Capítulo 19

Já era tarde da noite, e eu continuava ali, monitorando as redes sociais e os sites de notícias a pedido de Nico. Estava exausta de tanto apertar *F5*, mas não podia simplesmente ir embora. Restava apenas esperar.

A inquietação tomava conta de mim quando Francisco apareceu na porta.

— Laura? — chamou, com um tom incomumente brando.

Os meninos me olharam desconfiados, mas me levantei e fui até ele. Francisco me puxou para um canto do corredor antes de falar em voz baixa:

— Conseguimos um acordo com Pascal. Ele vai abaixar a guarda, mas precisamos ter certeza de que ninguém vai vazar isso. Você consegue ligar para sua fonte e averiguar?

Assenti sem hesitação.

— Vou ver isso, pode deixar.

— Obrigado.

Era a primeira vez que Francisco me agradecia por algo. Ele sempre foi direto, até rude, com as pessoas ao nosso redor, mas comigo havia uma certa diferença. Às vezes, até me defendia.

Fui para um canto mais reservado e disquei para André. Ele atendeu no primeiro toque.

— Eu sabia que você me ligaria.

Sorri, exausta, mas satisfeita.

— Amigos são assim, uma equipe. Tipo Batman e Robin.

Ele gargalhou.

— Desde que eu seja o Batman, porque já perdi a conta de quantas vezes te salvei esse mês.

— E eu sou grata por isso — admiti. — Graças à sua eficiência, comecei a ser notada aqui dentro. Não estava indo muito bem antes.

— Eu sei que não me ligou só para agradecer…

— Você me conhece — suspirei.

— Mas, já que tocou no assunto, está me devendo um jantar.

— Segunda-feira à noite.

—Mas agora me diga, por que realmente ligou?

— Preciso ter certeza de que vocês não vão publicar aqueles documentos.

Ele ficou em silêncio por um instante antes de responder:

— Não. Poucas pessoas tiveram acesso, e acabamos de sair de uma reunião no Zoom onde decidimos segurar qualquer divulgação até segunda ordem.

— Acha que desconfiam de você?

— Não. Eles acreditam que o vazamento veio de alguém da cidade. Você não vai me entregar, né?

— Claro que não, André — assegurei. — Mas me diz, o que vocês descobriram? O que fez Pascal recuar desse jeito?

— Não sei os detalhes, mas ele está com o rabo entre as pernas.

— Ótimo.

— Relaxa, Laura. Tudo vai voltar ao normal.

— Espero que sim.

— E não esquece do jantar.

— Segunda-feira à noite, Batman.

— Boa noite, Robin.

Desliguei e voltei para a sala de reuniões. Todos pareciam mais relaxados agora. Francisco veio até mim, expectante.

— Tudo certo — confirmei. — Eles não vão divulgar nada.

Ele soltou um suspiro aliviado.

— Obrigado, Laura. Obrigado pelo seu trabalho hoje.

— Não há de quê.

Virei-me para sair, mas ele me chamou de volta.

— Miguel pediu para te incluir no hotel com o restante da equipe. Pelo trabalho duro de hoje.

Pisquei, surpresa.

— Não precisa, Francisco. Estou com os meninos na pousada.

Ele cruzou os braços, analisando-me.

— Não sou eu quem dá as ordens. Se quiser recusar, fale você mesma com Miguel.

— Não acho que seja necessário...

— Você ainda não entendeu que hoje salvou várias vidas, e não só a dele — ele disse, sério. — Se continuar assim, em breve fará parte da equipe sênior.

Balancei a cabeça, rindo sem humor.

— Não tenho interesse nisso, Francisco.

Ele estreitou os olhos.

— Você fala isso porque ainda não experimentou como é ter poder.

Cruzei os braços.

— Não procuro por isso. Só quero ser uma boa estagiária.

— Que mente fechada, Laura. Você precisa de mais ambição. Miguel me disse que você já se destaca entre os outros estagiários. Não tenha medo de colocar suas necessidades em primeiro lugar.

Suspirei, desviando o olhar.

— Isso não parece um bom conselho para alguém que trabalha com política.

Ele sorriu de canto.

— Ambição e lealdade andam de mãos dadas, Laura. E você é leal. Quer a vitória de Miguel tanto quanto eu.

— Sim, ele merece vencer. Esse estado precisa de renovação.

Francisco me estudou por um instante antes de dar de ombros.

— Apenas aproveite a suíte. Boa noite.

Fiquei ali parada por um momento, sentindo o peso de suas palavras. Será que eu realmente não queria mais do que ser apenas uma estagiária?

Afastei o pensamento.

Uma coisa de cada vez.

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