O restante da semana passou em um piscar de olhos. Todas nós conseguimos entrevistas. Júlia e Kelly fariam as delas na terça, enquanto eu e Ema fomos agendadas para quarta-feira.
No dia da entrevista, me arrumei com cuidado, sem exageros. Escolhi uma blusa social branca e uma calça de alfaiataria preta. Nos pés, um tênis confortável, afinal, era só um estágio e não uma reunião com o presidente. Mantive os acessórios discretos e a maquiagem leve, apenas para parecer mais apresentável.
Ao chegar na empresa, fui direcionada para uma sala bem iluminada, onde a entrevistadora já me esperava. Era uma mulher de meia-idade, com um olhar observador e postura impecável. Assim que me sentei, ela começou a analisar meu currículo com atenção.
— Laura, certo? — disse ela, sem levantar os olhos dos papéis.
— Isso mesmo.
Ela fez uma breve análise da minha trajetória acadêmica e depois olhou para mim.
— Você pode me contar um pouco sobre você?
Falei sobre minha experiência na faculdade, minhas matérias favoritas, o interesse pela área de comunicação e como eu estava animada para aprender na prática. Ela ouviu tudo com um leve sorriso, mas no final fez um comentário que eu já esperava:
— Seu currículo é bom, mas vejo que você tem pouca experiência. Este estágio é temporário, sem garantia de efetivação.
Assenti, entendendo a colocação dela.
— Sim, entendo. Estou disposta a aprender e dar o meu melhor enquanto estiver na equipe.
Ela fez uma anotação e, ao final da entrevista, informou:
— Até sexta-feira entraremos em contato com os selecionados. Se você não receber a ligação, significa que não foi escolhida.
Agradeci e saí dali com uma sensação neutra. Não tinha ido mal, mas também não tinha certeza de nada.
A sexta-feira chegou se arrastando. Olhei para o celular o dia inteiro, mas nenhuma ligação apareceu. No final da tarde, percebi que não tinha sido escolhida. Suspirei, meio frustrada, mas já esperava por isso.
À noite, saí com a galera para um barzinho. Assim que me sentei, Kelly olhou para mim e perguntou direto:
— Não deu, né?
Fiz que não com a cabeça.
— Relaxa, amiga. Eu também não consegui — ela disse, dando um gole na cerveja.
Na verdade, só Júlia conseguiu a vaga. Andréh, em um tom brincalhão, comentou:
— Mas é óbvio que ela conseguiu! Júlia e Megan militam o tempo todo sobre política e campanhas. Era inevitável escolherem essa garota. Ela ama política.
Sorri com o comentário e abracei Júlia, parabenizando-a.
— E como é o trabalho? — Kelly perguntou.
Júlia fez uma careta antes de responder:
— Basicamente, tirar cópias, entregar papéis e servir café.
— E com quem você vai trabalhar? — Ema quis saber.
— Com os assessores dos assessores dos assessores daquele senador… sabe aquele que usa azul e branco na campanha?
— Ah, aquele… — Ema assentiu, parecendo já saber quem era.
No domingo, saí para andar de bicicleta com Andréh. Era nosso jeito de espairecer e colocar a conversa em dia.
— E aí, como está o estágio? — perguntei.
Ele suspirou.
— Uma merda. Você tinha razão. Basicamente, preciso ficar atualizando o site com aquelas propostas que só bobo acredita. E ainda tenho que usar Deus como recurso.
Ri sem surpresa.
— Ainda tem quem acredite.
— Infelizmente.
Pedalamos por alguns minutos em silêncio, até ele perguntar:
— E você? Ainda tá mal com o lance do estágio?
— Não, já estou melhor.
— Relaxa, você vai conseguir outra coisa rápido.
— Torço que sim.
E seguimos nosso caminho, aproveitando o vento no rosto e o silêncio confortável que só existe entre amigos de verdade.
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Atualizado até capítulo 92
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