A semana já tinha começado difícil, e eu já estava completamente insegura com meu trabalho. Para piorar, na terça-feira, às 18h, Nico virou-se para mim e disse:
— Laura, preciso de 10 vans para amanhã ao meio-dia.
Eu não o questionei, mas, por dentro, só pensava em como conseguiria isso se todos os lugares já estavam fechando. Às 19h, ele pegou suas coisas e saiu.
— Vou para uma reunião no terceiro andar. Quando voltar, quero o assunto das vans resolvido.
Fiz o possível e o impossível, mas não consegui. Só restava aceitar que não tinha dado certo e avisar Nico, para ver se havia alguma outra solução. Subi as escadas nervosa, sentindo minhas bochechas queimarem de frustração e vontade de chorar. Parei no segundo andar, olhando a escadaria que levava ao terceiro. Um relógio na parede indicava que já passava das 20h. Respirei fundo e continuei.
Ao chegar na sala de reunião, bati na porta uma vez. Ninguém respondeu. Bati novamente. Um senhor abriu e perguntou:
— O que deseja, mocinha?
Engoli em seco e respondi, com a voz trêmula:
— Gostaria de falar com o Nico.
Ele se levantou da mesa e já foi gritando:
— Eu falei para me esperar lá embaixo!
Antes que eu pudesse reagir, ouvi uma voz familiar perguntar:
— Quem está aí, Nico?
— É só a nova estagiária. Pedi para ela resolver um assunto para mim.
— Ah, pode pedir para ela entrar, afinal, já terminamos aqui.
Olhei para dentro da sala e reconheci Francisco, assessor de Miguel, e o próprio Miguel, sentado à cabeceira da mesa, me observando com um sorriso torto e um olhar intrigado. Além deles, havia mais dois homens que eu já tinha visto nas campanhas. Eles sempre estavam ao lado de Miguel.
O senhor que me atendeu disse:
— Pode entrar, querida.
Entrei hesitante, sentindo todos os olhares sobre mim. Miguel virou-se para Nico, irritado:
— Por que você está tratando ela com grosseria?
Nico apenas deu de ombros.
— Pedi para ela resolver a questão das vans e, pelo visto, ela não deu conta do recado.
Eu não ia ficar ali calada e aceitar ser responsabilizada por algo que não era culpa minha.
— Senhor, eu tentei — comecei, engolindo o choro. — Pesquisei todas as empresas de transporte da cidade, mas o prazo que o senhor me deu foi muito curto. Às 18h, todos os lugares já estavam fechados ou fechando. Os poucos que atenderam já tinham suas vans sublocadas. Liguei até para a companhia de transporte público...
Francisco interrompeu, furioso:
— Você teve o dia todo para resolver isso, Nico!
Olhei para Nico, confusa.
— O dia todo?
— O quê? — Miguel perguntou, percebendo minha expressão.
— Eu tive problemas na sede, senador — Nico respondeu, desviando o olhar. — Precisei ir lá resolver algumas coisas e só percebi que tinha esquecido das vans quando voltei e vi o lembrete no meu computador.
Francisco explodiu:
— Puta que pariu! Você está culpando a menina porque você não fez o seu trabalho?
— Mas era o trabalho dela também — Nico retrucou.
Oliver, um dos outros homens presentes, interveio:
— Nico, você teve o dia inteiro para resolver isso. Tem três estagiários à sua disposição que poderiam ter te ajudado. Você poderia ter conseguido essas vans tranquilamente.
O silêncio tomou conta da sala. Só o som do ar-condicionado preenchia o ambiente.
— Como você passa a responsabilidade para alguém que só estava aqui na hora em que você lembrou? — Miguel disse, em um tom calmo, mas firme. — Se não fosse a Laura, teria sido outro a tentar resolver um problema impossível.
Ele respirou fundo e decretou:
— Você vai resolver isso agora. Ligue para os mesmos lugares que ela ligou e consiga as vans. E lembre-se de tratar as pessoas com respeito, independentemente do cargo que ocupam.
Nico abaixou a cabeça.
— Sim, senhor. Me desculpe. Me desculpe, Laura.
