Tocando a gema, o mundo ao meu redor pareceu desaparecer. O som do vento, antes frenético e imponente, tornou-se uma melodia distante, um sussurro quase imperceptível. E eu sabia, sem dúvida alguma, que algo dentro de mim havia mudado. Eu não era mais o mesmo homem que havia entrado naquela caverna com Lyria e Kael. O Coração da Tempestade estava dentro de mim agora, batendo em sincronia com o meu próprio coração, como se nossos destinos tivessem se entrelaçado de forma irreversível.
Quando retirei a mão da gema, ela não era mais apenas uma pedra reluzente. Eu sentia o poder dela, uma energia que parecia pulsar na minha pele, fluindo através de minhas veias. E, de algum modo, sabia que ela não estava apenas conectada a mim; ela estava me guiando, me controlando. O vento dentro de mim estava forte, mais forte do que jamais imaginei ser possível, e eu temia que, a qualquer momento, ele pudesse me consumir. Mas, ao mesmo tempo, havia algo de belo em sua força. Como a tempestade que quebra as ondas do mar, era poderosa, inevitável e, por algum motivo que eu não conseguia explicar, quase… necessária.
O silêncio na caverna era absoluto. Eu olhei para Lyria, que estava imóvel, com os olhos fixos em mim. Ela não dizia nada, mas eu podia ver a mistura de fascinação e apreensão em seu olhar. Ela sabia o que aquele poder significava, tanto quanto eu sabia agora. Ela também sabia que algo irreversível havia acontecido.
Karl estava ao meu lado, observando tudo com um olhar atento. Era difícil ler sua expressão; ele não demonstrava surpresa, nem medo. Apenas… observava, como sempre. Karl nunca foi alguém fácil de decifrar e, naquele momento, ele parecia mais distante do que nunca. Eu sabia que ele queria entender o que eu havia feito, mas também sabia que não era algo que pudesse ser explicado em palavras.
— Você… — Lyria finalmente falou, a voz tremendo, como se estivesse tentando se adaptar ao que estava acontecendo. — O que você sente, Arlen?
Eu a olhei, tentando encontrar as palavras para descrever o que estava acontecendo dentro de mim. Era como se o vento, que sempre foi uma presença ao meu redor, agora estivesse se tornando parte de mim. O ar não estava mais apenas fluindo ao meu redor; ele estava me preenchendo, me controlando, e eu não sabia o quanto dessa força eu poderia conter.
— Eu sinto… — Parei, sem saber o que dizer. O que eu sentia era difícil de explicar. Era algo tão vasto, tão intenso, que minhas palavras pareciam pequenas demais para transmitir a magnitude do que estava acontecendo. — Eu sinto o vento. Dentro de mim. Como se ele fosse a minha própria respiração.
Lyria não disse nada, mas o entendimento brilhou em seus olhos. Ela sabia o que isso significava. Sabia que o poder que eu agora carregava não era algo que pudesse ser ignorado. Não era algo que pudesse ser controlado sem grandes consequências.
Karl se aproximou, mais cauteloso do que eu já o vira, e olhou para o altar onde a gema ainda repousava, emitindo uma luz suave. Ele tocou a pedra com a ponta dos dedos e, pela primeira vez, sua expressão se suavizou um pouco. A relíquia não parecia mais uma ameaça, mas algo… sagrado.
— Então, é isso. — Murmurou, mais para si mesmo do que para nós. — O Coração da Tempestade. Não é um artefato, é uma força. Uma força viva.
Assenti, ainda absorto na sensação do vento dentro de mim. Era como se, ao tocar a gema, eu tivesse aberto uma porta para algo que não sabia que existia. Não apenas dentro de mim, mas em todo o mundo. Como se o Coração da Tempestade fosse a chave para uma rede de forças que conectavam tudo — o vento, as marés, as estrelas.
Mas, ao mesmo tempo, havia algo muito mais sombrio por trás disso. O vento, que antes eu via como uma simples força da natureza, agora parecia carregar um peso que eu não conseguia entender completamente. O Coração da Tempestade não estava apenas me dando poder; ele estava me revelando uma verdade que eu não queria encarar. Talvez o que ele quisesse não fosse simplesmente que eu controlasse o vento, mas que eu compreendesse a verdadeira natureza da tempestade — a destruição e a criação, a vida e a morte, tudo entrelaçado de uma maneira que eu não podia compreender.
— Precisamos sair daqui. — A voz de Lyria interrompeu meus pensamentos. Ela olhava ao redor, como se sentisse que o tempo estava se esgotando, que algo estava prestes a acontecer. — O que quer que seja, não podemos ficar aqui por muito mais tempo.
Olhei para ela, mas não respondi de imediato. Ela estava certa. Mas havia uma parte de mim, uma parte que agora estava mais em sintonia com o vento do que jamais estive, que sentia que este lugar — o altar, o Coração — era o começo de algo muito maior. Algo que não poderia ser deixado para trás sem compreensão.
Karl estava tenso, como se sentisse que estávamos prestes a ser consumidos por algo que não podíamos controlar.
— O que quer que seja esse Coração, Arlen, é melhor que tenhamos um plano. — Karl disse, os olhos escuros fixos em mim. — Não podemos simplesmente sair correndo sem entender o que estamos lidando.
Eu sabia que ele estava certo, mas a verdade era que eu não tinha um plano.
— Eu… — Comecei, mas as palavras falharam novamente. O vento estava crescendo dentro de mim. Eu podia senti-lo girando, como se estivesse se preparando para se libertar. — Eu não sei o que fazer, mas sinto que precisamos entender isso.
Lyria deu um passo à frente.
— O que está acontecendo com você, Arlen?
Encarei-a, respirando fundo.
— Acho que precisamos ir para onde o vento nos leva.
Karl franziu a testa.
— Se isso nos levar ao inferno, você será o responsável.
Não havia outra escolha. O vento dentro de mim não me permitiria desistir.
E assim seguimos nosso caminho em direção ao que o futuro iria nos reservar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 35
Baixar agora
Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Comments