CAPÍTULO 3#

        A noite estava quente em San Sebastián, e eu dirigia meu Bugatti pela estrada, charuto entre os dentes, enquanto a cidade passava borrada ao meu redor. Meus pensamentos estavam longe, até que o celular vibrou no painel. O nome que apareceu na tela me fez soltar uma risada seca.

Gabriel Martinéz, meu outro irmão.

        O filho da puta estava preso. Isso mesmo, preso numa das prisões mais impenetráveis do mundo. ADX Florence, nos Estados Unidos. Aquilo não era uma cadeia, era um buraco negro de onde ninguém saía. Mas, claro, meu irmão sempre gostou de desafios.

— Já estava com saudades, hermano! — atendi com sarcasmo, soprando a fumaça do charuto para o lado.

— Achei que tinha esquecido de mim, cabrón — a voz dele veio firme, com aquele tom de deboche característico.

— Como esquecer? Meu irmãozinho de férias em uma prisão de segurança máxima! Isso sim é ostentação — brinquei, mas minha voz tinha um fundo de aço. — Como tá aí dentro?

— O de sempre. Gente tentando me matar, eu matando gente... Mas já descobriram com quem estão mexendo. Agora estão bem... tranquilos.

Tradução: alguém tentou ferrar com ele, e ele mandou o recado do jeito certo. Com sangue.

— Tá se alimentando? — perguntei casualmente.

— Comida de cadeia. Não é um dos seus restaurantes cinco estrelas, mas dá pro gasto.

— Precisa de algo?

— Só paciência, irmão. Quando for a hora, me tire daqui. Até lá, vou me divertir um pouco.

Sorri. Gabriel sempre teve um senso de humor peculiar.

— Vou cuidar disso — finalizei. — Toma conta aí dentro. E se precisar... faça o que tem que fazer.

Ele riu.

— Sempre faço.

        A ligação caiu. Eu apertei o volante com força, um músculo da mandíbula se contraindo. Gabriel estava bem... por enquanto. Mas alguém ia pagar caro por colocá-lo lá.

Mas agora, eu tinha uma negociação a fazer

         Estacionei o carro e desci, já vendo Ramón me esperando do lado de fora do galpão, junto com nossos homens. Ele deu um meio sorriso ao me ver.

— Hermano — ele me cumprimentou, batendo de leve no meu ombro.

— Gabriel me ligou...

— Como ele está?

— Vivo. Mas não por muito tempo se ficarmos de braços cruzados.

      Ramón assentiu. Ele sabia que precisávamos resolver isso.

       Entramos no galpão. Três russos estavam lá, cercados por brutamontes de cara fechada. O líder, um desgraçado chamado Sergei, sorriu ao me ver.

— Ah, o famoso Cristian Martinéz. Ouvi muito sobre você. Dizem que é um homem difícil de negociar.

— E dizem que russos falam demais — repliquei, sorrindo sem humor. — Trouxeram o dinheiro?

Sergei fez um gesto e uma maleta foi aberta. Dinheiro. Muita grana. Mas eu sabia que algo estava errado. Meu instinto nunca falhava.

— E as armas? — ele perguntou.

— No caminhão lá fora. Mas antes, vamos ver o que tem nessa maleta.

        Abri a maleta e revirei as notas. Tudo parecia certo... mas tinha um cheiro de merda no ar. Meu olhar encontrou o de Ramón, e ele entendeu na hora.

— Algum problema, senhor Martinéz? — Sergei perguntou, fingindo inocência.

— Ah, nenhum. Só estou pensando... por que diabos vocês acham que podem me passar a perna?

O silêncio caiu pesado. O líder russo fingiu surpresa.

— Não sei do que está falando.

— Não sabe? — levantei uma das notas e joguei para ele. — Dinheiro falso, Sergei. Você acha que sou um idiota?

Os russos imediatamente sacaram as armas e apontaram para mim e Ramón. Eu ri.

Os filhos da puta ficaram confusos.

— Algum problema? — perguntei, ainda sorrindo.

E então assoviei.

          De cima das estruturas metálicas do galpão, dezenas de homens surgiram, todos armados até os dentes. As caras dos russos empalideceram. Alguns tremeram. Outros engoliram em seco.

