CAPÍTULO 13#

           

        Uma semana depois

     A brisa salgada do mar bagunçava meus cabelos enquanto o sol queimava minha pele, aquecendo cada célula do meu corpo. O som das ondas quebrando na areia era um alívio para minha mente sobrecarregada, e pela primeira vez em uma semana, eu estava experimentando um vislumbre de paz.

Uma semana.

      Sete dias trabalhando para o homem mais insuportável, controlador e infernalmente irritante do planeta.

E, por Deus, como foi um inferno.

       Seis dias atrás, eu passei a noite inteira cozinhando para Cristian Martinéz. A noite inteira. E não porque eu quis, mas porque aquele psicopata me fez ficar. Me fez obedecê-lo. Me prendeu em sua casa como se fosse um objeto de sua coleção, enquanto ele apenas se divertia com meu desespero.

         E agora? Agora eu estava aqui, tentando esquecer, tentando apagar da minha mente esses dias horríveis, tentando me convencer de que ele não tinha qualquer poder sobre mim.

— Kiara, você já pensou sobre a viagem para Madrid? Tem apenas dois dias para se decidir. — A voz de Lucía me tirou dos pensamentos.

Olhei para ela, que estava deitada ao meu lado, o chapéu protegendo seu rosto do sol. Do outro lado, Ana bebia um suco gelado, nos observando com interesse.

A viagem.

      Uma oportunidade única para os alunos da faculdade, onde conheceríamos os chefs mais renomados do país. A viagem duraria dois dias. Era a minha chance.

— Claro que eu vou… — respondi, mas havia um tom incerto na minha voz.

Lucía, é claro, percebeu.

— Porém…? — ela arqueou a sobrancelha, desconfiada.

Eu suspirei, sentindo meu peito apertar.

— Porém, nada. Só… eu não sei.

Ana franziu a testa.

— Kiara, não me diga que esse cretino do seu chefe vai impedir você de ir?

Lucía soltou um riso incrédulo.

— Ah, não. Me diz que não estamos falando daquele ogro de novo.

           Fechei os olhos por um momento, sentindo a lembrança daquela noite pesar sobre mim como uma sombra.

— Vocês não entendem... Já esqueceram o que aconteceu na noite da festa?

O silêncio delas foi imediato. Elas sabiam. Eu havia contado.

       Naquela noite, eu deveria ter ido para a festa com elas. Mas não. Cristian Martinéz, com seu jeito cruel e manipulador, me fez ficar. Me prendeu naquela casa como se minha vontade não importasse, como se eu fosse apenas um peão no jogo dele.

Eu lutei. Eu protestei.

Mas ele simplesmente me ignorou.

Ele ordenou que os seguranças me barrassem.

Ele me manteve lá.

          E a pior parte? O olhar dele. O modo como ele me estudava, como se me possuísse. Como se minha rebeldia apenas o divertisse.

Eu tremi ao lembrar.

— O que esse homem quer de você, afinal? — A voz de Ana era cheia de indignação. — Por que ele faz isso?

Lucía cruzou os braços.

— Talvez ele esteja obcecado por você, Kiara. Esses homens perigosos são assim… possessivos e controladores.

Eu travei.

— Ah, faça-me o favor! — exclamei, jogando a cabeça para trás. — Esse homem não sente obsessão por ninguém além dele mesmo!

Mas as palavras de Lucía martelavam em minha cabeça.

Por que ele agia assim?

Por que ele me sufocava tanto?

      Lucía e Ana começaram a rir, zombando da situação, mas eu não conseguia rir junto. Algo dentro de mim estava inquieto. Um aviso silencioso, uma sensação estranha de que minha vida não estava mais sob meu controle.

— Eu estou perdida… — murmurei, cobrindo o rosto com as mãos. — Como eu vou me livrar daquele ogro irritante?

Lucía sorriu, seu olhar travesso.

— Você não vai. Mas nós vamos. Você vai nessa viagem, ou eu não me chamo Lucía.

