Capítulo 06

Eu estava terminando de revisar alguns relatórios no meu tablet, sentada no ambulatório do estádio, quando recebi a mensagem de Reymond: "Nicholas está treinando escondido na quadra. Dá um jeito nisso. Por favor.

Soltei um suspiro pesado e fechei os olhos por um momento, reunindo toda a paciência que ainda restava. É claro que ele faria isso. Nicholas Attister não sabia o significado da palavra "descanso". Ele era um pacote completo de teimosia, orgulho e imprudência, e, aparentemente, achava que sabia mais sobre lesões do que uma fisioterapeuta formada.

Deixei o tablet de lado e fui até a quadra. Quando cheguei, lá estava ele, no centro do ginásio vazio, com a bola de vôlei em mãos, usando aquela maldita bota ortopédica como se fosse um acessório qualquer. Ele saltou para um ataque improvisado e, ao aterrissar, fez uma careta que não conseguiu disfarçar.

— Inacreditável. — murmurei antes de cruzar os braços e elevar a voz. — Attister, o que diabos você está fazendo?

Ele se virou, visivelmente surpreso ao me ver.

— Estou treinando, o que parece? — respondeu com a maior cara de pau do mundo, limpando o suor da testa com o braço.

— Treinando? — Dei uma risada sarcástica, avançando em sua direção. — Você está lesionado! Precisa de repouso, não de mais impacto no calcanhar. Acha que isso aqui é algum tipo de brincadeira?

— Eu sei o que estou fazendo, Calloway. — Ele me encarou com aquele típico ar de superioridade que me irritava profundamente. — Não preciso de ninguém me dizendo como cuidar do meu próprio corpo.

— Sério? Porque, pelo que estou vendo, você precisa sim. — Cruzei os braços e o encarei com firmeza. — Escuta, Nicholas, eu não estou aqui pra ser sua babá. Meu trabalho é te deixar apto para jogar, não te vigiar como uma criança desobediente.

Ele riu, mas foi um riso curto e sem humor.

— E eu não pedi pra você estar aqui, sabia? Se Reymond decidiu te contratar, ótimo, mas não acha que está se levando a sério demais?

— Não, Nicholas, mas quem não está se levando a sério demais é você. — Dei um passo à frente, apontando para ele. — Se continuar ignorando o que eu digo e forçar essa lesão, vai acabar piorando a situação. E sabe o que vai acontecer? Você vai passar mais tempo fora das quadras, e quem vai sofrer com isso não sou eu.

Ele apertou os lábios, o maxilar tenso, mas não disse nada. Achei que fosse ceder, mas, como sempre, Nicholas tinha que ter a última palavra.

— Eu sou o capitão do time, Calloway. Não posso simplesmente ficar parado.

— E você também não vai ser capitão de merda nenhuma se não souber respeitar o próprio corpo. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Agora, ou você segue o plano de recuperação que eu tracei ou arrisca jogar sua carreira no lixo. A escolha é sua.

Ele me encarou por um longo momento, os olhos queimando de frustração. Finalmente, soltou um suspiro pesado e largou a bola no chão.

— Tá bom. — disse, quase como um resmungo.

— Ótimo. — retruquei, girando nos calcanhares e começando a sair da quadra. — E, Nicholas?

— O quê? — perguntou, com a voz ainda carregada de irritação.

— Da próxima vez que te pegar treinando escondido, eu mesma vou te colocar de castigo. — E, com isso, saí dali, deixando-o sozinho com seu orgulho ferido.

Eu podia sentir a tensão no ar, mas, no fundo, sabia que ele precisava ouvir aquilo. Nicholas Attister era um caso difícil, mas, se ele achava que eu ia desistir, estava muito enganado.

Ele nunca gostou de mim, e a recíproca sempre foi verdadeira. Por mais que Jade tenha tentado inúmeras vezes nos aproximar, seus esforços nunca foram suficientes para quebrar a barreira que sempre existiu entre nós.

Era como se houvesse uma linha invisível que nos mantinha afastados, por mais que estivéssemos no mesmo ambiente. Jade acreditava que, com o tempo, as coisas mudariam, mas a verdade é que nem ele fazia questão de se aproximar, nem eu me esforçava para mudar a situação.

Havia algo de incômodo na maneira como ele olhava para mim, sempre com um ar de superioridade ou talvez desdém. E, para ser justa, eu também nunca tentei disfarçar o desconforto que sua presença me causava. Éramos como água e óleo: nunca misturávamos, não importava o quanto Jade mexesse.

.........

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***