— Agora, vamos tentar de novo — falei, sacando minha arma e atirando sem hesitar em três deles. — Quem mais quer negociar comigo?

           O líder russo caiu no chão, ensanguentado. Me aproximei, chutando a arma longe e apontando minha pistola para ele.

— Levanta, porra! — ordenei.

Ele gemeu, tremendo, mas obedeceu. Peguei ele pela gola e o empurrei para fora do galpão. Ramón me seguiu, acendendo um cigarro.

— O que vamos fazer com esse merda? — perguntou, soprando a fumaça.

— Vamos fazer ele se divertir um pouco.

           O levamos até uma plataforma próxima a um rio escuro. O desgraçado percebeu onde estava e ficou pálido.

— Pule — ordenei.

Ele olhou para a água e depois para mim.

— N-não... Por favor...

Engatilhei a arma e mirei na cabeça dele.

— Pule, ou eu faço você pular do jeito difícil.

         O desgraçado, suando frio, hesitou... mas no fim, saltou. O barulho da água foi seguido de um grito de puro horror.

Crocodilos.

        Dois monstros enormes surgiram da escuridão e atacaram o russo. O grito dele foi curto, interrompido pelos estalos dos ossos sendo esmagados.

Ramón assobiou, impressionado.

— Boa noite para um banho, não acha? — comentou.

Soltei uma risada curta e dei um tapinha no ombro dele.

— Joga o resto. Vamos alimentar os bichos.

          E assim fizemos. Quando tudo terminou, fumamos mais um cigarro e seguimos para o clube. Porque, no fim das contas, era só mais uma noite normal.

No dia seguinte

        Naquela manhã, minha tia praticamente me arrastou até um casarão que mais parecia ter saído de um filme de milionários excêntricos. A casa era imensa, elegante, mas tinha uma vibe sombria. Como se escondesse segredos nas paredes de mármore e no silêncio impecável dos corredores.

Assim que atravessamos a porta, uma mulher de postura rígida e olhar analítico nos esperava no hall.

— Senhora Concepción, essa é minha sobrinha, Kiara — minha tia anunciou com um tom educado, mas firme.

         A mulher, que parecia ter décadas de experiência em domesticar até os demônios mais rebeldes, me avaliou de cima a baixo, como se tentasse calcular se eu era capaz de fritar um ovo sem incendiar a cozinha.

— Então, você estuda gastronomia? — Ela perguntou com um leve tom de desconfiança.

— Sim, estou quase me formando — respondi, tentando parecer profissional, mas sentindo meu coração bater mais rápido que uma batedeira no máximo.

— Ótimo. Quero ver do que você é capaz. Prepare alguns pratos e bebidas. Algo digno do senhor Martinéz.

Tradução: "Se errar, está fora".

Engoli seco, mas forcei um sorriso.

— Com prazer.

          Fui conduzida até a cozinha, e, por Deus, se havia um paraíso na Terra, eu estava nele. O espaço era um sonho, equipamentos de última geração, ingredientes frescos de todas as partes do mundo, e utensílios que valiam mais do que minha conta bancária inteira.

          Respirei fundo e entrei no modo sobrevivência. Se aquilo fosse um teste, eu daria o melhor de mim.

      Preparei uma paella negra com frutos do mar, garantindo que o arroz absorvesse todo o sabor do caldo, e finalizei com um toque de aioli artesanal. Depois, fiz croquetas de jamón ibérico, cremosas por dentro e crocantes por fora. Para acompanhar, servi um coquetel autoral com licor de laranja e especiarias, equilibrando perfeitamente o frescor com a intensidade do álcool.

Quando terminei, respirei fundo e encarei a senhora Concepción, esperando o veredito.

Ela pegou um garfo, provou a paella, fechou os olhos por um breve instante e...

— Hmm.

Eu segurei o fôlego.

Depois experimentou as croquetas.

— Interessante.

E, finalmente, tomou um gole do coquetel.

O silêncio dela estava me matando.

— Então...? — perguntei, incapaz de segurar minha ansiedade. Minhas unhas estavam em carne viva.

Ela pousou o copo, me encarou e, com a expressão séria, disse:

— Você começa hoje.

Eu quase soltei um grito.

— Sério?!

Minha tia sorriu ao meu lado, satisfeita.

