Capítulo 05

Aquela bota ortopédica não ajudava em absolutamente nada, e eu estava odiando cada segundo que precisava usá-la. Para piorar, Christopher fazia questão de tirar sarro da minha cara toda vez que me via com aquele troço.

— Ei, Capitão Manquitola, como vai o pé de cristal? — Christopher provocou, encostado na parede do vestiário com aquele sorriso de deboche que só ele conseguia fazer tão bem.

Revirei os olhos, já sem paciência.

— Vai muito bem, obrigado. Quer tentar sua sorte e quebrar o seu também? Assim a gente combina um look de botas ortopédicas.

Ele riu, divertido com minha resposta.

— Relaxa, cara. Isso é só uma fase. Logo você volta a para quadra e a carregar o time nas costas. Até lá, aproveita pra dar uma descansada.

— Descansada? — questionei, apontando para a pilha de relatórios e vídeos de jogos que Reymond insistia em me fazer analisar enquanto eu estava fora de ação. — Isso aqui é sua ideia de descanso? Eu preferia estar no treino.

Christopher deu de ombros.

— Bem, pelo menos você tem a fisioterapeuta nova pra te ajudar. Ouvi dizer que ela é fera no que faz. Além de ser, como posso dizer... bem interessante.

— Cala a boca, Christopher. — Minha voz saiu mais irritada do que eu pretendia, o que só fez o sorriso dele se alargar.

— Ah, então é isso. Já percebeu, né? — Ele cruzou os braços, parecendo se divertir com a situação. — Confessa, Nicholas. A presença da Calloway tá mexendo contigo.

— Tá viajando. — Respondi seco, ignorando o calor que subiu pelo meu rosto.

Christopher apenas deu um sorriso de quem sabia mais do que estava dizendo.

— Claro, Capitão. Se você diz.

Ele saiu do vestiário assobiando, me deixando sozinho com meus pensamentos e a incômoda sensação de que, talvez, ele não estivesse tão errado assim.

...ᯓᡣ𐭩...

Sai pra jantar com minha irmã hoje.Enquanto esperávamos o pedido, Jade puxou o celular e começou a rolar o feed das redes sociais, algo que ela fazia quase de forma automática. O restaurante estava cheio, como sempre, mas ainda assim tinha aquela atmosfera acolhedora que o tornava nosso favorito.

— Então, Nicholas... — Jade quebrou o silêncio. — Vai me contar o que realmente acha da Isabela trabalhando com você?

Eu revirei os olhos e me recostei na cadeira. Claro que esse assunto ia surgir.

— Já te disse, Jade. É estranho. Não esperava que ela fosse aparecer no meu ambiente de trabalho, e agora tenho que lidar com isso.

Ela finalmente desviou os olhos do celular e me encarou com aquele olhar perspicaz que só minha irmã sabia dar.

— Estranho ou desconfortável porque você ainda tem aquela implicância infantil com ela? — provocou, arqueando uma sobrancelha.

— Não é implicância, Jade. — rebati. — Ela simplesmente tem um jeito... irritante. Sempre teve. Além disso, ela não gosta de mim, e o sentimento é recíproco.

— Ah, por favor, Nicholas. — Jade riu, balançando a cabeça. — Vocês dois agem como se ainda tivessem 15 anos. Já parou pra pensar que talvez o problema esteja em você? Talvez a Isabela seja irritante porque você é insuportável com ela.

Eu bufei, tentando ignorar o comentário. Mas, no fundo, sabia que Jade adorava me cutucar com essas coisas. Antes que eu pudesse responder, nosso jantar chegou, e o cheiro do paillard imediatamente me distraiu.

— Vamos mudar de assunto? — perguntei, cortando um pedaço da carne. — Estou aqui para comer e relaxar, não para discutir sobre a sua melhor amiga.

— Tudo bem, mas só por hoje. — ela disse, piscando pra mim antes de se concentrar no prato.

Ainda assim, enquanto jantávamos, não consegui evitar que minha mente voltasse para Isabela e o jeito como ela parecia dominar o ambiente sem nem tentar. Irritante ou não, ela tinha uma presença que era difícil de ignorar.

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