Tentei não pensar muito no meu primeiro dia de trabalho, mas a ansiedade me dominava. Na volta da faculdade, passei no salão para retocar o corte e aproveitar para hidratar e escovar os cabelos. Queria parecer profissional.
Em casa, tomei um banho demorado e vesti um jeans, uma camisa social azul e um tênis branco. Escolhi acessórios discretos e finalizei com um perfume suave.
Peguei o metrô até o endereço do comitê de campanha. Era curioso como, dias antes, aquele lugar fervilhava de gente e agora estava silencioso e organizado. Sem panfletos espalhados ou eleitores em agitação. Apenas os trabalhadores.
Ao chegar, me apresentei à recepcionista, que pediu um documento para emitir meu crachá provisório. Enquanto esperava, ouvi uma voz familiar.
— Oi, Laura!
Virei e me deparei com Júlia.
— Oi!
Ela parecia hesitante, mas se aproximou.
— Eu queria te pedir desculpas pelo que falei aquele dia. Assim como você ficou feliz por mim quando consegui meu estágio, eu deveria ter ficado feliz por você também. Eu… eu tive inveja. Conseguiu uma vaga melhor que a minha, e eu… enfim, só queria me desculpar.
Olhei para ela e entendi seu sentimento. Eu mesma senti algo parecido quando ela conseguiu o estágio, mas engoli para não transparecer.
— Tudo bem, Júlia — respondi sinceramente.
— Você está nervosa?
Assenti.
— Bastante.
— Fica tranquila. E pro que precisar, eu estou aqui. Mesmo que eu ainda ache que tem algo estranho nessa história…
Dei um sorriso sem graça.
— Tem. Mas eu não posso contar.
Ela aceitou sem insistir.
— Tudo bem. Quando quiser falar, estarei aqui. Boa sorte!
Ela seguiu para sua repartição, e logo depois a recepcionista me chamou, entregando meu crachá e me encaminhando para uma sala no final do corredor.
Ao entrar, vi que o ambiente era pequeno, com três mesas ocupadas por rapazes que pareciam bem concentrados. Um deles levantou assim que me viu e sorriu.
— Você deve ser a Laura, a nova estagiária.
— Sim — confirmei.
— Bom, aqui todos somos estudantes — ele explicou. — Ah, eu sou Nico. Faço Ciências Políticas e sou seu superior direto. Aquele ali é Léo, estudante de Comunicação, e o outro é Lucas, Publicidade.
Cumprimentei os dois. Léo era um rapaz gordinho e simpático, vestindo uma camisa polo. Lucas, por outro lado, tinha aquele típico ar de nerd deslocado.
— Sua mesa é aquela ali — Nico apontou para um canto apertado com um computador e telefone.
— Parece animador… — murmurei, arrancando uma risada de Léo.
— Você vai pegar o jeito — disse Nico. — Sua função principal será atender as ligações, anotar recados e gerenciar e-mails conforme eu te instruir. Também vou te adicionar nos grupos de comunicação da equipe. Ah, e esteja sempre atenta ao celular.
Assenti, tentando absorver tudo.
— Outra coisa — ele continuou. — A maioria dos candidatos e coordenadores importantes fica no terceiro andar. É lá que Miguel Vasconcelos trabalha quando está por aqui.
Meu coração deu um leve salto ao ouvir seu nome.
— Vocês sabem que meu contrato é temporário, né?
— Sabemos. Mas, dependendo do seu desempenho, pode ser estendido.
Começamos o treinamento e, em poucas horas, minha cabeça já estava cheia de informações. Entre planilhas, contatos e reuniões, percebi o quão sério e estratégico aquele ambiente era.
No intervalo, fui com Léo e Lucas até a copa.
— Você fica até as 22h, certo? — Lucas perguntou.
— Sim.
Léo riu.
— Se gostar de verdade, não vai nem querer ir embora.
Ri junto.
Talvez ele estivesse certo.
Voltei para minha mesa determinada. Eu tinha muito o que aprender, mas uma coisa era certa: estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 92
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