Capítulo 10

Mensagens, solicitações de seguidores, comentários... Tudo parecia fora de controle. A primeira coisa que fiz foi abrir o Instagram e, sem pensar duas vezes, mudei minha conta para privada. Em seguida, desativei os comentários nas minhas postagens, tentando conter a enxurrada de opiniões indesejadas.

Mas isso não foi suficiente. O Twitter estava ainda pior, com menções e mensagens de desconhecidos a cada segundo. Decidi desinstalar o aplicativo; não queria lidar com aquilo.

Apesar dessas medidas, a ansiedade não diminuía. Cada vibração do celular me fazia pular. Eu precisava de um tempo longe de tudo isso.

No trabalho, os olhares eram inevitáveis. Sussurros, risadinhas abafadas... Eu me sentia uma estranha no lugar onde sempre me senti confortável. Tentei me concentrar nas tarefas, mas a tensão era palpável.

No meio da manhã, enquanto organizava alguns equipamentos na sala de fisioterapia, ouvi uma batida na porta. Levantei o olhar e vi Nicholas parado ali, com uma expressão que misturava preocupação e culpa.

— Podemos conversar? — sua voz era suave, diferente do tom confiante de sempre.

Respirei fundo, tentando manter a calma.

— Por favor, só me escuta. — ele entrou na sala, fechando a porta atrás de si. — Eu nunca quis que isso acontecesse. Foi uma brincadeira estúpida, e eu não imaginei que tomaria essa proporção.

— Uma brincadeira estúpida que virou minha vida de cabeça para baixo. — respondi, sentindo a raiva misturada com exaustão. — Você tem ideia do que estou passando?

— Eu sei, e me sinto horrível por isso. — ele passou a mão pelos cabelos, um gesto que denunciava seu nervosismo. — Falei com minha publicitária, tentei conter as manchetes, mas parece que só piorou.

— Nicholas, não é só sobre as manchetes. — suspirei, tentando encontrar as palavras certas. — É sobre como isso afeta minha credibilidade aqui, meu trabalho, minha vida pessoal.

— Eu sei. — ele se aproximou, os olhos fixos nos meus. — E estou disposto a fazer o que for preciso para consertar isso. Se precisar que eu me afaste, que eu faça uma declaração pública, qualquer coisa.

Olhei para ele, vendo a sinceridade em seu rosto. Parte de mim queria gritar, culpá-lo por tudo. Outra parte sabia que ele não tinha intenção de me prejudicar.

— Eu só preciso de um tempo, Nicholas. — disse finalmente. — Para processar tudo isso e decidir o que é melhor para mim.

— Claro. — ele assentiu, dando um passo para trás. — Respeito seu espaço. Mas, por favor, saiba que estou aqui para o que precisar.

Assenti, sem dizer mais nada. Nicholas saiu da sala em silêncio, deixando-me sozinha com meus pensamentos e a difícil tarefa de reconstruir minha paz em meio ao caos instaurado.

...ᯓᡣ𐭩...

Uma semana se passou desde que a confusão começou, e as coisas finalmente começaram a se acalmar. Um pouco. As manchetes diminuíram, mas ainda existiam posts nas redes sociais sobre mim e Nicholas. Os fãs estavam divididos entre nos “shipparem” como o casal perfeito e especularem se tudo era apenas uma invenção da mídia.

As páginas de fã-clube continuavam compartilhando fotos nossas. Algumas eram do jogo, outras de momentos completamente aleatórios que, de alguma forma, pareciam significar algo para eles.

"ISABICHOLAS: o casal que ninguém sabia que precisava!" dizia uma postagem.

"Eles são tão fofos juntos, é óbvio que tem algo aí," afirmava outra.

Era surreal. Eu não sabia se ria ou chorava.

— Eles realmente inventaram um nome de ship pra gente? — perguntei a Jade, que estava ao meu lado olhando os posts com curiosidade.

— Claro que sim, Bela. O fandom de Nicholas é intenso, mas pelo menos eles gostam de você. Podia ser pior. — Jade deu de ombros, como se tudo fosse completamente normal.

— Gostar de mim? Eles estão criando uma narrativa inteira que não existe! — retruquei, exasperada. — Eu nem sei mais como olhar pra ele sem lembrar disso tudo.

— Falando nele... — Jade olhou pela janela e levantou as sobrancelhas.

Antes que eu pudesse entender, a campainha tocou. Suspirei.

— É ele, não é?

Jade riu.

— Quer que eu atenda e diga que você não está?

— Não adianta, ele vai insistir. Melhor acabar logo com isso.

Fui até a porta e a abri, encontrando Nicholas do outro lado, segurando uma sacola de papel com o logotipo do meu restaurante favorito.

— Precisamos conversar, e eu trouxe comida como suborno. — Ele sorriu de um jeito tão desarmante que me fez querer fechar a porta na cara dele e, ao mesmo tempo, convidá-lo para entrar.

— Suborno aceito. Então fale.

— Eu não queria que nada disso acontecesse. Nunca imaginei que um post bobo fosse causar tanto alvoroço. Mas quero que saiba que eu já estou tomando providências para evitar que isso continue.

— Tipo? — perguntei, cruzando os braços.

— Estou me reunindo com minha equipe para emitir uma nota oficial dizendo que somos apenas amigos e que essas especulações são infundadas. Também estou pedindo para as páginas de fã-clube respeitarem sua privacidade.

Suspirei, sentindo o peso diminuir um pouco.

— Obrigada, Nicholas. Mas... você entende o quanto isso afetou minha vida, não entende?

— Eu entendo, Isabela. E lamento muito por isso. Você não merecia estar no meio desse caos.

Houve um momento de silêncio. Eu vi a sinceridade nos olhos dele e, pela primeira vez, comecei a acreditar que talvez pudéssemos superar aquilo juntos.

— Só prometa que, da próxima vez que pensar em fazer alguma brincadeira pública, vai me avisar antes, certo?

Ele sorriu.

— Prometo.

— Agora, vamos comer antes que esfriar.

E, pela primeira vez em dias, me permiti relaxar e esquecer a loucura que minha vida havia se tornado. Pelo menos por um momento.

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