CAPÍTULO 7#

   Eu estava sentada no sofá, um copo d’água tremendo em minhas mãos. Tentava beber, mas nem isso eu conseguia direito. Minha tia me observava com uma mistura de preocupação e divertimento, como se eu fosse uma louca surtando sem motivo.

— Então… — ela cruzou os braços, inclinando a cabeça. — Você está me dizendo que o senhor Martinéz, é o mesmo louco que quase te atropelou na rua?

Assenti freneticamente, os olhos arregalados.

— Sim! Sim, tia! Isso mesmo! — soltei o ar em desespero. — Eu juro, minha vida virou um pesadelo depois que esse homem cruzou o meu caminho! Desde então, não tive um minuto de paz! — apontei para mim mesma, dramática. — Você tem ideia do que é isso? Do que eu estou vivendo?!

Minha tia suspirou, um pequeno sorriso surgindo nos lábios.

— Ai, mi niña, você está exagerando…

— Exagerando?! Eu quase tive um infarto umas cinco vezes hoje! — arregalei ainda mais os olhos. — Tia, eu vi a morte de perto! Digo, senti ela respirando no meu cangote!

Ela apenas balançou a cabeça, rindo.

— Escute, Kiara. O senhor Martinéz pode ser rude um pouco, mas ele não machucaria você. Se quisesse, já teria feito. Ele não perde tempo com pessoas que não lhe interessam.

Minha boca caiu aberta.

— Interessar?! Tia, você ouviu alguma coisa do que eu disse?!

Ela ignorou completamente minha indignação e me puxou para um abraço apertado.

— Apenas vá amanhã e faça o seu trabalho. Não crie problemas.

Meu corpo ficou tenso, mas eu sabia que estava sem escolha.

— Estou perdida... — murmurei contra o ombro dela.

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No dia seguinte, saí de casa às pressas, sem tempo nem para roubar um pedaço de pão. Peguei o ônibus no último segundo e fui espremida como uma sardinha até o meu destino. Quando finalmente cheguei à casa do senhor rabugento, soltei um suspiro longo, me preparando psicologicamente para mais uma batalha.

Fui direto para a cozinha, tomei um copo d’água e respirei fundo.

— Tá tudo bem, Kiara… você só tem que cozinhar para um mafioso psicótico. Sem pressão.

Coloquei meus fones de ouvido e aumentei o volume do reggaeton. Era isso ou um colapso nervoso.

Comecei a preparar um café da manhã digno de um rei, ou de um ditador meticuloso que mataria por um prato ruim. Fiz uma seleção luxuosa: ovos mexidos cremosos com trufas, torradas crocantes com manteiga de ervas, um parfait de iogurte grego com frutas vermelhas e mel importado, além de um café forte o suficiente para reviver um morto.

Enquanto dançava e terminava a receita, senti algo estranho. Um arrepio.

De repente, uma mão puxou meu fone de um lado.

— ¡Mierda! — gritei, girando no susto.

O caos foi instantâneo. Me desequilibrei, bati na bancada e…

— NOOO! — vi em câmera lenta o pote de iogurte voando e aterrissando direto no chão.

Olhei para o desastre, depois para os pés imaculados do senhor Martinéz, agora sujos de resquícios do café da manhã que ele nem havia provado.

— Caralho, que mierda! — ele rosnou, olhando para o chão, depois para mim.

Eu segurei o peito, tentando recuperar o fôlego.

— Você tá maluco?! Quem chega assim por trás?! Eu quase morri!

Ele me lançou um olhar mortal.

— E eu quase escorreguei nessa mierda! Qué coño hiciste (o que diabos você fez)?!

— Eu?! VOCÊ me assustou! — apontei para ele, indignada. — Agora olha essa bagunça!

— Eu que tenho que olhar?! Você que jogou essa merda no chão!

— Porque você me tocou do nada!

Ele massageou a têmpora, claramente se segurando para não me esganar.

— Se você tivesse prestando atenção, não teria derrubado nada.

— Se VOCÊ tivesse me chamado como um ser humano normal, eu não teria derrubado nada!

— Eu chamei. Você que tava surda com essa música de quinta.

Arregalei os olhos, ofendida.

— Você NÃO desrespeita o reggaeton na minha frente!

Ele fechou os olhos, respirando fundo, claramente arrependido de ter saído da cama.

— Limpa essa merda antes que eu perca a paciência.

Bufei, mas comecei a recolher a bagunça, enquanto ele se afastava para se limpar.

Depois de alguns minutos, servi o café da manhã impecável para ele e fui para a cozinha, torcendo para que ele engasgasse só um pouquinho.

Porém, poucos minutos depois, ele apareceu novamente.

— Preciso que prepare um jantar hoje. Para convidados. Pessoas importantes.

Olhei para ele desconfiada.

— Quantas pessoas?

— O suficiente para que você não estrague tudo, panda.

Eu assenti e voltei para minha organização.

— E que porra você tá fazendo?

— Organizando os temperos.

Ele se aproximou, ficando tão perto que senti seu perfume caro. Com um movimento milimétrico, pegou o pote que eu havia acabado de organizar e ajustou… um mísero milímetro, acredita?

Eu pisquei, olhando para ele como se tivesse acabado de presenciar um crime hediondo.

— Você… moveu isso?

Ele me olhou como se eu fosse uma anta.

— Estava fora do lugar.

— MENOS DE UM MILÍMETRO, SENHOR MARTINÉZ!

Ele deu de ombros.

— Ordem é ordem.

Meu Deus, esse homem precisava de terapia.

Eu me segurei para não rir, mas foi difícil.

— Isso tudo é TOC ou tortura psicológica?

Ele se virou para sair, mas antes, lançou um olhar de aviso.

— O jantar tem que estar perfeito. E não coloque merda no meu tempero.

Eu resmunguei um xingamento baixo.

— Eu ouvi isso.

— Claro que ouviu.

Ele soltou um riso nasal.

— Espero você às sete. Sem atrasos, panda.

Bufei, já sabendo que aquele dia seria longo.

Maldito mafioso perfeccionista!

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