A claridade suave invadia o quarto branco e impessoal. Pisquei algumas vezes, tentando ajustar minha visão e entender onde estava. O cheiro forte de antisséptico e os ruídos de monitores apitando me alertaram antes mesmo de perceber a cama macia sob meu corpo.
Meu coração disparou.
Minhas mãos voaram para minha barriga, em um instinto imediato de proteção, mas o espaço vazio me fez entrar em pânico.
— Meus bebês! Onde estão meus bebês?! — Minha voz saiu trêmula, desesperada.
Uma enfermeira apareceu ao meu lado, uma mulher de meia-idade com um sorriso gentil, e segurou minha mão.
— Calma, querida. Seus bebês estão bem. Eles nasceram prematuros, mas estão fortes.
Minha respiração ficou irregular. Eu queria vê-los. Precisava sentir que estavam vivos.
Mas, então, as palavras seguintes da enfermeira me congelaram.
— O pai está com eles agora.
Eu franzi o cenho.
— O quê?
Meu coração parou por um instante. Que pai? Meu ex não queria nada com as crianças, e meu próprio pai me expulsou de casa.
A porta se abriu, e um homem alto entrou. Seus cabelos negros estavam perfeitamente alinhados, os olhos castanho-escuros carregavam intensidade, e sua expressão era séria. Ele vestia um terno caro, mas a gravata estava um pouco solta, como se tivesse passado a noite ali.
Era ele.
O homem que me atropelou.
Ele me analisou por um instante antes de falar:
— Você está bem?
Minha mente estava em frangalhos, e minha primeira reação foi atacá-lo.
— Estou bem? Eu tive meus bebês antes do tempo! Eles nasceriam no momento certo se você não tivesse me atropelado!
Ele ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Ah, me desculpe por não ter previsto que você apareceria na frente do meu carro do nada.
Eu cerrei os dentes, pronta para responder, mas minha exaustão me venceu. Suspirei e olhei para ele, finalmente questionando:
— Por que aquela enfermeira disse que o pai das crianças está com eles?
Ele pareceu desconfortável, passando a mão pelos cabelos.
— Foi um mal-entendido. Quando cheguei com você, as enfermeiras presumiram que eu era o pai e me levaram para vê-los.
Minhas sobrancelhas se ergueram.
— E você não os corrigiu?
Ele deu de ombros.
— Você estava inconsciente. Eles precisavam de alguém para assinar alguns documentos.
Respirei fundo, absorvendo as informações.
— Eu quero vê-los.
Ele assentiu.
— Já pedi para prepararem tudo para que você possa ir até a UTI Neonatal. Mas antes... Me responda uma coisa.
Eu ergui o olhar para ele, esperando.
— Você tem família?
Meu peito apertou. Pensei na frieza nos olhos de meu pai e no olhar de desgosto de minha mãe.
— Achei que tivesse. Mas eles me expulsaram de casa.
O silêncio pairou entre nós.
Então ele perguntou:
— E o pai das crianças?
Meu corpo ficou tenso, e minha voz saiu quase como um sussurro.
— Ele me abandonou.
Dante Morelli me observou por um longo tempo, seus olhos avaliando cada detalhe da minha expressão.
— Então você não tem para onde ir.
Engoli em seco, sentindo uma lágrima brotar no canto dos meus olhos.
— Infelizmente, não.
Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos antes de se aproximar mais.
— Se eu te fizesse uma proposta, você aceitaria?
Eu franzi o cenho.
— Que tipo de proposta?
Ele puxou uma cadeira e sentou ao meu lado, seu olhar sério e determinado.
— Preciso de uma esposa.
Minha boca se abriu levemente, sem entender se aquilo era uma piada ou um delírio da medicação.
— O quê?
Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Meu avô me deu um ultimato. Tenho três meses para me casar ou perco a empresa pela qual trabalhei minha vida inteira.
Eu ainda tentava assimilar.
— E o que isso tem a ver comigo?
Ele suspirou.
— Você precisa de um lugar para ficar. Eu preciso de uma esposa de fachada. Podemos ajudar um ao outro.
Balancei a cabeça, tentando entender a loucura daquela situação.
— Isso é insano. Você quer que eu me case com você só para manter sua empresa?
— Sim. Em troca, você e seus filhos terão segurança financeira e um lugar para viver.
Meus olhos se estreitaram.
— E o que acontece depois?
Ele inclinou a cabeça, como se já tivesse tudo planejado.
— Depois de um tempo, poderemos nos divorciar amigavelmente. Sem complicações.
Eu ri, sem humor.
— Você fala como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Ele não recuou.
— Porque para mim é. Casamentos em meu mundo são, muitas vezes, apenas contratos. E você, Aurora, está em uma situação sem muitas opções.
Meus dedos se apertaram no lençol.
— Então você quer que eu venda minha liberdade em troca de estabilidade?
Ele deu um sorriso de canto, sem desviar o olhar.
— Eu quero que você faça um acordo vantajoso para ambos. Você terá um lar para criar seus filhos, e eu manterei minha posição. Ninguém sai perdendo.
O peso das suas palavras caiu sobre mim.
Eu não tinha mais um lar. Não tinha mais ninguém. O futuro dos meus filhos dependia apenas de mim agora.
Suspirei, sentindo o peso da decisão que precisava tomar.
— Eu preciso pensar.
Dante se levantou, ajustando o terno.
— Claro. Mas não demore muito. Meu prazo está acabando.
Ele me lançou um último olhar antes de sair do quarto.
Meus olhos se voltaram para a janela.
Paris era um sonho que desmoronou. Minha família me rejeitou.
E agora, um estranho me oferecia uma vida que eu nunca imaginei.
O que eu faria?
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Atualizado até capítulo 85
Comments
Francis Damasceno
Se sua própria família e o seu namorado, pais dos seus filhos, os quais você achou que te amava e te conhecia te abandonaram; porque não aceitar ajuda de um desconhecido que pode fazer por você o que eles deveriam e não fizeram?
2025-02-20
46
Denise
Apesar do atropelamento, felizmente, DANTE conseguiu frear a tempo da AURORA se machucar o mínimo possível, tanto que ela não sofreu um aborto. Eles nasceram e a mamãe e os bebês estão bem. Analisando minuciosamente o quadro atual da vida da AURORA, ela não tem outra saída a não ser aceitar a proposta do DANTE.
2025-03-28
1
Lu e a Estante de Sonhos
Aceita, sua boba!!! O que é um peido pra quem está cagado???🤭🤭🤭🤣🤣🤣🤣🤣🤣
2025-03-08
15