Depois de um dia cansativo e emocionante, finalmente fiquei sozinha com Bento e Bella. Clara insistiu que, se eu precisasse de qualquer coisa, era só chamá-la, mas eu queria um momento só meu com os bebês.
Sentei-me na poltrona de amamentação, observando aqueles dois seres tão pequenos e frágeis no berço. Meu coração transbordava de amor, mas também de incerteza. Como eu criaria meus filhos em uma situação tão complicada?
Minha contemplação foi interrompida quando dona Marta apareceu na porta com uma bandeja.
— Eu trouxe algo para você comer, querida.
Suspirei e balancei a cabeça.
— Obrigada, mas não estou com fome.
Ela franziu a testa, insistindo com um tom maternal:
— Você precisa se alimentar bem para poder amamentar.
Antes que eu pudesse responder, Dante surgiu na porta. Ele pegou a bandeja das mãos de Marta e olhou para ela com um aceno de cabeça.
— Pode descansar, Marta. Eu cuido disso.
Ela hesitou por um momento, mas acabou saindo, deixando-me sozinha com Dante. Ele trouxe a bandeja até mim e colocou sobre a mesinha ao lado da poltrona.
— Coma. — Sua voz era firme, mas não rude.
Olhei para a sopa fumegante, o suco fresco e a pequena sobremesa ao lado. Ele não parecia o tipo de homem que se preocupava com detalhes, mas aqui estava ele, garantindo que eu me alimentasse.
Peguei a colher e dei uma pequena colherada na sopa. Dante observava tudo em silêncio, mas logo desviou o olhar para os bebês.
— Clara não está por aqui?
— Não. — Respondi, entre uma colherada e outra. — Eu dispensei ela para que pudesse descansar. Ela tem me ajudado muito desde que cheguei aqui.
Ele assentiu, cruzando os braços enquanto continuava olhando para as crianças. O silêncio se instalou no quarto, até que ele finalmente disse algo que me deixou alerta:
— Vou contar para meu avô.
Engoli seco e larguei a colher.
— Seu avô?
— Sim. Ele precisa saber. Mas isso significa que teremos que nos preparar.
Eu franzi a testa, tentando entender.
— Se preparar para quê?
Dante se virou para mim, seus olhos intensos encontrando os meus.
— Precisamos criar uma história.
O silêncio pesou no quarto.
— Uma história? — Repeti, incerta.
Ele respirou fundo, como se estivesse organizando os pensamentos.
— Meu avô não vai aceitar simplesmente que eu apareça do nada com uma mulher e dois filhos. Ele é um homem desconfiado, exigente. Se queremos que isso funcione, precisamos ter uma versão convincente de como nos conhecemos e de como chegamos até aqui.
Minha cabeça começou a girar.
— E o que exatamente você tem em mente?
Dante caminhou até a poltrona ao lado e se sentou, me observando atentamente antes de falar:
— Nos conhecemos há um ano, mas mantivemos nosso relacionamento discreto. Quando você engravidou, decidiu criar os bebês sozinha, sem me contar, porque achou que eu não aceitaria. Mas quando descobri, fiz questão de assumir minha responsabilidade.
Pisquei algumas vezes, absorvendo sua versão.
— E como você “descobriu” então?
Ele inclinou a cabeça levemente.
— Você sofreu um acidente e foi parar no hospital. Foi quando fiquei sabendo da existência dos bebês.
— Não deixa de ser verdade. — Murmurei, mordendo o lábio.
Ele assentiu.
— Exato. É sempre mais fácil mentir quando a história é baseada na verdade.
Passei a mão nos cabelos, sentindo um frio na barriga.
— E se ele desconfiar?
Dante sorriu de canto, mas não era um sorriso divertido. Era um sorriso de quem sabia exatamente o que estava fazendo.
— Meu avô pode ser duro, mas ele valoriza a família acima de tudo. Se acreditarmos nessa história, ele também acreditará.
Suspirei. Eu não tinha muitas opções. Se esse era o preço para garantir a segurança de Bento e Bella, então eu pagaria.
