Capítulo 15

Francielle…

A medida que eu lia cada palavra escrita por Lia, fazia o meu coração doer e as lágrimas banhavam meu rosto.

Ali vi a foto da minha mãe biológica, da minha irmã e chorei compulsivamente, tocando seu lindo rosto.

— M... minha mãe?

— Sim! Tia Malú é a melhor pessoa do mundo todo! Uma pessoa doce, de bom coração… ela jamais abandonaria vocês! Não sei o que te disseram, mas essa é a verdade!

— A minha cabeça… está rodando com tantas coisas… — suspiro pesado.

Toco a foto de minha irmã, Tatiane, e novamente da minha mãe.

Lia me abraçou forte e correspondi ao seu abraço, com meu coração coberto por inúmeras e indescritíveis emoções.

Não consigo parar de chorar com tamanha emoção, mas também vem a confusão em minha mente e as perguntas se realmente meus pais estão envolvidos nesse caso.

— Como pessoas da lei, sabe que não podemos ocultar isso e que eles serão investigados? — pergunta Leonardo.

Concordei com a cabeça, secando as lágrimas que rolavam por meu rosto.

— Por mais que os ame muito, sei que temos que fazer o que é certo! Também quero muito saber a verdade…

Quando estava mais calma, eles deixaram eu e Lia sozinhas, ela me falava um pouco da minha mãe e de Tatiane. Ela fez eu me sentir muito bem em sua companhia, é uma mulher sincera, forte e determinada. Rimos com alguns fatos que contou sobre suas travessuras de crianças e em como a minha mãe era doce mesmo brava.

Lia foi sincera em dizer que minha mãe e irmã moram num lugar chamado morro do Vidigal, é uma favela. Mostrou-me algumas fotos e confesso que fiquei impressionada, é um lugar simples, mas muito bonito.

Fui criada numa família milionária, mas isso nunca me fez menosprezar ninguém, muito menos me sentir superior. Meu pai me ensinou que ninguém é melhor do que ninguém e que no fim de nossas vidas, iremos todos para o mesmo lugar.

Jantei na companhia deles, ainda me sentindo um pouco mal por meus pais adotivos e pensando em como contaria isso para Gisele. Também fui sincera em dizer à Lia que Gisele não é a pessoa mais fácil desse mundo e ri quando comentou que não existem famílias perfeitas e sempre tem a ovelha negra da família.

Após o jantar, agradeci a cada um deles, especialmente Leonardo e Victória por toda a ajuda, me despedi de todos e segui para casa. Pedi para um dos seguranças ir dirigindo, pois não estava com cabeça para dirigir.

No caminho, sentei-me no banco de trás, encostei a cabeça no vidro e fechei os olhos, relembrando alguns momentos em família. Piqueniques na fazenda, visitas em parques de diversão, momentos em datas especiais e as minhas longas conversas com papai sobre tudo.

Não dá para acreditar que mentirão para nós a vida toda!

Presa em meus pensamentos, nem havia me dado conta de que havíamos chegado e o segurança me chamou, tirando-me de meus devaneios.

Entro em casa, com uma cópia do dossiê, em mãos, uma folha com tudo o que Lia escreveu, só não tinha as fotos.

Assim que entro em casa, meus pais estão na sala com Luidi e Gisele, falando da mansão que ele comprou.

Gisele vem ao meu encontro e me puxa para perto deles:

— Vem, Fran, quero te mostrar a mansão que eu e Luidi iremos morar!

Sento-me ao seu lado e ela me mostra as fotos pelo iPad.

— Linda! — digo entre os dentes.

— Está tudo bem, filha? — pergunta papai.

— Não, pai! Não está nada bem e não sei como conseguem isso! — digo, me colocando de pé. — Como conseguem ficar aqui, assim… Como se dada estivesse acontecendo?

— Do que está falando? — pergunta ele espantado.

— Estou falando da briga com a mamãe sobre as pulseiras, do atentado contra a nossa vida, o afogamento da Gisele e tantas coisas estranhas que vem acontecendo nos últimos dias!

Minha mãe se coloca de pé e se aproxima de mim.

— Francielle, pare com isso, minha filha! Acho que teremos que te levar num psiquiatra, está agindo de maneira estranha, falando coisas que não existem e...

— Espera! Quer me fazer passar por louca agora? É isso mesmo que estou ouvindo?

— Claro que não, só que…

— CHEGA! Eu cansei…

Jogo a folha em cima da mesinha de centro, meu pai pega a folha e lê tudo atentamente. Na medida que lia aquele papel, seu olhar muda e fica obscuro.

— O que é isso?

— Essa é a verdade por detrás da minha adoção e quero saber a versão de vocês!

— Nossa, Fran, de novo isso? Vai fazer a nossa mãe passar mal novamente!

— Não estou aqui para discutir, mas sim para ouvir a verdade!

Meu pai se levanta e olha para a minha mãe em busca de respostas:

— O que significa isso, Cassandra?

Ela pega o papel e começa a ler também e já faz seu drama fingindo que está passando mal e Gisele corre para socorrê-la.

— Esse seu teatro não vai funcionar quando estiver diante do delegado, do juiz… — digo.

— Como é? Você denunciou a sua própria mãe? — pergunta a mulher espantada.

— Cansei da omissão de vocês, diante da nossa adoção! Cansei!

Cassandra continua fazendo drama, Gisele a socorre e meu pai anda de um lado para outro, parecendo tentar assimilar tudo o que descobri. De repente, ele grita e exige que a minha mãe conte toda a verdade, caso contrário, sairia de casa.

— Não pode fazer isso comigo… eu te amo e...

— Não só posso como farei, se não contar a verdade!

— Juro que não tenho nada a ver com isso! Adotei elas… pelo menos foi assim que a mulher me falou! Você, mais do que ninguém, sabia o quanto eu estava sofrendo com a perda do nosso primeiro filho e depois soube que nunca mais poderia ser mãe, então fui até o orfanato! Lá, não me deram muitas chances, disseram que havia muitas pessoas na fila de espera, algumas há anos esperando! Entrei em desespero, fiquei com muito medo de te perder!

— E depois? O que fez depois? — pergunta ele entre os dentes.

Meu pai estava com um semblante indecifrável e em seu olhar havia uma mistura de ódio, decepção e medo.

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