Narrado por Aurora
Dante andava de um lado para o outro, visivelmente irritado. Seus dedos passavam pelos cabelos escuros enquanto seu olhar se fixava em algum ponto invisível da parede.
— Ele quer me arruinar. — murmurou, mais para si do que para mim.
Cruzei os braços e observei. Nunca tinha visto Dante assim. Ele era sempre frio e calculista, mas, naquele momento, a fúria brilhava em seus olhos.
— Leandro? — perguntei, já sabendo a resposta.
Dante parou e olhou diretamente para mim.
— Ele quer me desmascarar. Ele desconfia que nosso casamento é uma farsa e quer provar isso para todos.
Engoli em seco.
— E por quê? Só pelo prazer de estragar tudo?
Dante soltou uma risada amarga.
— Não. Porque ele quer o meu lugar na empresa.
Aquelas palavras caíram pesadas no ambiente. Eu sabia que Dante era um homem poderoso, mas não imaginava que houvesse uma disputa de poder tão intensa dentro da própria família.
— E o que vamos fazer? — perguntei.
Ele me encarou com seriedade.
— Vamos continuar com essa farsa e ser ainda mais convincentes. Não podemos dar nenhuma brecha. Meu avô precisa continuar acreditando nisso. Se ele desconfiar, tudo desmorona e eu perco a empresa.
Suspirei, sentindo o peso da situação. Como se já não fosse difícil fingir esse casamento, agora tínhamos alguém tentando nos expor.
— Tudo bem. Vamos manter as aparências. — concordei.
Dante assentiu, parecendo um pouco mais aliviado. Mas então, sua expressão voltou a se fechar.
— Tem mais uma coisa. Meu avô quer um jantar em família hoje. Às sete.
Fiz uma careta.
— Outro jantar?
Ele cruzou os braços.
— Sim. E quero que esteja impecável.
Arqueei uma sobrancelha.
— Impecável?
Dante apenas me lançou um olhar impassível.
— Você sabe do que estou falando.
Senti meu sangue ferver um pouco.
— Ah, claro. Porque a aparência é tudo, não é?
— Neste caso, sim.
Soltei um suspiro e me virei, andando até o armário.
— Ótimo. Então eu vou escolher um vestido digno da sua ‘esposa perfeita’.
Dante não disse nada, mas quando olhei pelo reflexo do espelho, vi um pequeno sorriso brincar nos lábios dele.
— Isso aí, querida. Você está pegando o jeito do jogo.
Mais tarde…
Desci as escadas antes das sete. O vestido preto que escolhi para o jantar era elegante, mas nada parecia me preparar para o que viria a seguir.
Olhei ao redor e não vi Dante nem o senhor Leonardo. A sala de estar estava silenciosa, apenas o som distante de vozes masculinas ecoava pelo corredor.
Alina, a governanta, passou ao meu lado e aproveitei para perguntar:
— Alina, onde estão Dante e o senhor Leonardo?
Ela parou por um momento antes de responder:
— Estão no escritório, conversando com seus pais.
Meu coração disparou.
Pais.
A palavra soou como um trovão nos meus ouvidos.
— Meus pais estão aqui? — perguntei, sentindo meu corpo enrijecer.
Alina, a governanta, hesitou antes de responder:
— Sim, senhora. Estão no escritório com o senhor Dante e o senhor Leonardo.
O ar pareceu me faltar por um instante. Minhas mãos suaram, e meu estômago se revirou.
Meus pais. Depois de tudo.
Depois de me expulsarem de casa quando eu mais precisava. Depois de me chamarem de vergonha, de me olharem com desprezo quando eu estava grávida de oito meses. Depois de dizerem que eu não fazia mais parte da família.
E agora estavam aqui.
Tentei controlar minha respiração. Não podia desmoronar.
— Você sabe há quanto tempo eles chegaram?
— Pouco antes das seis. O senhor Dante os recebeu.
Dante sabia e não me avisou?
Engoli a raiva e me virei para as escadas. Meu primeiro instinto foi fugir, mas uma voz dentro de mim disse que já era hora de enfrentar aqueles que me viraram as costas.
Com cada passo em direção ao escritório, sentia meu coração bater mais forte.
Quando cheguei diante da porta, ouvi vozes. A de Dante, firme como sempre. A de Leonardo, serena. E então… as vozes que eu jamais esqueceria.
Meu pai. Minha mãe.
Respirei fundo e abri a porta.
Todos os olhares se voltaram para mim. Meu pai estava sentado na poltrona de couro, como se estivesse no controle da situação, enquanto minha mãe mantinha a postura rígida ao lado dele.