Ana se inclinou para frente, empolgada.

— Kiara, você se esqueceu de quem somos? Vamos dar um jeito nisso.

Me endireitei na cadeira, a esperança crescendo dentro de mim.

— Ah, como eu amo vocês!

Ficamos ali, planejando.

Se o senhor Rabugento achava que estava no controle…

Ele estava muito enganado.

         Da janela do meu escritório, observava a vista de San Sebastián, o céu tingido de laranja enquanto o sol se punha sobre o mar. A cidade respirava caos e poder, exatamente como eu gostava.

Levei o copo de whisky à boca, sentindo a ardência familiar descer pela garganta enquanto aguardava notícias. Ramón estava nos Estados Unidos, colocando em prática o plano para tirar nosso irmão do presídio de segurança máxima. O silêncio me irritava. Algo dentro de mim me dizia que a merda ia explodir a qualquer momento.

Meu pensamento foi interrompido por três batidas firmes na porta.

— Entre! — ordenei, sem paciência.

Meu segurança entrou, hesitante, a cabeça levemente abaixada em sinal de respeito.

— Senhor… há um homem lá fora querendo falar com você.

Lancei um olhar entediado.

— E desde quando eu recebo visitas sem aviso?

— É Anton Orlov.

Orlov.

        Minha mão apertou o copo, um sorriso sombrio surgiu nos meus lábios. O irmão do desgraçado do Sergei Orlov, o russo que virou comida de crocodilo dias atrás.

— Deixe-o entrar — murmurei, girando o whisky nos dedos. — Estou precisando mesmo de um pouco de diversão.

Minutos depois, Anton entrou. Ele tinha a mesma postura arrogante do irmão, mas menos burrice estampada no rosto.

— Orlov, que surpresa. Sente-se — indiquei a cadeira à minha frente, cruzando os dedos sobre a mesa.

Ele hesitou, mas obedeceu.

— Martinéz, vim aqui para esclarecer que minha família não tem nada a ver com as escolhas do Sergei. Não queremos conflitos.

       Revirei o copo de whisky na mesa, como se suas palavras fossem tão insignificantes quanto aquele gesto.

— Isso significa que não haverá retaliação, certo?

Ele engoliu seco.

— Exatamente. Além disso, queremos pedir desculpas e… retomar nossos negócios.

Soltei um riso baixo. Esse filho da puta achava que eu era idiota?

       Peguei um charuto, acendi e dei uma longa tragada antes de soltar a fumaça devagar.

— Podemos retomar… — afirmei, o olhar fixo nele.

Ele sorriu, achando que tinha vencido.

Pobre coitado.

— Mas desta vez, o preço será cinco vezes maior.

Seu sorriso sumiu no mesmo instante.

— Isso é absurdo! — exclamou, cerrando os punhos.

Me inclinei para frente, a brasa do charuto iluminando meu rosto.

— Não, Orlov. O absurdo foi eu perder tempo com seu irmão. Isso é o mínimo que você vai me pagar por não seguir o mesmo caminho dele.

         Ele rangeu os dentes, o ódio estampado nos olhos. Mas no final, sabia que não tinha escolha.

— Tudo bem — cedeu. — Pagaremos.

Eu sorri satisfeito e apertei sua mão com mais força do que o necessário.

— Espero que seja esperto o suficiente para não tentar me foder, Orlov. Você sabe como termina quem brinca comigo.

Ele saiu sem olhar para trás.

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Comments

Maria Cruz

Maria Cruz

Olha Kiara espero que vc se der bem nesse plano doido das suas amigas 🙆‍♀️😅😅😅😅😅

2025-03-19

12

Mariah

Mariah

mds, eu tenho para mim que em outro universo ele seria o Deus do caos e violência

2025-04-13

0

Arlete Fernandes

Arlete Fernandes

Ele não tem medo de nada e nem se intimida com nada aff é demais kkkk

2025-04-03

0

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