Aquilo realmente tinha acontecido.
Eu ainda tentava assimilar a realidade, como se precisasse me beliscar para ter certeza de que não era um sonho. Eu tinha conseguido o estágio dos meus sonhos—e ainda pagava bem!
Depois de dias me sentindo uma fracassada, depois de tantas tentativas frustradas, finalmente, eu tinha conseguido. E tudo por causa dele. O candidato. O homem que enxergou algo em mim quando ninguém mais parecia notar.
Mas como eu contaria isso para meus amigos e minha família? O que eu diria? "O candidato a governador me deu uma vaga na equipe dele"? Isso soava surreal até para mim.
Respirei fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções dentro de mim, e voltei para o salão com um ânimo renovado. Meus olhos percorreram o ambiente, buscando por ele, mas não o encontrei de imediato. Então, depois de um tempo, vi sua figura inconfundível, um pouco afastado, conversando com seu assessor. A expressão séria, concentrada, o olhar fixo no chão, como se carregasse nos ombros um peso que ninguém mais via.
Não deveria me importar com isso. Ele era um político, um homem importante, e eu? Apenas uma jovem que havia acabado de ganhar uma oportunidade. Mas algo dentro de mim se remexia ao vê-lo daquela forma, como se uma parte minha quisesse atravessar aquela barreira e descobrir o que se passava em sua mente.
Oportunidade era uma palavra engraçada, porque outra surgiu logo depois. Ele se afastou do assessor e começou a tirar fotos com o público, especialmente com o eleitorado jovem. Meu coração acelerou. Poderia ser a última chance da noite.
Sem pensar duas vezes, me posicionei na fila.
Meu estômago revirava a cada passo que me aproximava, e quando finalmente chegou minha vez, ele ergueu os olhos para mim. Seu olhar encontrou o meu e, por um breve instante, o tempo pareceu desacelerar.
Um sorriso se formou em seus lábios, e eu retribuí, inclinando levemente a cabeça, como um agradecimento silencioso.
— Leni, tira uma foto nossa — ele pediu ao fotógrafo que o acompanhava.
O rapaz hesitou.
— Com ela, senhor?
— Sim.
Eu não esperava por isso. O normal era apenas um aperto de mão, uma foto rápida como ele fazia com os outros. Mas, por alguma razão, ele queria que aquela foto fosse registrada.
Miguel se posicionou ao meu lado e, diferente das imagens anteriores, não pousou a mão no meu ombro como havia feito com os outros, mas sim nas minhas costas, num toque sutil e inesperadamente caloroso.
Meu coração deu um salto.
— Tudo certo? — ele perguntou, baixinho, como se não quisesse que os outros ouvissem.
Engoli em seco, mas sorri.
— Sim. Obrigada pela chance, governador.
Ele arqueou a sobrancelha, um brilho de divertimento nos olhos.
— Você me chamou de governador?
— Não é o que você vai ser?
Seu sorriso se alargou.
— Então quer dizer que agora você acredita em mim?
Cruzei os braços, desafiadora.
— Se você me deu um voto de confiança, por que eu não daria um para você, Sr. Vasconcellos? Mas isso não significa que estou convencida.
Ele riu, e algo naquele riso fez meu peito apertar.
— Nem quero que esteja. Quero fazer por merecer—tudo, inclusive seu voto.
A forma como ele disse aquilo me fez prender a respiração. Não parecia só sobre política.
Por um instante, ficamos apenas nos olhando, como se houvesse algo não dito entre nós. Um sentimento indefinido, mas presente.
Respirei fundo, tentando recuperar o controle.
— Obrigada, Miguel. Obrigada por achar que eu mereço essa oportunidade. Eu farei por merecer.
Ele me observou por um momento, como se quisesse dizer algo mais, mas apenas assentiu.
— Você merece. Falta de experiência não define ninguém. Eu apenas dei a você a chance de adquiri-la. Não se envergonhe disso. Tenho certeza de que será uma grande adição à equipe.
Antes que eu pudesse responder, Francisco o chamou ao fundo. Miguel hesitou por um segundo, depois piscou para mim de maneira quase imperceptível.
— Até logo, Laura. Nos vemos no trabalho.
— Até, governador.
Ele se afastou, deixando para trás um rastro de algo que eu não sabia nomear.
Agora, eu trabalharia com Miguel Vasconcellos, o futuro governador.
E, pela primeira vez naquela noite, me peguei me perguntando: o que isso significaria para mim?
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Atualizado até capítulo 92
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