O jantar já havia começado quando desci as escadas. A enorme mesa estava impecavelmente arrumada, repleta de pratos sofisticados e talheres alinhados com perfeição. Todos já estavam sentados, mas o ambiente parecia tenso.
Dante se levantou assim que me viu e puxou a cadeira ao seu lado. Ele fez isso com uma naturalidade surpreendente, como se fôssemos mesmo um casal que já estivesse acostumado a esse tipo de gesto, mas eu sabia que tudo era um teatro. Eu me sentei, tentando ignorar os olhares dos familiares que pareciam pesar sobre mim.
— Chegou atrasada. — O senhor Morelli comentou, sem esconder sua impaciência.
— Os bebês precisavam de mim. — Respondi com calma, olhando diretamente para ele.
Dante colocou uma mão sobre a minha, como se estivesse ali para me dar apoio. Então, antes mesmo que eu pudesse me preparar, o senhor Morelli foi direto ao ponto:
— E seus pais? Quem são? Nunca ouvi falar sobre eles.
A faca que eu segurava tremeu levemente em minha mão. Eu sabia que essa pergunta viria, mas não esperava que fosse tão cedo e de forma tão fria.
— Meus pais são donos da D’Valmort, uma empresa de moda.
Um silêncio tomou conta da mesa. Até mesmo Mia, que parecia mais relaxada do que os outros, ergueu as sobrancelhas em surpresa.
— D’Valmort? — Alex, um dos irmãos de Dante, finalmente quebrou o silêncio. — Então você vem de uma família rica?
Assenti, mas antes que pudesse continuar, Leonardo Morelli cruzou os braços e me olhou com um olhar crítico.
— E por que não fui apresentando a ele ainda?
Engoli em seco. Esse era o momento em que a verdade teria que ser dita.
— Porque eles me expulsaram de casa quando descobriram que eu estava grávida. — Minha voz saiu firme, mesmo que por dentro eu sentisse um nó apertando minha garganta.
Mia soltou um suspiro baixo, e Alex desviou o olhar. A reação foi mista, mas ninguém pareceu genuinamente surpreso.
— Isso foi antes ou depois de Dante saber dos bebês? — O primo de Dante, que eu não lembrava o nome, perguntou com um tom provocativo.
Respirei fundo, olhando de relance para Dante.
— Na época, por causa do meu orgulho, Dante ainda não sabia sobre os bebês.
O senhor Morelli se recostou na cadeira, pensativo. Seus olhos analisavam cada detalhe do que eu tinha acabado de contar.
— Então você teve coragem de carregar essa gravidez sozinha? — Sua voz estava menos crítica agora, mas ainda dura.
— Tive. — Respondi, mantendo minha postura firme. — Eu não ia abrir mão dos meus filhos, mesmo sabendo que teria que enfrentar tudo sozinha.
Mia olhou para mim com um brilho de admiração nos olhos, e até Alex parecia um pouco impressionado.
— E quando você contou para Dante? — O tio de Dante perguntou, estreitando os olhos.
— Não tem muito tempo. Foi um choque para ele, como seria para qualquer pessoa, mas estamos tentando resolver as coisas da melhor forma possível.
O silêncio que se seguiu foi cortado pelo senhor Morelli, que bufou e pegou seu copo de vinho.
— E você acha que meu neto vai ser um bom pai?
Olhei para Dante, que agora me observava com uma expressão indecifrável. Eu poderia dizer qualquer coisa ali, mas a verdade era que eu não tinha uma resposta definitiva.
— Eu acredito que sim. — Respondi com honestidade.
O senhor Morelli deu um meio sorriso, mas não parecia totalmente convencido.
— Veremos.
A comida finalmente começou a ser servida, e o jantar seguiu em um silêncio estranho. Todos pareciam absorver as informações que eu tinha revelado.
Mia, que estava ao meu lado, finalmente quebrou a tensão.
— Aurora, seus pais sabem que você está aqui agora?
Neguei com a cabeça.
— Não. Desde que me expulsaram, eu nunca mais falei com eles.
Mia fez uma careta.
— Eles devem estar arrependidos.
Soltei uma risada sem humor.
— Se estivessem, teriam me procurado.
O jantar continuou, e aos poucos, as conversas se voltaram para outros assuntos. Mas eu sabia que aquilo era só o começo. Minha presença naquela casa ainda seria testada muitas vezes.
