Capítulo 19

Francielle…

Levei apenas um dia para resolver todas as pendências do meu escritório e também fomos dar o nosso depoimento no departamento de polícia.

Minha mãe queria nos acompanhar ao Brasil, mas será investigada por seu depoimento não fazer sentido.

Gisele está em surto, porque não quer ir, mas meu pai a obrigou, enquanto eu não vejo a hora de conhecer a mulher que nos deu a vida, a mulher que sofreu todos esses anos acreditando estarmos mortas. Só de pensar, meu coração bate acelerado, também estou ansiosa para conhecer a nossa outra irmã.

De malas prontas, seguimos para o aeroporto de manhãzinha. 

Gisele não quis adiar o seu casamento, disse que só vai por obrigação, porque nosso pai a obrigou, mas que volta assim que tudo isso terminar.

“Às vezes acho que a minha irmã não tem coração!”

Entrei naquele jatinho, com meu coração batendo em ritmo acelerado e ansiedade a mil. Sentei longe de Gisele, que estava com a cara amarrada, principalmente por saber que Davi nos acompanharia.

Marcus e Lia vão nos encontrar no aeroporto. Depois daquela conversa, eles embarcaram no outro dia para o Brasil.

Sentei ao lado do meu pai, ele segurou a minha mão e pousou um beijo.

— Ansiosa, filha?

— Muito! Será que ela vai gostar de mim?

Gisele revira os olhos e fixa seu olhar do lado de fora da janela.

— Claro que vai, meu amor! Vocês duas são o orgulho de qualquer pai e mãe!

Meu pai tentava disfarçar a preocupação que também o acompanha. Ele olhou para mim e sorriu, tentando transmitir segurança.

O jatinho começou a ganhar altitude e as nuvens começaram a se espalhar pela janela. A visão das montanhas e do mar abaixo era deslumbrante e fez o meu coração acelerar ainda mais.

— Por que sinto que a nossa vida nunca mais será a mesma, pai? E não me refiro apenas à nossa família, sabe? Meu coração me diz que tem algo no Brasil, não apenas minha família…

— Por favor, Francielle! Quando ver aquele povo pobre vai desejar voltar na mesma hora para casa! — diz Gisele com sarcasmo.

— Não sou como você, Gisele! Que pensa apenas em bens materiais…

— Vamos parar imediatamente! — repreende papai. — Sempre vamos nos lembrar de que somos uma família agora, independente do que aconteça! Nunca se esqueçam disso…

Sorri e voltei a minha atenção para a janela.

Olhei pela janela e admirava as águas azul-turquesa abaixo de nós. Era lindo e, ao mesmo tempo, assustador, pensar na nova vida que nos aguardava no Brasil. O país só conheço através das histórias contadas e por fotos e agora tudo era uma realidade palpável.

Fico indignada com a falta de humanismo e indiferença de Gisele. Não sei se está apenas fingindo, ou se é assim mesmo, sem coração. 

Foram horas intermináveis de voo, não consegui dormir nenhum minuto sequer.

Quando finalmente anunciaram estarmos prestes a pousar em solo brasileiro, o meu coração parecia querer saltar do peito.

— Está pronta, meu amor? — pergunta papai.

— Sim! 

— Estamos quase lá! — diz e assenti com a cabeça. — Não se esqueça que sempre estarei aqui, somos uma família!

Com essas palavras ecoando em minha mente, respirei fundo e fechei os olhos por um momento. 

Estamos prestes a dar um passo importante em nossas vidas, conhecer nossa mãe biológica e estava ciente de que essa seria uma nova página em nossa história. Só não conseguia entender esse sentimento de que a minha daria uma volta de 360° graus.

Quando o jatinho tocou o solo brasileiro e começou a desacelerar na pista do aeroporto, abri os olhos novamente. As emoções estavam à flor da pele, estava pronta para enfrentar tudo o que viria, principalmente com o apoio do meu pai que segurava a minha mão firmemente.

Gisele não parava de resmungar, meu pai a olhava em repreensão, no fundo, acredito que ela esteja abalada.

Descemos na pista de voo e assim que entramos no aeroporto, Marcus e Lia estavam a nossa espera. Confesso que ver ela aqui me trouxe um certo alívio e aqueceu o meu coração. 

Fomos de encontro uma a outra e nós abraçamos forte.

— Que bom que está aqui! — diz ela me apertando mais em seus braços.

Se minha mãe for como Lia, ficarei muito feliz, pois ela nos traz conforto. Não sei explicar, acho que é o sangue falando mais alto.

Meu pai e Gisele vieram logo atrás de nós, cumprimentei Marcus e fiz as apresentações.

Lia olhou de maneira estranha para o meu pai, mas o tratou muito bem.

Por mais que Gisele lutasse, o sangue falou mais alto e seus olhos embargaram assim que Lia a puxou para um abraço. No entanto, ela se segurou para não chorar.

No fundo, ela se sentiu em casa, sim.

Logo ela se recompôs e voltou aquela postura grosseira dela.

— Quero ir logo para o hotel, estou exausta! 

— Fazemos questão de que fiquem hospedados em nossa casa! — diz Marcus.

Meu pai fica sem jeito, mas acaba aceitando, está fazendo tudo por nós, isso, sim, é um pai de verdade. 

Seguimos para a mansão de Marcus, o lugar é enorme e luxuosa do jeito que Gisele gosta.

No caminho, Lia disse que a nossa mãe não quis vir morar com ela e a nossa irmã ficou morando no morro com ela.

— Pelo visto, nossa irmã é pior que você, Fran! — diz com sarcasmo.

— Tatiane é uma mulher inteligente, doce e determinada! Não é uma pessoa fútil, sem amor no coração!

Lia não mede as palavras e Gisele não respondeu, viu que a nossa prima é sincera.

Ela nos deixou nos nossos respectivos quartos, o meu foi o último. 

— Fique à vontade, prima! A casa é sua… — diz Lia.

— Muito obrigada, Lia! Obrigada por tudo e me desculpe pela Gisele!

— Que isso, sei muito bem lidar com patricinhas mimadas como ela! Só espero que ela não maltrate a tia Malú, porque aí o negócio é mais em baixo!

— Quando vamos conhecê-la? Estou ansiosa…

— Amanhã vou levar vocês até o morro! Melhor descansarem primeiro, porque o dia será cheio de emoções!

Ela deixa um beijo em minha testa e saio do quarto. 

Tomei um banho, deitei-me na cama e esperei o sono chegar.

Não vejo a hora de conhecer a minha mãe biológica. 

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