Narrado por Aurora
Saí do escritório sentindo um misto de raiva e frustração. Dante veio logo atrás de mim, seu passo firme ecoando pelo corredor.
— Aurora. — Ele chamou meu nome, mas continuei andando, sem diminuir o ritmo.
Respirei fundo, tentando me acalmar, mas não consegui segurar a pergunta que queimava em minha garganta.
— Por que você não me contou que meus pais estavam vindo? — parei abruptamente e me virei para encará-lo.
Dante suspirou, cruzando os braços.
— Eu só descobri quando eles já estavam chegando.
Minha mandíbula travou.
— E você achou que eu não deveria saber?
— Eu ia te contar. Mas foi tudo muito rápido, não tive tempo.
Revirei os olhos, soltando um suspiro de irritação.
— Ótimo. Então você achou que era melhor me deixar descobrir sozinha?
Ele abriu a boca para responder, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma dor aguda percorreu minha barriga.
Minha mão instintivamente segurou a lateral do meu corpo e me inclinei um pouco para a frente, tentando controlar a pontada que senti nos pontos da cesárea.
Dante franziu o cenho, imediatamente se aproximando.
— O que foi? O que está acontecendo?
Cerrei os olhos e respirei fundo, tentando dissipar a dor.
— Só... os pontos. — murmurei.
Ele não hesitou. Em um movimento rápido, se abaixou e me pegou no colo.
— Dante! Me coloca no chão! — protestei, chocada com o gesto inesperado.
Ele ignorou completamente minha reclamação.
— Você está se esforçando mais do que devia.
Tentei me debater, mas ele apertou os braços ao meu redor, me mantendo firme contra seu peito.
— Dante, eu posso andar!
— E eu posso carregar você. Então, cala a boquinha e deixa eu cuidar de você.
Minha boca se abriu, mas nenhuma resposta saiu.
A frustração ainda queimava dentro de mim, mas uma parte muito bem escondida se aqueceu com a atitude dele.
Ele me levou até o quarto, sem demonstrar nenhum sinal de esforço. Quando chegamos, me colocou com cuidado na cama.
— Fica quieta e descansa.
— Dante... — tentei protestar, mas ele já estava pegando o telefone.
— Alina, traga nosso jantar no quarto. Aurora precisa descansar.
Meu olhar se estreitou.
— Nosso jantar?
Ele me encarou, sem um pingo de paciência.
— Sim, porque se eu te deixar sozinha, você vai tentar sair da cama e fingir que está bem. Então, vou jantar aqui com você.
Cruzei os braços, mas não respondi.
Ele me analisou por um segundo antes de se sentar na poltrona ao lado da cama.
— Você precisa aprender a aceitar ajuda, Aurora.
Revirei os olhos.
— E você precisa aprender a me avisar sobre coisas importantes.
Ele suspirou, massageando as têmporas.
— Eu já expliquei. Não fiz de propósito.
— Você sempre tem uma resposta para tudo, não é?
— Sim. E, nesse caso, estou certo.
Bufei, mas, antes que pudesse responder, Alina entrou com uma bandeja de jantar.
Dante pegou a comida e colocou a bandeja na minha frente, depois pegou a dele e se acomodou ao meu lado na cama.
Eu o encarei, desconfiada.
— Você sempre faz isso?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— O quê? Comer? Sim, é algo que os humanos fazem.
Revirei os olhos.
— Dante...
Ele suspirou.
— Não, Aurora. Eu não costumo jantar no quarto com ninguém. Mas estou aqui porque você precisa descansar, e se eu não ficar, você vai se forçar a levantar.
Engoli seco.
Dante Morelli. O homem que dizia não se importar.
E, no entanto, ali estava ele, garantindo que eu descansasse.
Talvez... talvez ele não fosse tão insensível quanto tentava parecer.
Fiquei encarando Dante enquanto ele comia, tentando decifrá-lo. O homem à minha frente era um mistério. Ele se dizia frio, insensível, indiferente… mas suas ações diziam o contrário.
— Vai ficar me olhando assim até eu engasgar? — ele perguntou, sem levantar os olhos da comida.
— Eu só estou tentando entender você.
Ele finalmente ergueu o olhar, arqueando uma sobrancelha.
— Boa sorte. Nem eu me entendo às vezes.
Dei uma risada baixa.
— Você tenta agir como se não se importasse, mas sempre faz o contrário.
Dante soltou um suspiro, largando os talheres no prato.
— Não se engane, Aurora. Eu só estou fazendo o que é necessário para manter as aparências.