Dante estava de pé, braços cruzados, a expressão indecifrável. Leonardo, atrás da mesa, observava tudo com olhos analíticos.
Meu pai foi o primeiro a falar.
— Aurora.
Havia algo estranho em sua voz. Um tom neutro, quase frio.
Cruzei os braços.
— O que vocês estão fazendo aqui?
Minha mãe suspirou, como se já esperasse minha hostilidade.
— Viemos conversar.
— Conversar? — soltei uma risada sem humor. — Engraçado. Porque da última vez que conversamos, vocês me expulsaram de casa.
Meu pai me encarou com firmeza.
— Aurora, sabemos que cometemos erros.
— Erros? Vocês me abandonaram!
O silêncio tomou conta do escritório. Dante observava tudo sem interromper.
Minha mãe, que sempre teve uma imagem impecável, manteve a pose, mas seus olhos demonstravam incômodo.
— O que quer que façamos? Que nos ajoelhemos e peçamos perdão?
— Talvez. Mas, honestamente, não acredito que vocês tenham vindo aqui para isso.
Meu pai suspirou e olhou para Leonardo.
— Viemos porque queremos restabelecer nossa relação. Aurora você é nossa filha.
Cruzei os braços, mantendo a postura firme.
— E só perceberam isso agora?
Minha mãe pareceu irritada.
— Você está casada com um Morelli. Isso muda as coisas.
Ah, então era isso.
Soltei uma risada amarga.
— Claro. Agora eu faço parte de uma das famílias mais poderosas do país, então vocês lembraram que têm uma filha.
Meu pai franziu o cenho.
— Você sempre foi nossa filha. Mas, na época, você nos colocou em uma situação difícil.
Dante, que até então estava calado, decidiu intervir.
— Situação difícil? Vocês a abandonaram quando ela mais precisava.
Meu coração apertou. Ele estava… me defendendo?
Meus pais olharam para ele. Meu pai, como se analisasse suas palavras. Minha mãe, com um ar levemente desconfortável.
— Dante, não conhece a história inteira. — meu pai tentou argumentar.
Dante deu um passo à frente, sua presença dominando a sala.
— Conheço o suficiente. Sei que ela estava grávida, precisando de apoio, e vocês escolheram abandoná-la.
Meu pai apertou os lábios, claramente não gostando do tom de Dante.
— Não foi tão simples assim.
— Foi exatamente assim. — rebati.
Eles ficaram em silêncio.
Leonardo, que vinha apenas observando, resolveu falar.
— Aurora agora é parte da nossa família. Se vocês realmente querem uma reaproximação, precisam entender que não é algo que se constrói com palavras vazias e eu convidei vocês hoje para isso.
Meu pai recostou-se na poltrona, pensativo.
Minha mãe suspirou.
— Nós não esperamos que nos perdoe de imediato. Mas queríamos pelo menos abrir esse caminho.
Eu queria acreditar nisso. Mas sabia que meu pai era um homem de negócios, e minha mãe sempre seguiu o que ele dizia. Se estavam aqui, era porque tinham algo a ganhar.
Cruzei os braços e encarei os dois.
— Não sei se estou pronta para isso.
— Aurora… — minha mãe começou, mas eu a interrompi.
— Vou pensar. Só isso que posso dizer agora.
Ela fechou os olhos por um segundo e assentiu.
— Entendemos.
Meu pai se levantou, ajeitando o paletó.
— Vamos dar tempo ao tempo.
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Atualizado até capítulo 85
Comments
angel.🌺
a não consigo entender isso,pessoas ganaciosas que fazem tudo por dinheiro, mesmo sendo meus pais eu não aceitaria nunca mais estar na presença deles,depois de ser expulsa de casa,e tá na hora de dá um chega pra lá nesse avô entrometido tbm.🙄🤦🏻♀️😡😡
2025-03-08
24
Berê
Interesses econômicos, ganância, poder, riqueza, status... Crápulas! Péssimos! Carrascos! Cruéis! Déspotas! Pífios!... Os pais de Aurora pertencem à pior classe de atributos para qualificá-los! Não merecem ser chamados de pais! São escórias como seres humanos! Tomara que Dante e seu avô os coloquem em seu devido lugar, porque farão de tudo para atrapalhar a vida da Aurora e seus bebês!
2025-04-05
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Denise
Quando AURORA viu a sala vazia, pensei que LEANDRO iria pressioná-la. Mas foi algo simar: seus pais. Amei o posicionamento de AURORA diante o falso e interesseiro pedido de desculpas dos seus pais. Ótimo que ela se impôs e o DANTE validou seu discurso. Aparentemente, LEONARDO a apoiou.
2025-03-29
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