?!

Ele parou.

E então, um sorriso surgiu em seus lábios.

Um sorriso lento. Frio. Perigoso.

Meu estômago despencou.

— E agora está segurando uma faca. — Ele ergueu uma sobrancelha, claramente se divertindo. — Você realmente acha que isso vai te proteger de alguma coisa, pandinha?

         Levantei a faca na direção dele, mas minha mão tremia tanto que parecia que eu estava dançando flamenco.

— Se… se você tentar alguma coisa, eu… eu vou te cortar!

Cristian riu.

Não um riso comum.

        Foi aquele tipo de riso baixo, rouco, cheio de uma diversão cruel. Como se eu fosse uma criancinha tentando bater em um urso.

— Ah, Kiara… — Ele inclinou a cabeça, os olhos brilhando. — Você é mesmo tola.

Antes que eu pudesse reagir, senti um puxão firme no meu pulso.

A faca sumiu da minha mão em um segundo.

E no outro, meu corpo colidiu contra o dele.

Calor.

Força.

Domínio absoluto.

         Minha respiração engatou, e antes que eu pudesse lutar, sua mão pousou firme na minha cintura, me mantendo presa contra ele.

Eu não conseguia me mexer.

Não conseguia respirar.

Não conseguia pensar.

       Ele se inclinou, sua boca tão perto do meu ouvido que um arrepio feroz subiu pela minha espinha.

— Você realmente gosta de testar a minha paciência, não é?

Minha garganta secou.

— M-mas o senhor começou! — gaguejei, meu cérebro completamente descompensado pela proximidade.

          Cristian riu de novo. Dessa vez, um riso baixo, carregado de algo que eu não conseguia decifrar.

— E você terminou de um jeito bem ousado… jogando comida no homem mais perigoso da Espanha.

       Minha respiração estava presa na garganta, meus sentidos bagunçados pelo calor do corpo dele, pelo cheiro, pela firmeza da mão que ainda segurava minha cintura.

— Me diga, panda… — Sua voz era um sussurro carregado de algo sombrio. — Está disposta a lidar com as consequências?

Eu não sabia mais o que era medo, adrenalina ou…

Não. Nem pensar.

        Engoli em seco, piscando rápido para afastar aquela sensação estranha.

Então, do nada, ele me soltou.

Meus pés cambalearam ligeiramente para trás, e ele apenas me olhou com aquele maldito meio sorriso, os olhos cheios de um divertimento cruel.

— Mas não se preocupe. Sua tentativa de ser demitida falhou miseravelmente.

Eu pisquei, confusa.

— O quê?

        Ele pegou a faca que tinha tirado de mim e a girou entre os dedos como se fosse um brinquedo.

— Você pode espernear à vontade. Mas eu não vou te demitir.

Minha boca se abriu em indignação.

— O quê?!

Ele sorriu de canto.

— Agora, seja uma boa garota e prepare meu jantar. De novo. Não me faça repetir.

Eu quis gritar.

Quis esganá-lo.

         Mas, no final, bufei, cerrando os punhos enquanto voltava para o fogão, resmungando sozinha.

Cristian sentou-se no balcão, me observando com puro deleite.

O desgraçado estava se divertindo.

E eu?

Bom… eu estava ferrada.

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Comments

Terezinha Scherer

Terezinha Scherer

autora sua linda já te disse na saga dos castelli que você é a única que me faz lê um livro sem estar concluído. vou lê um outro paralelo pra me distrair e não ficar te pressionado, só não demora atualizar por favor /Smile//Smile//Smile/

2025-02-21

51

Selma

Selma

Kiara foi burra, não era para ter falado que iria a uma festa. Era para ter se arrumado e, quando estivesse saindo para ir ele iria ficar se perguntando aonde ela iria.

2025-02-21

7

sther 💖❣️❣️

sther 💖❣️❣️

um minuto de silêncio para nossa guerreira 🤣🤣🤣

2025-03-22

13

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