— Não costumo elogiar, mas você tem talento, menina... Vamos às regras.

Regras? Ah, ótimo.

— Primeira coisa, evite encontrar o senhor Cristian. Ele não gosta.

— O quê?! Como assim? Ele me contratou, mas não quer me ver? — Eu arregalei os olhos.

— Ele odeia que mexam na rotina dele. Seu trabalho é cozinhar e desaparecer.

— Nossa, que cara simpático. — Falei baixinho.

A governanta ignorou meu sarcasmo.

— Outra coisa, tudo deve estar exatamente onde está. O senhor Cristian tem perfeccionismo absoluto. Se você mudar qualquer coisa de lugar… ele vai perceber.

Eu pisquei.

— Perceber? Ah, por favor, ele não vai nem notar.

Ela me lançou um olhar sério.

— Ele nota.

Ok. Psicopata detetive ativado.

— Mais uma regra: não bisbilhote. Não escute conversas que não te dizem respeito. Não pergunte nada. Apenas cozinhe e faça seu trabalho.

Engoli seco.

— Tá... parece fácil.

Ela me entregou uma lista.

— Aqui está tudo o que ele gosta. E aqui, o que ele é alérgico.

Olhei os papéis e fiz uma careta.

— Nossa, que frescura…

Ela cruzou os braços.

— O senhor Martinéz não tolera erros.

— Entendi. Se eu errar, morro, certo?

— Exatamente.

Sorri sem graça. Ah, maravilha.

          Depois da breve introdução ao inferno que me aguardava, fui deixada sozinha na cozinha. Decidi começar o almoço. Escolhi um rabo de toro, um ensopado espanhol sofisticado, acompanhado de purê de batatas trufado e legumes grelhados. Para a bebida, fiz um tinto de verano especial, equilibrando os sabores com um toque de alecrim.

         Enquanto cozinhava, coloquei meus fones de ouvido e comecei a dançar ao som de reggaeton, mexendo o quadril enquanto cortava os ingredientes.

— Isso sim é vida — murmurei, girando a colher no molho espesso.

       Fui pegando os utensílios e, conforme usava, guardava tudo de volta… mas sem perceber, coloquei as coisas em posições ligeiramente diferentes.

Se ele vai notar? Ah, duvido.

Escrevi um bilhete rápido.

"Senhor Rabugento, antes de comer, coloque uma pitada de páprica defumada no molho. Vai te fazer sorrir. Se você for capaz disso, claro."

      Peguei o bilhete e joguei no lixo, peguei outro papel e escrevi a mesma mensagem, mas sem ofensas, é claro, não queria virar defunta tão nova.

Assinei com um rabisco e sorri satisfeita colando na geladeira.

Antes que percebesse, meu celular vibrou. Hora de ir para a faculdade.

Dei uma última olhada na cozinha, ajeitei tudo e saí, achando o trabalho moleza.

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Comments

Elisabete Correia

Elisabete Correia

KKKkkkkkkk estou adorando a Kiara e ela vai tirar o mafioso do sério ele vai notar a posição dos utensílios diferente e para tristeza da Kiara ele vai ler e confrontar ela....mas a surpresa será quando ele ver que ela é a pessoa que ele atropelou kkkkkk mas algo nela vai fazer o ogro dele não sair pra fora e o máximo que ele fará é resmungar dar uma bela bronca ela vai se defender e mesmo assim vai continuar como cozinheira dele.... sem dizer que ela vai invadir o pensamento dele e ele não terá mais paz só pensando nela kkkkkk

2025-02-19

45

Magna Figueiredo

Magna Figueiredo

Só eu q acho q ele vai ver ela rebolando na cozinha,???? /Tongue//Tongue//Tongue//Tongue/

2025-03-23

12

Regina Celia

Regina Celia

KIARA VAI TIRA-LO DO SÉRIO. AI ELE VAI FICAR MEIO QUE INTERESSADO.
NELA ,POR ELA NÃO TER MEDO DELE. ELE VAI ENCONTRAR O BELHETE DENTRO DA LATA DO LIXO
E OS UTENSÍLIOS FORA DO LUGAR.KKKKKK
ESTOU ADORANDO, VAI SER UMA QUERRA ÓTIMA DE SE LER. PARABÉNS AUTORA.

2025-04-08

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