— Certo. Vamos fazer isso.
Dante se levantou, parecendo satisfeito.
— Ótimo. Amanhã começamos a treinar nossa versão. Até lá, descanse.
Ele saiu do quarto, deixando-me com uma mistura de alívio e inquietação.
Eu olhei para os meus bebês mais uma vez, sentindo um aperto no peito. Essa mentira estava apenas começando, mas eu sabia que, no fundo, ela mudaria tudo.
Na manhã seguinte, acordei com um misto de ansiedade e exaustão. A noite havia sido longa, com Bento e Bella acordando a cada poucas horas. Embora exausta, eu não conseguia evitar o sorriso que surgia ao vê-los.
Quando finalmente saí do quarto, encontrei Dante na cozinha, vestido impecavelmente em uma camisa social azul-marinho e calça preta. Ele segurava uma xícara de café enquanto lia algo no celular.
Ele ergueu os olhos assim que me viu.
— Dormiu bem?
Soltei uma risada cansada.
— Se dormir duas horas seguidas contar, então sim.
Dante arqueou uma sobrancelha.
— Clara e a enfermeira estão aqui para te ajudar, sabia?
— Eu sei. Mas eu quero estar presente o máximo possível.
Ele assentiu, como se entendesse.
— Bom, temos muito o que fazer hoje. Precisamos alinhar a nossa história antes que meu avô nos procure.
Sentei-me à mesa, sentindo o peso da situação.
— Então vamos lá. Como exatamente nos conhecemos nessa versão da história?
Dante colocou o celular de lado e me olhou com seriedade.
— Em um evento de caridade na França. Você estava lá ajudando na organização, e eu fui como convidado. Ficamos interessados um no outro, mas não tornamos público. Quando você engravidou, decidiu esconder a gravidez porque achou que eu não aceitaria. Só descobri por causa do acidente.
Franzi o cenho.
— E se perguntarem detalhes sobre esse evento?
Dante sorriu de canto.
— Foi um jantar beneficente para crianças carentes, organizado por uma fundação que realmente existe. Meu avô sabe que eu frequento esses eventos de vez em quando.
Pensei por um momento antes de assentir.
— Ok. E sobre o nosso relacionamento? Como devemos agir um com o outro?
Ele se inclinou levemente para frente, os olhos analisando minha expressão.
— Teremos que parecer um casal real. Nada exagerado, mas convincente. Olhares, proximidade, pequenos gestos. Você se sente confortável com isso?
Engoli seco.
— Acho que sim. Mas... e seu avô? Como ele é?
Dante soltou um suspiro pesado.
— Leonardo Morelli é um homem de princípios rígidos. Ele não aceita fraquezas, mentiras ou desonestidade. Se desconfiar de algo, vai nos pressionar até descobrir a verdade. Mas, seu ponto fraco é a família.
Meu estômago revirou.
— Ótimo. Então temos que ser impecáveis.
Ele sorriu de canto.
— Exatamente. Vamos começar a ensaiar.
E assim passamos a manhã, ajustando detalhes, alinhando respostas, memorizando a mentira que se tornaria nossa realidade.
No fundo, eu sabia que, uma vez que essa história começasse, não haveria mais volta.
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Atualizado até capítulo 85
Comments
angel.🌺
Acho que deveriam pensar no pai verdadeiro das crianças, que ele pode aparecer,ao vê-la nos site de fofoca,ao lado de um homem poderoso por pura inveja,requerer a paternidade. 🤔🤔🙄
2025-03-08
30
Denise
AURORA tem que revelar a DANTE os nomes dos seus pais e do pai biológico dos bebês para evitar que ela se esbarre com eles três em alguma festa ou evento da família do DANTE e aí toda a mentira será descoberta e o plano de DANTE e a segurança dos bebês caem por terra.
2025-03-29
1
Vilma Alice
Com um avô de princípios tão rígidos esses dois terão que se prepararem muito para convencerem o sr Leonardo Morelli de estarem falando a verdade.Será que a presenca dos bebês quebrarão o duro coração dele??????
2025-04-04
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