Acordamos cedo naquela manhã. Gabriela foi ao banho primeiro, e depois nos arrumamos rapidamente. Encontramos os meninos no salão da pousada para tomar café antes de começarmos o dia de trabalho.
A cidade não era grande, mas o partido tinha força ali. Era nisso que todos contavam. Enquanto os candidatos e as figuras mais importantes faziam passeatas e discursos, eu e parte da equipe seríamos direcionados para um espaço que funcionaria como comitê de campanha.
Ao chegar, conferi meu e-mail e, para minha surpresa – ou melhor, nem tão surpresa assim – Nico tinha me enviado uma enxurrada de tarefas.
— Bom dia pra você também, Nico — murmurei para a tela, suspirando ao ver a lista.
Passei boa parte da manhã ao telefone, resolvendo pendências, fazendo ligações e organizando informações. Em alguns momentos, me perguntei se realmente precisávamos estar ali. Mas a resposta era óbvia: sim. Éramos mão de obra barata e indispensável para que a engrenagem da campanha continuasse rodando.
Já era metade do dia quando recebi uma mensagem no grupo:
**"Todos para o local indicado. Os grandões querem ‘brindar’ com a equipe."**
O grupo começou a reagir com emojis e piadas. Peguei minhas coisas e segui com os outros. O restaurante escolhido não era chique, mas tinha um ar aconchegante. Os garçons já estavam organizando mesas grandes para acomodar todo mundo.
De repente, me perguntei se deveria ter me arrumado mais. Os políticos e empresários do partido já estavam sentados em algumas mesas, conversando e brindando. Ao me aproximar, encontrei Miguel entre eles.
Ele usava uma blusa azul-clara com o bordado do partido e alguns adesivos grudados no peito. Seu porte alto e charmoso o fazia se destacar no meio dos demais. Mesmo com olheiras e um leve suor na testa, ele ainda parecia... admirável.
Quando me viu, seu rosto se iluminou por um momento. Retribuí o sorriso, mas logo notei um brilho diferente no olhar dele.
Nico veio até mim e começou a me apresentar para algumas pessoas que eu ainda não conhecia. Estava no meio de uma conversa quando ouvi uma voz familiar ao meu lado:
— Boa tarde, Laura.
Virei-me e dei de cara com Miguel, que estendeu a mão em um cumprimento.
— Gostando da viagem?
— Bastante, governador — sorri, apertando sua mão rapidamente.
— E como foi seu dia?
— Muito trabalho — respondi, soltando um suspiro.
Ele arqueou uma sobrancelha e, com um sorriso de canto, rebateu:
— Espero que não tenha sido tanto a ponto de precisar encostar no seu colega de trabalho para descansar.
Meu sorriso sumiu instantaneamente. Ele estava falando da minha conduta no trabalho ou de outra coisa?
Miguel percebeu meu desconforto e suavizou a expressão.
— Não precisa se preocupar, estou só brincando.
Eu ri sem graça, mas meu estômago ainda revirava.
— Eu preciso parar de achar que sou algo seu, né?
— Tudo bem, governador — respondi, recuperando a compostura. — Já chegamos a um acordo quanto a isso, lembra?
— Sim. O problema sou eu, claramente — disse ele, encerrando o assunto.
Antes que eu pudesse responder, Miguel chamou um homem próximo a nós.
— Carlos, vem cá. Quero te apresentar alguém.
Sabia exatamente quem era Carlos. Ele era o coordenador da equipe de marketing e propaganda, um jornalista e publicitário conhecido por sua estratégia política impecável. Era o cérebro por trás das campanhas e da imagem pública do partido.
Carlos sorriu ao se aproximar.
— Essa aqui é Laura, nossa estagiária — Miguel fez as apresentações.
— Prazer, Laura — Carlos disse, apertando minha mão. — Ouvi falar que você ligou para empresas de viagem de madrugada para conseguir as vans pro pessoal.
— Ah, bem... Eu... — comecei, sem jeito.
— E sabe o mais impressionante? — disse Miguel baixando o tom de voz divertido. — Ela conseguiu a lista do pessoal do Pascal.
Os dois riram.
— Se continuar assim, vai se destacar fácil. Quem sabe trabalhar com essa equipe aqui por oito anos?
— Por enquanto, só quatro — Miguel corrigiu, piscando para ele.
Cruzei os braços e brinquei:
— Pensa positivo, governador.
Carlos soltou uma gargalhada.
— Está vendo, Miguel? Até sua estagiária já entendeu seu potencial!
Miguel me olhou com um misto de surpresa e diversão, mas apenas balançou a cabeça.
Encontrei uma mesa grande, onde a maioria da equipe estava reunida. Ao todo, éramos cerca de cem pessoas. A equipe principal do partido era composta majoritariamente por homens, com apenas nove mulheres. Conversamos, rimos e finalmente comemos.
Em determinado momento, Miguel se levantou segurando um copo de cerveja.
— É bom olhar ao redor e ver que estou tão bem acompanhado — começou, chamando a atenção de todos. — Quero agradecer a cada um de vocês, que tem trabalhado incansavelmente para fazermos essa campanha acontecer. Esses oito pontos de vantagem são mérito de um trabalho em equipe. Vocês provaram que esforço e comprometimento trazem resultados.
Assim que terminou, um coro de vozes explodiu no salão. Todos gritavam e comemoravam, erguendo copos e brindando.
A energia no ar era vibrante. Todos ali tinham um único objetivo: tornar Miguel governador.
E naquele momento, no meio daquela equipe, eu soube que estava exatamente onde deveria estar.
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Atualizado até capítulo 92
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