Apenas assenti. Ele saiu da sala apressado, já pegando o celular para começar as ligações.
Miguel então olhou para os outros homens e disse:
— Senhores, terminamos.
Francisco e os outros se levantaram para sair. Quando tentei acompanhá-los, Francisco me barrou, saindo com os dois e fechando a porta, deixando-me sozinha com Miguel.
Olhei para trás, e lá estava ele, me observando.
— Como você está? — ele perguntou, sorrindo.
— Bem. E você? — Respondi, embora estivesse tensa.
— Cansado, mas bem. Por que não se senta aqui do meu lado?
Hesitei, mas fui até ele.
— Por que está nervosa?
— Muitas coisas na cabeça — respondi.
— Como está indo o estágio?
Suspirei.
— Mais ou menos. Minha primeira semana não foi fácil. Acho que erro mais do que acerto.
Ele riu de leve.
— Primeiras semanas nunca são fáceis. Você não deveria se preocupar tanto com isso.
— Eu só queria fazer tudo valer a pena, mas acho que foi um erro ter me dado essa chance.
Miguel franziu o cenho.
— Laura, eu não me arrependo de ter te contratado.
— Não é isso que eu quis dizer. Deixa pra lá... Não quero parecer ingrata.
— Pode falar, eu não vou te julgar.
Fechei os olhos por um segundo antes de desabafar:
— Eu briguei com meus amigos por essa vaga. Eles acham que fiz algo sujo para consegui-la. E agora, eu me sinto completamente incompetente.
Miguel me encarou por um instante e então disse:
— Errar é o de menos. É errando que se aprende. E, quanto aos seus amigos... se eles dizem isso, talvez não sejam amigos de verdade. Você está lutando para dar o seu melhor, e não há nada sujo nisso.
Engoli em seco antes de perguntar:
— Por que você me ajudou, Miguel? Porque eu duvido que se você conversasse com qualquer outra pessoa ela ganharia um trabalho.
Ele suspirou.
— você não é qualquer pessoa, Laura.
Meu coração acelerou.
— Então quer algo em troca?
Ele negou com a cabeça.
— Não quero nada em troca.
— Então por que me deu essa chance?
Ele sorriu de lado.
— Por vários motivos. Porque você parou para ler minhas propostas abandonadas naquela parede. Pela conversa sincera que tivemos. Pelo seu jeito irônico, mas verdadeiro. Eu gostei de você, mas não quero nada em troca.
Fiquei em silêncio.
— Simplesmente queria trabalhar ao seu lado — completou.
— Não é tão simples assim...
— Tá bom. Eu queria te conquistar — ele admitiu, suspirando. — Mas isso não muda o fato de que acredito no seu potencial.
Sorri, abaixando a cabeça.
— Obrigada por ser honesto, governador.
Ele sorriu.
— Quero que viva essa experiência sem carregar esse fardo. Deixe o peso para mim.
Nos despedimos, e ele saiu.
Mais tarde, consegui resolver o problema das vans com a ajuda de André . A sensação de ser útil foi incrível. Nico me deu uma carona para casa, agradecendo o tempo todo.
E, pela primeira vez desde que comecei o estágio, senti que talvez, só talvez, eu estivesse no lugar certo.
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Acordei morta no outro dia. Cheguei em casa depois da uma da manhã, exausta. Tratei de levantar e me arrumar para ir à faculdade.
Antes de sair, dei uma espiada no celular e vi uma mensagem de um número desconhecido:
📨Nico me falou que foi tudo mérito seu por ter conseguido o transporte. E quando eu digo que acredito em você, você desconfia.
Franzi a testa, confusa.
📨Quem é?
📨Seu candidato favorito.
Sorri ao ler a resposta.
📨Como conseguiu meu número?
📨Tenho meus contatos. 😏 Na verdade, está na lista dos funcionários.
📨Esperto.
📨Parabéns, Laura. Você só precisa se ver como eu te vejo.
📨E como você me vê, candidato?
📨Boa demais para o meu próprio bem.
Ao ler aquela mensagem, lembrei da fala da Júlia. Pelo visto, ele estava mesmo disposto a arriscar milhões por mim.
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Atualizado até capítulo 92
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