Depois do jantar, os empregados começaram a recolher os pratos enquanto os membros da família Morelli se dispersavam pela sala. Dante manteve-se ao meu lado o tempo todo, provavelmente para garantir que eu não me sentisse encurralada.
O senhor Leonardo Morelli, no entanto, parecia longe de satisfeito. Ele se sentou em uma poltrona imponente e fez um gesto para que Dante e eu nos aproximássemos.
— Vocês dois, sentem-se aqui.
Dante me guiou até o sofá de frente para o avô, e eu sentei sem protestar. Eu já sabia que aquela conversa estava longe de terminar.
O olhar de Morelli pesou sobre mim antes que ele finalmente dissesse:
— Não vou mentir. Eu esperava que Dante se casasse com alguém mais… apropriado.
A forma como ele disse aquilo me irritou.
— Apropriado? — Perguntei, levantando uma sobrancelha.
Ele tomou um gole de seu whisky antes de responder:
— Alguém de uma família que pudesse fortalecer nossa influência, nosso Império.
Dante soltou um suspiro pesado ao meu lado, visivelmente irritado.
— Nonno, já discutimos isso antes. Não vou me casar por interesse.
O senhor Morelli soltou uma risada seca.
— Não me faça rir, Dante. Você acha que esse casamento que você inventou não é por interesse? O que exatamente você ganha com isso?
Engoli em seco. Aquilo estava indo para um caminho perigoso.
— Eu ganho a chance de criar meus filhos. — Dante respondeu firme, sua mão se fechando em punho.
— E você? — Morelli se virou para mim. — O que você ganha? Além de um teto e proteção?
Respirei fundo. Eu sabia que qualquer resposta errada poderia comprometer tudo.
— Eu ganho a chance de criar meus filhos com dignidade. Não estou pedindo nada além disso.
O olhar do senhor Morelli permaneceu fixo em mim por longos segundos antes de ele soltar um suspiro pesado.
— Muito bem. Mas saiba que estou observando. E se eu perceber que isso é uma farsa… — Ele fez uma pausa dramática, inclinando-se para frente. — Vocês não vão gostar das consequências.
Meu estômago se revirou, mas mantive minha expressão neutra.
— Entendido.
Dante se levantou abruptamente.
— Essa conversa já acabou.
Ele segurou minha mão e me puxou suavemente para que eu também me levantasse.
Antes de sair da sala, eu ainda senti o olhar pesado do senhor Morelli em minhas costas.
Assim que entramos no quarto que compartilharíamos, Dante fechou a porta com mais força do que o necessário. Ele passou as mãos pelos cabelos, claramente frustrado.
— Ele já está testando você.
— E você acha que eu não percebi? — Suspirei revirando os olhos, sentando-me na beira da cama.
Dante me olhou sério.
— Ele desconfia de todo mundo. Não leva nada pelo lado pessoal.
Soltei uma risada sem humor.
— Fácil para você falar.
Ele passou a mão pelo rosto, cansado.
— Isso não vai ser fácil. Mas eu prometo que não vou deixar nada acontecer com você ou com as crianças.
A forma como ele disse aquilo, com tanta certeza, fez meu peito apertar.
— Obrigada.
Dante não respondeu, apenas assentiu, os olhos ainda carregados de preocupação.
Eu sabia que aquela era apenas a primeira batalha. Mas uma coisa era certa: eu não deixaria o senhor Morelli me encurralar.
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Atualizado até capítulo 85
Comments
Ana Carvalho
Ai gente sem noção, é só uma história, misericórdia, se é do tempo x ou tempo y é só uma história, oh povo chato.
Tchau pra quem vai, quem está de boa fica.
2025-03-29
10
Deborah Cristina
também acho ridículo um homem se sujeitar a um casamento forçado pra não perder o cargo de CEO, sai fora vai abrir a própria empresa deixar os abutres se virar sozinhos
2025-03-20
2
Denise
Gostei que AURORA falou a verdade sobre seus pais, do contrário, seria mais uma mentira. Mas o vovô LEONARDO continua intransigente e afirma que DANTE não fez uma boa escolha. Ainda bem que DANTE e AURORA seguem na mesma sintonia.
2025-03-29
3