Cruzei os braços, desconfiada.
— Ah, claro. Porque carregar uma mulher no colo e garantir que ela jante e descanse faz parte do seu plano de fingir que somos um casal perfeito, né?
Ele inclinou a cabeça de lado, me analisando.
— Você quer mesmo que eu te deixe sozinha?
Abri a boca para responder, mas hesitei. A verdade era que… não.
E Dante percebeu.
Ele deu um sorriso de canto.
— Achei que não.
Bufei e voltei minha atenção para meu prato, cortando um pedaço da carne com mais força do que o necessário.
— Não se ache tanto.
— Eu não me acho. Eu tenho certeza.
Joguei um pedaço de pão nele, mas Dante desviou rindo.
— Infantilidade não combina com você, Aurora.
— E arrogância não combina com você, Dante.
Ele riu baixo.
— Nesse caso, acho que estamos ambos fora do nosso papel.
Suspirei e larguei os talheres.
— Não quero falar mais sobre isso. Estou cansada.
Dante me observou por um segundo antes de se levantar.
— Então dorme.
Acordei no meio da madrugada com um vazio ao meu lado. Passei a mão pelo lençol frio e constatei o óbvio: Dante não estava na cama.
Um estranho incômodo percorreu meu peito. Onde ele estava a essa hora?
Peguei meu celular para ver a hora: 4:44 da madrugada.
Suspirei, sentindo o peso do cansaço, mas antes de voltar a dormir, resolvi abrir o aplicativo da babá eletrônica. A tela se iluminou, mostrando o quarto dos bebês.
O que vi a seguir me pegou completamente desprevenida.
Dante estava lá.
Dante Morelli. O mesmo homem que relutava em sequer olhar para os bebês.
Ele estava sentado em uma poltrona, segurando um dos gêmeos com um pouco de hesitação, enquanto Clara, a enfermeira, segurava o outro. Ele dava mamadeira para o bebê em seus braços, o olhar fixo na criança como se estivesse absorvendo aquele momento.
Meu coração acelerou.
Ele nunca tinha demonstrado interesse pelos bebês antes. Na verdade, eu até havia considerado que ele não gostava de crianças. Mas agora…
Ele parecia tão diferente.
Clara sorria de leve, instruindo-o:
— Agora, você precisa colocar ele para arrotar.
Dante arqueou uma sobrancelha, claramente incerto, mas seguiu as instruções, colocando o bebê contra o peito e dando leves tapinhas nas costas.
A enfermeira riu.
— Com um pouco mais de firmeza, senhor Morelli. Não precisa ter medo, ele não vai quebrar.
Dante resmungou algo inaudível, mas obedeceu.
Segurei o riso. O grande Dante Morelli, um dos homens mais temidos do mundo dos negócios, estava perdido diante de um bebê.
— Missão cumprida? — ele perguntou quando ouviu um pequeno arroto vindo da criança.
— Missão cumprida, — Clara confirmou, pegando o bebê dele e o colocando no berço com delicadeza.
Dante ficou parado por um momento, observando os gêmeos dormindo. Então, ele virou-se e saiu do quarto.
Apressei-me em desligar o celular e fechei os olhos, fingindo estar dormindo.
Segundos depois, ouvi a porta do nosso quarto se abrir.
Dante caminhou silenciosamente pelo quarto, tirou a camisa e deitou-se ao meu lado.
Senti quando o colchão afundou com seu peso.
Houve um breve silêncio antes de sua respiração se estabilizar.
Mas eu não conseguia parar de pensar no que acabei de testemunhar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 85
Comments
Cristiane F silva
N acho ela infantil ela como mãe só que está com seus filhos e se Boa mãe e cuidado dos seus filhos isso só mostra que ella tem responsabilidade e caráter ela poderia até se aproveita e deixa seus filhos pro aí sem. Se importa ou até deixa que os outros cuidem mas ela N ela ela sabe o que fazer como mãe. Toda. Mãe que é mãe faz
2025-03-10
22
Berê
Ahhh! Capítulo fantástico! Que diversidade de sentimentos, Autora! Tudo aconteceu neste capítulo, de uma forma ordenada, sucessivamente, em situações imprevistas e ao mesmo tempo possíveis! Quanta habilidade para narrar uma história fictícia com um aspecto de realidade. Parabéns!
2025-04-05
0
Denise
Como imaginei, os bebês estão derretendo a capa de gelo que envolve DANTE, mas acho que AURORA tem parte nesse derretimento da geleira, viu.
2025-03-29
1